Publicado 30/10/2024 08:54
Rio - Familiares, amigos e ativistas dos direitos humanos realizaram, nesta quarta-feira (30), um ato em frente ao Tribunal de Justiça do Rio, no Centro, pelas mortes de Marielle Franco e Anderson Gomes. A manifestação aconteceu poucas horas antes do julgamento dos réus confessos Élcio de Queiroz e Ronnie Lessa, no 4° Tribunal do Júri. Parentes da vereadora e a mulher do motorista foram recebidos aos gritos de "justiça" e de "Marielle presente. Hoje e sempre" pelos manifestantes, que seguravam placas, cartazes e faixas cobrando a punição dos réus, além de girassóis.
PublicidadeMuito abaladas, as famílias disseram que o julgamento é reviver os assassinatos de Marielle e Anderson, que ocorreram há pouco mais de seis anos. Mãe da vereadora, Marinete Silva declarou ter a "sensação de estar vivendo aquela dor, mas hoje a gente vai tentar vencer, depois de tanto tempo". Segundo ela, as mortes da parlamentar e do motorista não podem ser normalizadas em nenhuma democracia e, mais do que para os familiares, a condenação representa uma resposta para toda a sociedade.
"Não é normal em lugar nenhum, em democracia nenhuma, fazer o que fizeram com a minha filha, o que fizeram com tantos outros filhos (...) É importante, sim, que esses homens saiam daqui hoje condenados, que não balizem a vida da minha filha e de nenhum desse homens que foram ceifados. Eles precisam, sim, ser condenados, para a gente dar uma resposta para o Rio de Janeiro e para o Brasil em relação à Marielle e o Anderson", afirmou Marinete.
Para o pai da parlamentar, Antônio Francisco da Silva Neto, a condenação dos réus é também a "possibilidade de mudarmos a cara da justiça no Rio de Janeiro e no Brasil" e defendeu a "condenação exemplar" de Queiroz e Lessa, "para que passe a mensagem de que eles não são deuses, eles não podem tirar a vida de nenhum ser humano e ficar impune", declarou.
A viúva de Anderson Gomes, Agatha Arnaus, não conteve as lágrimas ao dizer que a dor das famílias não vai terminar com as condenações dos ex-PMs. Segundo ela, ainda há muito luta, para conseguir as condenações do ex-chefe da Polícia Civil, o delegado Rivaldo Barbosa, de Domingos Brazão, ex-conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro (TCE-RJ), e do deputado federal Chiquinho Brazão (Sem partido-RJ) apontados como mandantes do crime.
"A gente sente essa dor até hoje e não vai passar com as condenações deles, sempre vai ter esse espaço. Mas, hoje eu espero que eles paguem pelo que eles fizeram com a gente. Espero que a condenação seja exemplar, à altura do que eles fizeram, porque não termina hoje, ainda tem muito para caminhar, tem os mandantes, não termina aqui, não vai terminar hoje. Todos precisam pagar. É por isso que a gente está aqui, de pé, desde 2018, e a gente não vai parar".
"A gente sente essa dor até hoje e não vai passar com as condenações deles, sempre vai ter esse espaço. Mas, hoje eu espero que eles paguem pelo que eles fizeram com a gente. Espero que a condenação seja exemplar, à altura do que eles fizeram, porque não termina hoje, ainda tem muito para caminhar, tem os mandantes, não termina aqui, não vai terminar hoje. Todos precisam pagar. É por isso que a gente está aqui, de pé, desde 2018, e a gente não vai parar".
Também muito emocionada, a filha de Marielle, Luyara Franco, declarou que a justiça seria feita se a vereadora e o motorista estivessem vivos. A jovem relembrou a trajetória da mãe, eleita no Rio com mais de 46 mil votos e, assim como avós, reforçou que as mortes da vereadora e do motoristas não podem ficar sem punição, para que o caso não se repita.
"Esse julgamento é a esperança para outras vítimas desse Estado que banaliza a violência que a gente vive", comentou. "É muito difícil, mas a gente vai fazer por ela e pelo Anderson o que ela vinha fazendo. Esse é só o primeiro passo, a gente tem a responsabilização, a parte da não repetição. Ainda hoje, várias parlamentares são ameaçadas em seus cargos de liderança e a gente não pode deixar isso acontecer. Hoje é, realmente, um dia muito difícil e muito importante", completou.
"Esse julgamento é a esperança para outras vítimas desse Estado que banaliza a violência que a gente vive", comentou. "É muito difícil, mas a gente vai fazer por ela e pelo Anderson o que ela vinha fazendo. Esse é só o primeiro passo, a gente tem a responsabilização, a parte da não repetição. Ainda hoje, várias parlamentares são ameaçadas em seus cargos de liderança e a gente não pode deixar isso acontecer. Hoje é, realmente, um dia muito difícil e muito importante", completou.
A irmã da parlamentar, ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, disse que as famílias vêm se mantendo firme ao longo dos últimos anos, enquanto aguardava a responsabilização dos acusados, e que o julgamento dos réus dê força para outras famílias vítimas da violência.
"O maior legado dela era isso aqui, as pessoas que entendem, que têm lutado lado a lado conosco. A gente está um pouco sem palavras, um pouco mexido, porque é reviver aquele momento, encontrar o corpo da Marielle, reconhecer o corpo no IML. A gente não deseja isso para ninguém. Se a gente olhar para trás e ver todas as pessoas que estão com a gente, as mães, as filhas, as irmãs, as esposas, que também passaram por isso e ainda passam, o simbolismo da palavra justiça vai muito além do que vai acontecer", disse a ministra.
"A gente espera que seja um passo que fique de força, que fiquei de exemplo, num lugar onde não pode ser normal banalizar assassinar uma mulher com cinco tiros na cabeça. Não é normal a gente estar há quase sete anos esperando, não é normal a gente seguir vendo corpos sendo tombados com tiros na cabeça, na volta do trabalho, dormindo dentro do ônibus".
"O maior legado dela era isso aqui, as pessoas que entendem, que têm lutado lado a lado conosco. A gente está um pouco sem palavras, um pouco mexido, porque é reviver aquele momento, encontrar o corpo da Marielle, reconhecer o corpo no IML. A gente não deseja isso para ninguém. Se a gente olhar para trás e ver todas as pessoas que estão com a gente, as mães, as filhas, as irmãs, as esposas, que também passaram por isso e ainda passam, o simbolismo da palavra justiça vai muito além do que vai acontecer", disse a ministra.
"A gente espera que seja um passo que fique de força, que fiquei de exemplo, num lugar onde não pode ser normal banalizar assassinar uma mulher com cinco tiros na cabeça. Não é normal a gente estar há quase sete anos esperando, não é normal a gente seguir vendo corpos sendo tombados com tiros na cabeça, na volta do trabalho, dormindo dentro do ônibus".
Lígia Batista, diretora executiva do Instituto Marielle Franco, ressaltou que o julgamento dos acusados do assassinato de Marielle e Anderson representa uma oportunidade crucial para iniciar o processo de justiça por suas mortes, mas que seu significado vai além disso. Segundo ela, "essa justiça não é só fazer justiça por essas famílias, mas também significa lutar para que defensores de direitos humanos continuem atuando de maneira segura e continuem caminhando para transformar a nossa sociedade, como Marielle fez um dia."
Para Lígia, buscar justiça é também reafirmar a importância de uma democracia viva e a necessidade de uma resposta firme do Estado contra os responsáveis. Ela destacou que essa luta é, ainda, um combate à violência política de gênero e raça, uma realidade que não se restringiu às últimas eleições, mas que permeia a atuação de mulheres negras na política brasileira há décadas.
Durante a audiência, é esperado o depoimento de nove testemunhas, dentre eles o da assessora da parlamentar, Fernanda Chaves, única sobrevivente. Duas das testemunhas foram escaladas pela defesa de Ronnie Lessa. São eles: o agente federal Marcelo Pasqualetti e o delegado Guilhermo de Paula Machado Catramby, da Polícia Federal.
No júri popular, os ex-PMs serão julgados pelo duplo homicídio triplamente qualificado, por motivo torpe, emboscada e recurso que dificultou a defesa da vítima, e pela tentativa de homicídio contra Fernanda. Durante os dias de julgamento, os jurados ficam incomunicáveis e dormem em dependências restritas TJRJ. Para o Tribunal do Júri, foram selecionadas 21 pessoas comuns. Deste grupo, sete homens foram sorteados na hora para compor, de fato, o júri.
De acordo com o assassino confesso, o crime teria sido encomendado pelos irmãos Brazão, que buscavam enfraquecer a atuação da vereadora contra loteamentos clandestinos na Zona Oeste, onde tinham interesses econômicos. Domingos e Chiquinho Brazão estão presos desde o fim de março após uma operação da Polícia Federal. Eles respondem pelos crimes de homicídio e organização criminosa e permanecem detidos por ordem do ministro Alexandre de Moraes, relator do caso no Supremo Tribunal Federal (STF).
Relembre o caso
A vereadora Marielle Franco foi assassinada na noite de 14 de março de 2018, no bairro do Estácio, Região Central do Rio. A parlamentar, que estava acompanhada do motorista Anderson Gomes, de 39 anos, e da assessora Fernanda Chaves, de 43, voltavam de um evento de mulheres negras na Rua dos Inválidos, na Lapa.
O carro onde a vereadora estava passava pela Rua Joaquim Palhares, próximo a Praça da Bandeira, quando um carro, modelo Chevrolet Cobalt, na cor prata, emparelhou com o veículo. Em seguida, foram feitos nove disparos. Quatro deles atingiram Marielle, sendo três na cabeça e um no pescoço. Anderson foi atingido por três disparos nas costas, ambos morreram dentro do carro. A assessora ficou ferida por estilhaços.
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