Daniel GuanaesDivulgação

Peter Drucker, pai da administração moderna, falou há algumas décadas que o mundo estava vivendo a Era da Informação. A tese dele vinha da constatação de que o conhecimento estava sendo mais valorizado do que o trabalho e que o acúmulo de informação em pouco tempo seria mais importante do que o acúmulo de patrimônio financeiro.

Eu não tenho dúvidas de que a quantidade de informação que produzimos atualmente tem promovido uma transformação nos métodos tradicionais de ensino. E não acho isso algo ruim. Pelo contrário! As inovações e a proliferação de formatos para difundir informação, gerar conhecimento e possibilitar transformações são sempre bem-vindas. Mesmo assim, às vezes me pergunto como Drucker, se estivesse ainda vivo, classificaria esse novo tempo que temos visto emergir nos últimos dez anos. Um tempo que eu chamo de "a época dos que ditam regras".

Parece haver uma lógica por trás de boa parte desses métodos que agora são adotados. A que trata a vida de forma simplista, fazendo pretender que tudo o que precisamos é comprar pacotes de informações formatadas que nos servirão como fórmula para fazer-nos avançar. São cursos e mais cursos repletos de regras a serem seguidas, geralmente anunciados com promessas de que transformarão a vida das pessoas.

Essa lógica à qual me refiro me faz lembrar de uma frase de Agostinho, um dos principais pensadores do Cristianismo. No século IV da era cristã, o bispo de Hipona disse que "tendo crescido, e tendo-se desfeito as trevas da escuridão, convenci-me de que deveria crer preferentemente mais nos que ensinam do que nos que ditam regras".

A fala de Agostinho é intrigante, porque ela estabelece um paradigma para o ensino que vai na contramão do que tem sido difundido nesta "época dos que ditam regras". Segundo ele, o ensino não é o ato de transmissão de informações prontas e absolutas que só precisam ser absorvidas, mas, antes, é um processo carregado de particularidades e subjetividades. E que justamente por isso varia de pessoa para pessoa no modo como se dá.

E esta fala inevitavelmente me faz pensar num dos conceitos mais caros às religiões: a sabedoria. Penso que seja exatamente ela o fator que distingue os que ensinam dos que ditam regras. Sabedoria é o elemento que particulariza e contextualiza, mas não absolutiza, nem normatiza. A sabedoria faz perguntas quando todos acham que só precisam de respostas, substitui pontos finais por vírgulas, reticências e abre caminhos a serem seguidos.

É evidente que, aos que pensam na informação do ponto de vista da venda, do lucro e do resultado, as fórmulas e regras são muito mais interessantes. Elas seduzem os incautos com incomparável facilidade. Entretanto, a verdade é que nós não precisamos apenas de informações que estão a um clique da nossa mão, mas sim, principalmente, aprender a fazer caminhos que não se vendem, nem se copiam, posto que nos são internos e irreproduzíveis. São os caminhos da sabedoria.

Em uma era repleta de informações, o que talvez mais careçamos seja a busca para sermos sábios. Essa é a razão pela qual devemos fugir dos que ditam regras. Viver bem não tem a ver com aprender métodos e/ou decorar fórmulas. Tem a ver com aprender discernindo nossos próprios momentos e nossa própria velocidade para, assim, crescer.

Daniel Guanaes
PhD em Teologia pela Universidade de Aberdeen, Escócia, pastor na Igreja Presbiteriana do Recreio, no Rio de Janeiro, e psicólogo