Por nara.boechat

Rio - Janeiro se aproxima. E, com ele, algumas incertezas ganham contornos polêmicos: as tarifas dos ônibus serão reajustadas? Existe clima político para isso? O que se tem de concreto até agora é que o prefeito Eduardo Paes já se disse favorável ao aumento, previsto em contrato para o primeiro dia de 2014. Mas os impactos da redução das passagens, ocorrida 19 de junho, começam a aparecer na qualidade dos transportes.

O efeito mais aparente da retirada dos famosos R$ 0,20 talvez esteja na temperatura dentro dos coletivos. A meta de que toda a frota no Rio tenha ar condicionado até 2016 será revista. O fato é que transporte público de qualidade custa caro. E a pergunta que não quer calar é: quem vai pagar a conta? É isso que o DIA vai mostrar na série de reportagens iniciada neste domingo.

“Atualmente, 18% da frota têm ar condicionado. Nossa previsão era de terminar este ano com 30%. Mas isso não foi possível porque não temos como exigir a renovação dos ônibus neste momento de desequilíbrio tarifário”, considerou o secretário municipal de Transportes do Rio, Carlos Roberto Osório, defendendo o cumprimento dos contratos de concessão para garantir a melhoria dos serviços.

Manifestações fizeram prefeitura cancelar o reajuste de R%24 0%2C20 nas tarifasFernando Souza / Agência O Dia

De acordo com ele, em termos de renovação de frota, 2013 foi um ano perdido. “Este ano, apenas 4% dos ônibus mais antigos foram substituídos, quando a média dos anos anteriores chega a 15%.”

Osório lembra que o prefeito Eduardo Paes decidiu não dar subsídio para custear parte do sistema viário. Portanto, esses recursos têm de vir de outra fonte: a tarifa.

O diretor institucional da Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU), Marcos Bicalho, questiona a atitude e ressalta que esta não é a tendência nacional, citando a cidade de São Paulo como exemplo. “Não existe outro caminho. Os governos têm que entrar com recursos e isenções tributárias. Fica caro para os passageiros custearem o sistema integralmente”, diz.

Para o representante da NTU, a sociedade precisa entrar no debate sabendo que se trata de vontade política. “As passagens dos ônibus baixariam pela metade só com isenção de impostos e ganhos operacionais das faixas exclusivas. E o governo federal tem um grande papel nisso. É preciso que o transporte público seja prioridade”, analisou.

Gratuidades pesam mais de 20% no valor das passagens

O diretor institucional da Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU), Marcos Bicalho, informou que, para conseguir chegar a um equilíbrio tarifário, resolver a questão das gratuidades é um dos principais desafios dos prefeitos. “No Brasil inteiro o que se vê é uma injustiça. Porque o passageiro não sabe que é ele quem paga pelos estudantes, idosos e pessoas com necessidades especiais. Fica parecendo que isso vem dos governos, mas nem sempre é verdade. Seguramente, no Rio, os usuários com direito a gratuidade ultrapassam os 20%. As prefeituras têm que buscar fontes de custeio para isso”, orientou.

Mas, se ainda existem questionamentos da NTU em relação ao custeio das tarifas, a associação não tem dúvidas de que, em termos de projetos, o Rio é uma das cidades mais desenvolvidas do Brasil. “Nós indicamos o exemplo carioca de faixas exclusivas para as outras prefeituras. O que precisa ser feito é uma ação integrada dos governos com os empresários”, finalizou.

Bilhete único a R$ 230 por mês

Quando se fala em reduzir tarifas e manter projetos de melhoria nos transportes, não há como fugir de uma palavra polêmica: subsídio. E, nesta questão, as prefeituras das duas maiores cidades do país têm posições distintas. Enquanto, a Prefeitura do Rio afirma que não há subvenção para os ônibus (responsáveis pelo transporte de mais de 80% dos cariocas), em São Paulo, a administração municipal diz que já dava cerca de R$ 1 bilhão ao ano para o transporte, antes das manifestações, e anunciou, na semana passada, em parceria com o governo estadual, o Bilhete Único Mensal Integrado, que servirá para trem, metrô e ônibus.

Esse novo bilhete, que beneficia quem tem de pagar mais de 50 passagens por mês (uma para ir e outra para voltar do trabalho), vai custar mais R$ 45 milhões ao mês aos cofres públicos.

O bilhete integrado de São Paulo custará R$ 230 por mês para viagens ilimitadas. Mas quem preferir usar somente os ônibus poderá pagar R$ 140, assim como o bilhete específico para metrô e trens.

Rio Ônibus critica recuo por causa de pressão popular

O presidente da Rio Ônibus (associação das empresas de ônibus do Rio), Lélis Marcos Teixeira, disse que o momento no Rio de Janeiro é tenso e muitas empresas já começaram a sentir no caixa os efeitos do congelamento dos preços. “Nós defendemos a segurança jurídica. E que os contratos sejam respeitados. Sem isso o empresário não tem segurança para investir. Já tem empresa alegando não ter receita suficiente para o dissídio coletivo dos rodoviários no ano que vem”, avaliou.

O executivo contou ainda que empresários de outros países da América Latina também estão preocupados com o precedente aberto pelo Brasil, de quebrar contratos por causa das pressões populares e políticas. “A sinalização para o investidor foi a pior possível, gerou um clima de insegurança”, afirma Teixeira, fazendo a ressalva que, se a questão tarifária for resolvida, o Rio caminha para dar um grande salto de qualidade nos transportes.

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