CT do Ninho do Urubu foi palco da maior tragédia do Flamengo, em 2019, com incêndio que matou 10 jovens da baseReprodução Twitter

O Tribunal de Justiça do Rio (TJ-RJ) realizou nesta sexta-feira (19) a segunda audiência de instrução e julgamento do incêndio no Ninho do Urubu, CT do Flamengo, ocorrido em fevereiro de 2019. A primeira foi em agosto de 2023. Convocados de última hora, os pais de Christian Esmério, uma das 10 vítimas fatais da tragédia, prestaram depoimento como testemunhas.

Andreia Oliveira e Cristiano Esmério foram chamados para substituir outras duas testemunhas e falaram sobre as condições do alojamento das categorias de base do Rubro-Negro, à época improvisadas em contêineres. O fato de ocorrer a audiência fez os pais dos jovens voltarem a ter esperança de que a Justiça aponte e puna os responsáveis pela tragédia.
"Pelo menos está tendo algum movimento. Mas a gente vai ficar feliz se houver culpados", disse Cristiano Esmério. O pai do ex-goleiro mostrou surpresa com a convocação em cima da hora.
"Poder estar aqui hoje e ser ouvida é um pouco de esperança que nos trazem. Não sabíamos onde os nosso filhos estavam alojados, e demos uma guarda ao Flamengo", disse Andreia de Oliveira, a mãe de Christian.
Também prestaram depoimentos oito dos 16 sobreviventes do incêndio no Ninho do Urubu: Caique Silva, Felipe Cardoso, Filipe Chrysman, Gabriel de Castro, Jean Sales, Kayque Campos, Naydjel Callebe e Pablo Ruan. Os jovens, que dormiam no alojamento que pegou fogo e conseguiram sair, falaram por vídeo conferência.
o ex-presidente do Flamengo Eduardo Bandeira voltou a comparecer ao Tribunal, assim como agosto do ano passado, mas não depôs nem falou com a imprensa. O agora deputado federal é um dos oito réus do caso, por estar no comando do clube até o fim de 2018, menos de dois meses antes da tragédia.

Quem são os réus

O grupo responde por incêndio culposo qualificado pelos resultados de morte e lesão grave.
- Eduardo Bandeira de Mello (ex-presidente do Flamengo)
- Márcio Garotti (ex-diretor de meios)
- Marcelo Sá (engenheiro)
- Claudia Pereira Rodrigues (da empresa NHJ, fornecedora dos contêineres)
- Weslley Gimenes (NHJ)
- Danilo da Silva Duarte (NHJ)
- Fabio Hilário da Silva (NHJ)
- Edson Colman da Silva (técnico em refrigeração)

Relembre o caso do incêndio no Ninho

O incêndio no Ninho do Urubu completou cinco anos em 8 de fevereiro e matou 10 adolescentes entre 14 e 16 anos. Outros 16 jovens das categorias de base do Flamengo sobreviveram à tragédia, que teve início com um curto-circuito em ar-condicionado de um dos quartos do alojamento improvisado com contêineres, que seria desativado dias depois.
Na denúncia, apresentada em 2021, o Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) lista diversas irregularidades cometidas pelos denunciados como descumprimento de normas técnicas e desobediência a sanções administrativas impostas pelas autoridades, ocultação das reais condições das construções existentes no local ante a fiscalização do Corpo de Bombeiros, entre outras.
Inicialmente, o MPRJ denunciou 11 pessoas, aceita pela Justiça. No entanto, a 5ª Câmara Criminal considerou que as denúncias contra o ex-diretor da base Carlos Noval e o engenheiro Luiz Felipe Pondés não foram sustentadas pelas provas colhidas. Além disso, o monitor Marcus Vinícius Medeiros foi absolvido.
Ainda em 2019, a Polícia Civil chegou a indiciar oito pessoas por homicídio com dolo eventual e tentativa de homicídio. O MPRJ, no entanto, não imputou a nenhum dos denunciados o crime de homicídio.