Igreja da Candelária é patrimônio histórico e arquitetônico do Rio, tombada pelo IphanReginaldo Pimenta/Agência O Dia
Publicado 06/06/2025 14:25
Rio - Uma missa solene realizada pelo arcebispo do Rio comemorou o aniversário de 250 anos da Igreja da Candelária, nesta sexta-feira (6). O templo histórico, que fica na Praça Pio X, no Centro, recebeu centenas de fiéis, com coral, orquestra e lançamento da placa comemorativa da benção da pedra fundamental de construção. Na celebração, o Cardeal Orani João Tempesta descreveu o local como uma marco para a cidade. 
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"A Igreja da Candelária é um marco na cidade do Rio de Janeiro, ela marca esse Centro da cidade. Há 250 anos, o meu antecessor benzeu a pedra fundamental dessa nova igreja. Havia uma antiga igreja que foi estragando, diminuindo a importância, então, há 250 anos começou a construção dessa igreja, com benção da pedra fundamental", declarou o arcebispo, que se disse feliz por celebrar a data. 
"É uma alegria poder celebrar 250 anos desse início dessa bela igreja que nós temos hoje, graças a essa irmandade aqui da Candelária em conservar, cuidar (...) É um templo que com sua beleza arquitetônica, sua presença e sua localização aparece como um marco muito importante desse Centro do Rio de Janeiro", completou o cardeal. 
O museólogo Guilherme Machado, 31 anos, contou que frequenta uma igreja próxima a casa dele, mas ao menos uma vez por mês, vai à Calendária rezar ou assistir a missa. Ele lamentou que o esvaziamento do centro histórico tenha afastado fiéis, mas acredita que a exaltação do templo como um símbolo da religião, cultura e história do Rio ajudam a preservar sua importância. 
"A igreja tem uma importância muito grande culturalmente, como expressão material da fé católica. Na parte histórica, testemunhou muitos fatos e desde que foi construída sempre se destacou na paisagem urbana da cidade. Além disso, sobreviveu a abertura da Avenida Presidente Vargas, por pouco não sendo demolida, e acabou ficando em uma localização que a fez estar em destaque em vários momentos como protestos contra ditadura, pelas diretas já, várias manifestações", afirmou Guilherme. 
O museólogo, que atuou como mediador de um projeto de extensão da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio) chamado Igrejas Históricas do Rio de Janeiro, descobrindo e revelando acervos, também destacou a relevância da Candelária na parte artística, como um monumento que remete à imponência e beleza.
"É um monumento importante, a fachada barroca e o interior neoclássico, traz imponência de uma época que a fé e a beleza eram conceitos próximos, o tempo simboliza a beleza de Deus na terra. Vários artistas importantes atuaram nas obras, como o pintor Zeferino da Costa, então é fundamental cuidar e preservar desse bem tão lindo e importante para nossa história". 
Patrimônio histórico e arquitetônico do Rio e tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), a igreja recebeu uma série de eventos em celebração ao aniversário de 250 anos, como seminário com especialistas em arte, arquitetura, patrimônio, história e arquivo, palestra com o presidente do Iphan, além de atividades dedicas à música sacra com instrumentos que pertencem ao acervo da Candelária. 
A Igreja da Candelária
A Igreja de Nossa Senhora da Candelária surgiu de uma promessa feita pelo casal espanhol Antônio Martins da Palma e Leonor Gonçalves, depois que eles foram surpreendidos por uma tempestade durante uma viagem marítima e invocaram por Nossa Senhora da Candelária. Eles prometeram erguer uma capela no primeiro porto que chegassem a salvo, o que aconteceu no Rio de Janeiro. 
Em 1609, o casal mandou construir uma pequena capela no local da atual Igreja da Candelária e, mais de um século depois, em 1710, a modesta construção passou por uma grande reforma que deu início à história de 250 anos. Em 1775, as obras começaram e a pedra extraída da Pedreira da Candelária, no Morro da Nova Sintra, no bairro do Catete, foi utilizada e abençoada.

A obra se tornou tão importante que sua reinauguração aconteceu em 1811, com a igreja ainda inacabada, e contou com a presença do príncipe-regente e futuro rei de Portugal, Dom João VI. Os altares do interior da igreja foram esculpidos por Mestre Valentim, o grande artista do estilo rococó do Rio e as peças foram substituídas nas reformas posteriores.

O desenho foi inspirado em obras do barroco português, como a Igreja do Convento de Mafra e a Basílica da Estrela, na capital portuguesa, e a fachada do prédio está voltada para a Baía de Guanabara. Já a decoração interna, iniciada em 1877, seguiu o modelo neorrenascentista da Itália com revestimento de mármores italianos policromados nas paredes e colunas, se afastando dos modelos vigentes na época colonial. O desenho interior foi feito por Antônio de Paula Freitas e Heitor de Cordoville.

As pinturas murais no interior são consideradas a obra prima de João Zeferino da Costa, pintor e professor da Academia Imperial de Belas Artes, e teve ajuda de pintores como Henrique Bernardelli, Oscar Pereira da Silva e o italiano Giambattista Castagneto. O trabalho desses artistas durou anos, alcançando um aclamado êxito. Em 1901, foram instaladas as portas de bronze na entrada da igreja, obra do português Teixeira Lopes.
Chacina da Candelária
No dia 23 de julho de 1993, pouco antes da meia-noite, um táxi e um Chevette com placas cobertas parou em frente à Igreja da Candelária e os ocupantes atiraram contra dezenas de pessoas, a maioria adolescentes, que estavam dormindo nas proximidades do templo. A chacina da Candelária provocou as mortes de oito jovens. 
As investigações do crime descobriram que os autores dos disparos eram policiais militares. Além das vítimas fatais, várias crianças e adolescentes ficaram feridos. A chacina aconteceu porque, no dia anterior, os meninos jogaram pedras em um carro da Polícia Militar. As vítimas fatais tinham entre 11 e 19 anos. Um dos sobreviventes dos disparos, que era guardador de carros, foi uma peça chave nas investigações.

Em homenagem às vítimas, há em frente à igreja um pequeno monumento que relembra a chacina. Ele é constituído por uma cruz de madeira, que tem inscrito os nomes dos jovens assassinados, e uma placa de concreto.
Após 30 anos, os policiais investigados pelo crime estão soltos. Ao todo, dois PMs e um ex-policial foram condenados pelo massacre, com penas que superam os 200 anos de prisão. O agente Nelson Oliveira dos Santos cumpriu pena até sua extinção, em 2008. Já o PM Marco Aurélio Dias de Alcântara e o ex-PM Marcus Vinícius Emmanuel Borges cumpriram suas penas até receberem indultos em 2011 e 2012, respectivamente.
*Colaborou Reginaldo Pimenta
 
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