Por rodrigo.sampaio

Brasília - Mesmo com regras mais brandas do que as propostas originalmente, o número de deputados contrários à reforma da Previdência ainda continua maior do que o de favoráveis. Levantamento feito pelo jornal O Estado de S. Paulo na Câmara dos Deputados mostra que o governo Michel Temer ainda enfrenta resistência dos parlamentares, incluindo os de partidos da base aliada.

A reportagem ouviu até o fechamento desta matéria 305 deputados, 60% do total. Apenas 50 afirmaram estar dispostos a aprovar a reforma da Previdência da forma como está. Outros 77 não quiseram declarar o voto e 27 se disseram indecisos. Dos 150 votos contrários, 46% foram dados por deputados que pertencem a partidos aliados.

São necessários 308 votos a favor para aprovação do projeto na Câmara, o equivalente a três quintos dos 513 deputados. A reforma da Previdência, principal aposta do governo para colocar a economia nos trilhos, só deve ir a votação no plenário da Câmara na terceira semana de maio, se aprovada na comissão especial. Para que as novas regras comecem a valer, a reforma da Previdência precisa ser aprovada em dois turnos na Câmara e em dois turnos no Senado.

O presidente Michel Temer ainda encontra dificuldade para aprovação da Reforma da PrevidênciaEfe

Flexibilização

A reportagem começou a ouvir os deputados, nesta segunda rodada do Placar da Previdência, logo após o anúncio pelo relator da reforma, Arthur Oliveira Maia (PPS-BA), da flexibilização em sete pontos do projeto enviado pelo governo.

As mudanças não pouparam sequer a "espinha dorsal" da proposta original, que era a idade mínima. Diante do risco de perder o apoio da bancada feminina, Temer deu aval para a redução da idade das mulheres para 62 anos; a dos homens permaneceu em 65 anos.

Em relação à proposta original, além da idade mínima, também houve suavização nas regras do período de transição (que deverá ser cumprido pelos trabalhadores que já estão na ativa), na forma como são calculados os benefícios, na proibição de acúmulo de benefícios, na aposentadoria rural, nas aposentadorias de professores e policiais e no Benefício de Prestação Continuada (BPC), pago a idosos e pessoas de baixa renda com deficiência.

A maioria dos deputados que ainda se opõem à proposta de reforma justifica que as flexibilizações apresentadas por Oliveira Maia são insuficientes para abrandar o texto da PEC.

Líder do Solidariedade, Áureo Lídio (RJ) integra a base aliada, mas tem resistência ao projeto. "A mudança na regra de transição já está me atendendo, mas a mudança na idade mínima ainda não me atendeu", alegou. "Temos de avançar e esperar uma melhor avaliação da sociedade", explicou o peemedebista Fábio Ramalho (MG), que não tem voto definido.

O governo não tem a garantia sobre a obtenção dos votos nem no primeiro "teste de fogo", a aprovação na comissão especial. O grupo formado por 36 deputados ainda está dividido: 14 afirmaram que vão votar a favor; 13 se declararam contrários; sete parlamentares não quiseram abrir o voto, e apenas um se disse ainda indeciso.

O início da votação do parecer comissão especial que avalia a proposta na Câmara foi adiado para 2 de maio, o que atrasa em uma semana o cronograma previsto pelo governo.

A primeira rodada do Placar da Previdência, antes do parecer do relator, apontou 276 votos contrários e 100 favoráveis, mesmo que parcialmente - 64 deputados não quiseram responder e 35 se declararam indecisos. A reportagem não conseguiu contato com 36 parlamentares.

O vice-líder do governo na Câmara, Darcísio Perondi (PMDB-RS), demonstrou confiança na aprovação do texto na comissão e disse que a contabilidade dos aliados aponta número suficiente de votos favoráveis à reforma. "Temos 22 votos. E podemos ter substituições (entre os deputados), chegando a 25 (votos)", informou. 

Temer endurece tom com base aliada

Diante de sinais de rebelião no Congresso, a cúpula do governo endureceu o tom e decidiu cobrar dos ministros que enquadrem as bancadas aliadas, sob pena de ficarem insustentáveis nos cargos. O Palácio do Planalto quer agora que os partidos mais divididos fechem questão para conseguir aprovar a reforma da Previdência. Os parlamentares que desrespeitarem a ordem correm risco de punição.

O PMDB deve ser o primeiro a dar o exemplo. Depois de mostrar infidelidade em votações consideradas mais leves, como a da terceirização e a do requerimento de urgência, anteontem, para a reforma trabalhista, o partido do presidente Michel Temer sofre cada vez mais pressão do Planalto.

"Fechar questão é um instrumento legítimo para o partido marcar posição", afirmou o líder do governo no Senado, Romero Jucá (RR), presidente do PMDB. Interlocutores de Temer observam que, com a estratégia, os parlamentares poderão dizer aos eleitores que foram obrigados a seguir diretriz do partido para aprovar as mudanças na aposentadoria.

Em fevereiro, Jucá protagonizou confronto público com o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Moreira Franco, para quem a tendência do partido era liberar a bancada na votação da reforma da Previdência. "Não temos tradição leninista", disse Moreira, na ocasião.

De lá para cá, porém, o governo sofreu derrotas na Câmara e as delações da Lava Jato contribuíram para aumentar a crise. É tanto o esforço do Planalto para mostrar força e transmitir a mensagem de que a Lava Jato não parou o governo que Temer já planeja recorrer a ministros-deputados para a aprovação da reforma da Previdência.

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