Vitória Mirian, de 23 anos, registrou um boletim de ocorrência na 29ª DP (Madureira)Divulgação / Arquivo pessoal
Publicado 27/12/2024 19:17 | Atualizado 27/12/2024 19:29
Rio - Uma mulher de 23 anos denunciou ter sofrido injúria racial na Estrada do Portela, em Madureira, Zona Norte. Vitória Mirian, que trabalha em uma galeria, afirmou que foi chamada de "macaca" durante o expediente e ameaçada por uma mulher na véspera do Natal. O caso ganhou repercussão e fez com que artistas e famosos se manifestassem nas redes sociais, cobrando ações das autoridades.
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Ao DIA, Vitória disse que durante o horário de almoço na terça-feira (24), foi a uma loja da região para conversar com uma amiga. A acusada, que estava próxima, ouviu a conversa das duas e, minutos depois, deu início às agressões verbais.
"Era uma conversa de amigas, normal. A minha amiga soltou uma palavra que a gente riu. Nisso, essa mulher ouviu a palavra e também riu. Eu falei: 'Amiga, ela ouviu a palavra, que vergonha'. Aí, eu retornei para a minha loja e a mulher foi até a loja da minha amiga. Chegou lá e as funcionárias gritaram. Ela conseguiu falar com a minha amiga e disse: 'Eu tenho pai preto, então eu tenho direito de fala, você e aquela macaca ali', apontando para a loja onde eu tinha entrado", disse Vitória.
A vítima retornou à galeria onde trabalha, pois precisava bater o ponto. Na quinta-feira (26), ela soube de detalhes do ocorrido e discutiu com a acusada, que respondeu em tom de ameaça, conforme relatado no registro de ocorrência.
"Retornando para o meu trabalho, me contaram exatamente tudo. Eu fiquei chocada. Pensei que precisava dos vídeos, pois precisava correr atrás dos meus direitos. Fui até a loja para conversar, resolver de uma forma amigável, mas não consegui. Aí, teve ameaças. 'Moro no morro tal, toma cuidado'. Foi pior ainda. Falou que ia dar a vida para me tirarem da loja. Foi um dos motivos que mais me deixou abalada, porque eu tenho filho, e tenho que passar por essa situação no bairro que sou criada desde pequena. Foi constrangedor", afirmou.
Vitória explicou que sua família serviu como motivação para que ela buscasse as medidas cabíveis. "Não foi a primeira vez que sofri um racismo, mas foi a primeira vez que me impus. Fui atrás dos meus direitos porque não quero ser mais uma. Eu tenho filho e pensei nele. Pensei que se eu não correr atrás, amanhã vão fazer com ele, e eu não quero que ele tenha essa imagem de que podem me chamar disso e aquilo e eu vou relevar. Não. Temos os nossos direitos", afirmou.
O caso foi registrado na 29ª DP (Madureira). A Polícia Civil ouviu a acusada e os agentes tentam agora identificar testemunhas para prosseguir com as investigações.
O tio da jovem e coordenador do Centro de Cidadania LGBTI Capital III (Madureira), da Secretaria de Assistência Social e Direitos Humanos do Estado, Josimar Viana, lamentou o ocorrido.
"É inadmissível que, ainda no século 21, aconteça isso. Esta senhora tem que ser punida, processada e, se possível, presa. Eu estou acionando a Comissão de Direitos Humanos da Alerj, a Comissão de Direitos Humanos da OAB e todos os órgãos possíveis para punir esse preconceito e racismo", disse.
"Estamos mobilizando uma grande manifestação em Madureira, em frente à galeria onde aconteceu o crime", concluiu.
O protesto, que ainda não tem data para acontecer, deve ser realizado nos primeiros dias de 2025.
A repercussão do caso fez com que famosos se manifestassem nas redes sociais. Rainha de Bateria do Império Serrano, Quitéria Chagas cobrou ações das autoridades. "Tem que fazer ocorrência. Racismo é crime!", afirmou. Flora Cruz, filha do sambista Arlindo Cruz, também falou da situação: "Sinto muito pelo ocorrido".
Racismo em shopping da Zona Norte
O caso acontece dias após um episódio de racismo ocorrido na loja da Farm no Shopping Nova América, em Del Castilho, Zona Norte, na última quinta-feira (29). A empreendedora Jane Raquel, 33, disse que foi acusada pela gerente e o estoquista do local de furtar um item, mesmo sem nenhuma prova.
A vítima detalhou que entrou no estabelecimento acompanhada de quatro amigas. Enquanto olhava as peças em uma arara, as demais deixaram a loja, e ela deu uma leve corrida para alcançá-las.
Esse movimento, segundo Jane, chamou a atenção dos funcionários, que posteriormente a acusaram de furto.
"Todos os atos, desde o início, foram de racismo! Desde o momento em que eu entrei na loja, encostei na peça e virei o preço, ela [gerente] já me discriminou, dando a entender como se eu não tivesse condições alguma de comprar aquela peça. Então, no mesmo pé que eu entrei, eu saí da loja, não cheguei nem a rondar pela loja", disse.
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