Publicado 10/11/2024 08:10
Rio - A mãe de Ágatha Félix publicou um forte desabafo nas redes sociais, em que descreveu o julgamento do policial militar acusado do disparo que matou a menina de "dia mais massacrante" de sua vida. O cabo Rodrigo José Matos Soares era réu pela morte da menina, mas foi absolvido pelo júri popular, que teve início na sexta-feira (8) e se estendeu pela madrugada de sábado (9). A defesa da família e o Ministério Público do Rio (MPRJ) vão recorrer da decisão.
PublicidadeNo texto, Vanessa Sales escreveu sobre o que ela e a família sentiram ao longo das mais de 10 horas de julgamento e declarou ter revivido o pior dia de sua vida. A mãe da menina foi a primeira testemunha de acusação a ser ouvida no Tribunal do Júri e, em seu depoimento emocionado, reforçou que a comunidade tinha clima tranquilo quando o policial fez os disparos que atingiram a criança e nenhum militar que estava no local ajudou a socorrer a filha.
"08 de novembro de 2024, o dia mais massacrante da minha vida e da minha família, foram 10 horas que tivemos que submeter e reviver o pior dia da minha vida. No final a sentença: Ele atirou sim, porém o absolvemos. (Júri popular - 4X3). Um cenário de muita tristeza, indignação, mentiras e de revolta para mim, família e todos aqueles que choraram e ainda choram conosco nesses 5 anos de espera. Para mim ele já está condenado desde do dia 20 de setembro de 2019 e isso nunca vai mudar, porém para os homens eles os absolveram", diz ela na publicação.
O júri popular foi composto por cinco homens e duas mulheres. Na votação, eles confirmaram que o PM foi autor do tiro que matou Ágatha, após atirar contra duas pessoas em uma motocicleta, o disparo ricochetear em um poste e atingir a vítima, provocando sua morte. Mas, entenderam que não houve dolo, porque Soares não tinha a intenção de matar a criança. Os jurados absolveram o policial e a sentença foi lida pelo juiz Cariel Bezerra Patriota. O militar já respondia ao processo em liberdade.
Ainda no post, Vanessa declara que vai recorrer da decisão e disse ainda acreditar que a justiça será feita. "Como quem eu creio é maior que tudo que há, não desistiremos e recorreremos. Não posso deixar de acreditar que é o tempo de Deus e que há um propósito maior. A força do injustiçado é maior do que um absolvido. Conversei com Deus e como ele sempre esteve e estará comigo, irei me reerguer. Reafirmo que a vontade do Senhor é boa, perfeita e agradável, e assim eu vou vencer".
Vanessa ainda reafirmou sua esperança por meio de passagens bíblicas. "Em Colossenses 3:25, está escrito que quem cometer injustiça, receberá injustiça de volta, sem favoritismo. Em Salmos 5:4-6, está escrito que o Senhor não gosta de injustiça e não tolera o mal, por menor que seja", completou. Na publicação, diversos comentários demostram indignação com a absolvição do policial militar e prestam solidariedade à mãe de Ágatha.
"Nenhuma mãe merece passar por isso, mas você é uma fortaleza e Deus te colocará no colo, abençoará e guiará os seus passos. Fique forte!", disse um comentário. "Toda solidariedade, carinho e dor compartilhada! Indignada com decisão de 4 jurados. Houve tiro e morte, houve crime! Que seja feita justiça em instância superior", declarou uma pessoa. "Sinto muitíssimo o que está passando. Não há dor maior do que a sua. É inconcebível o que ocorreu. Que Deus te mantenha erguida", afirmou outra. "Meu coração se entristeceu demais com isso. Mas Deus é grande e vai te erguer todos os dias nesse mundo de aflições. É um absurdo a injustiça nesse mundo cruel", lamentou mais uma.
A decisão do júri também provocou revolta em ativistas e instituições pelos direitos humanos e políticos. Entre eles, o advogado da família e membro da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Rodrigo Mondego. "Estou com um sentimento de tristeza e nojo dessa sociedade que aceita mansamente a morte de crianças". Assistente de acusação no julgamento, ele ainda se disse envergonhado. "Tenho vergonha de fazer parte dessa sociedade asquerosa que respalda violência do Estado ao ponto de absolver quem é responsável pela morte de uma criança de 8 anos".
Ágatha Félix morreu em 20 de setembro de 2019, baleada nas costas por um tiro de fuzil, no Morro da Fazendinha, no Complexo do Alemão, Zona Norte. A menina voltava de um passeio no shopping com a mãe e estava dentro de uma kombi quando foi atingida. O PM Rodrigo José Matos Soares alegou que atirou contra dois homens em uma motocicleta, achando que se tratavam de criminosos, mas o disparo acertou o veículo onde a criança estava. O inquérito da Polícia Civil confirmou que o projétil partiu da arma dele. O julgamento do cabo ocorreu após cinco anos do crime.
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