Marcas de tiro após operação na RocinhaReprodução
Publicado 18/12/2024 11:30 | Atualizado 18/12/2024 12:13
Rio - Marcas de tiro nas paredes, aparelhos eletrônicos quebrados e furtados, casas invadidas, comércios alvejados e motocicletas destruídas. Assim que moradores da Rocinha, na Zona Sul do Rio, descrevem o dia seguinte após o intenso tiroteio durante operação que deixou um suspeito morto, um homem ferido e dois criminosos presos na manhã desta terça-feira (17). A ação mirava traficantes do Ceará e Goiás.
Publicidade


Segundo o presidente do Instituto Missão Rocinha, William de Oliveira, dezenas de moradores foram prejudicados ao fim do confronto.

"Foram muitas casas que tiveram suas portas arrebentadas, muitos moradores reclamaram que seus pertences sumiram, muitos policiais sem as câmeras e isso é uma tristeza porque toda vez essa situação não muda. Os agentes de segurança pública sabem qual é o seu papel, mas devemos olhar para essas famílias que ficaram no prejuízo, foram comércios invadidos e quebrados, casas também, além de televisão quebradas", disse.

Dentre eles, o motociclista Flávio Souza dos Santos Junior, 27 anos, teve seu veículo de trabalho destruído. "Foi bem de manhã cedo, eu estava me arrumando para sair para trabalhar e fiquei preso em casa. Aí quando as coisas aliviaram e a gente pôde sair de casa, eu desci para encontrar minha moto e ela estava destruída completamente. Me bateu um desespero, porque é a moto que uso para trabalhar, fiquei sem saber o que fazer", lamentou.

Ainda de acordo com Flávio, a moto foi atingida por disparos em vários lugares e o prejuízo estimado é cerca de R$ 5 mil. Casado e com dois filhos, ele não sabe como vai conseguir arcar com as despesas de fim de ano.

"Um tiro pegou no tanque de gasolina, outro na roda da frente, na bateria, na placa, pedaleira, punho do acelerador e ainda estou torcendo para não ter atingido o motor. É só minha moto que traz um dinheiro para minha casa, além da minha esposa que trabalha e me ajuda. Eu tenho dois filhos e eu não sei o que eu faço, estou dependendo da ajuda de amigos, teve um amigo que conseguiu arrumar uma motinha para eu trabalhar por enquanto só para não ficar parado", explicou.
O morador criou uma "vaquinha online" para tentar recuperar o veículo. Quem quiser ajudar basta clicar neste link.

Outra denúncia publicada nas rede sociais mostra uma casa revirada com roupas jogadas no chão. "Quebraram minhas coisas todas, minha televisão, meu guarda-roupa, estou sem nada", disse.

Após os relatos, a Associação de Moradores da Rocinha (UPMMR) e a Federação de Favelas do Estado do Rio de Janeiro (FAFERJ) emitem uma nota de repúdio contra a operação policial.

Confira a nota na íntegra:
"Essa operação deixou 09 escolas fechadas, várias unidades de saúde e trabalhadores impossibilitados de cumprir suas atividades. A ação teve início entre 4h e 5h da manhã. Muitos moradores relataram irregularidades, são várias denúncias de abusos, nossa orientação foi dos moradores registrarem boletins de ocorrência na delegacia. Diversos moradores denunciaram a invasão de suas casas, dezenas de portas arrombadas, vários furtos de pertence em sua residência, evidenciando abuso por parte das autoridades. Uma família denunciou que a polícia executou um jovem com um tiro no rosto durante uma abordagem realizada no alto da favela, local onde ocorreu parte da operação.

Além disso, o departamento jurídico da UPMMR, juntamente com a direção da Associação de Moradores e da Federação, verificou que, durante a operação, havia vários agentes de segura pública sem câmeras, o que contraria as diretrizes estabelecidas pela APDF 635, conhecida como APDF das Favelas, em vigor desde 2019 por determinação do Supremo Tribunal Federal (STF).

A UPMMR e a FAFEJ solicitam medidas urgentes para evitar novos abusos, além de ações que minimizem os prejuízos causados aos empreendedores, comerciantes, e moradores da Rocinha. Exigimos também a responsabilização das autoridades públicas pelas arbitrariedades cometidas da operação e conclamamos órgãos de defesa dos direitos humanos e dos direitos civis, como Defensoria Pública, Ministério Público e OAB, a acompanharem o caso e contribuírem para ações de reparação e responsabilização dos evolvidos na operação de hoje".
Procurada, a Polícia Militar ainda não se pronunciou sobre o assunto. O espaço está aberto para manifestações.
Leia mais