Brasília, 64 anosfoto: reprodução

Brasília é a cidade que amo. A ela devo muito da minha história e trajetória. É onde pretendo deixar o meu epitáfio, talvez misturado em seu cerrado vermelho ou em suas águas do Lago Paranoá.
Além de admirador, sou defensor da cidade que aniversariou no dia 21 de abril, completando 64 anos.
Juscelino Kubistchek foi o mentor e idealizador dessa epopeia que, dificilmente, nos dias de hoje, seria possível repetir. Na época, esta genial iniciativa foi ameaçada pelo ativismo de alguns, com intervenções do Ministério Público, além da polarização que norteava e norteia o cenário político brasileiro.
Joaquim Roriz, que foi Governador do Distrito Federal em quatro mandatos, teve destaque na manutenção da identidade de Brasília. Como visionário, nascido nas terras onde depois seria construída a Capital Federal, deu tons e cores à nova unidade da Federação.
Roriz abriu estradas e viadutos, instalou cidades, preservou o patrimônio, inaugurou o Metrô, fez a terceira ponte (Ponte JK) e gerou tantas outras obras fundamentais para o futuro da cidade ou das cidades que compõem o DF. Hoje, há um conjunto de 35 núcleos, que já não são denominados de cidades-satélites, mas se transformaram em potentes Regiões Administrativas. Formam população de três milhões de habitantes.
O atual governador é Ibaneis Rocha, um advogado de carreira e sucesso. Ele se aventurou na política e disputou de forma bem-sucedida o cargo. Em 2022, reelegeu-se sem muita dificuldade, vencendo no primeiro turno, fato inédito.
Em artigo festejando os 64 anos de Brasília, Ibaneis Rocha traz como legado a inauguração de um túnel, viaduto e obras, marca de seu governo. É fato que se saiu bem, sem grandes percalços, até pela falta de uma oposição mais concentrada. Faltam políticos de maior experiência e traquejo no DF de hoje.
Brasília é muito jovem, mas a verdade é que parece uma senhora cansada e decrépita em alguns pontos.
Sempre defendi que Brasília tivesse característica de uma cidade inovadora, de experimentações que pudessem ser exemplo para o Brasil, para a América Latina e até para o mundo.
Somos a terceira metrópole do Brasil, com alto IDH e qualidade de vida. Há grande reforço com os recursos federais recebidos. Brasília arrecada mais de R$ 20 bilhões do Fundo Constitucional, para atender demandas da segurança pública, saúde e educação.
A Capital da República tem a terceira maior frota de barcos do Brasil. E mantém estádio que abriga mais de 70 mil torcedores, mesmo sem torcida de um time de futebol com destaque.
Falta inovação em Brasília. O Parque Tecnológico, que deveria receber as principais empresas de TI, tanto de governo como as principais empresas do setor, tem como únicas estruturas os data-centers do Banco do Brasil e Caixa.
Como relator no Compresb, possibilitei a entrada dos bancos que seriam os âncoras desta cidade. O Parque hoje conhecido como Biotic não tem identidade ou funcionamento. Pode ser, no futuro, mais um condomínio residencial.
O Parque da Cidade, o maior parque urbano do mundo, está à míngua, com um parque de diversões que remonta os velhos tempos. Falta-lhe um parque de exposições ou centro de convenções. Não tem a famosa piscina de ondas ou atrativos que permitam que a população de Brasília usufrua de um espaço democrático e aberto a todos, com conforto e equipamentos de ponta. Alguns torneios esportivos deveriam acontecer naquele espaço precioso.
O Teatro Nacional, principal equipamento cultural, está de portas fechadas há mais de uma década, na Esplanada dos Ministérios. É uma vergonha, que ultrapassa todos os limites. A Capital da República, que recebe embaixadas e representantes do mundo inteiro, não tem equipamento cultural à sua altura. Nossa Orquestra Sinfônica tenta se apresentar em improvisos, com o esforço e talento de seus músicos e de seu incansável maestro.
Temos como marco a maior favela do país, que é tema de um seriado da GloboPlay, Justiça 2, com quatro histórias que se passam em Sol Nascente.
Devemos festejar Brasília e alguns de seus personagens, mas nunca esquecer o propósito da cidade e seu papel fundamental em criar o novo, o moderno, as experimentações. Cingapura poderia servir como modelo.
Como comentado pelo amigo jornalista Renato Riella, Brasília tem alma e seu povo demonstra o fervor e o espírito empreendedor de Juscelino e Roriz. Mas precisamos de mais políticos ousados e sonhadores. Afinal, este é o propósito da nossa querida e amada Brasília.