Rio - Mais de um terço da população da cidade do Rio de Janeiro (37%) concorda com a afirmação de que "bandido bom é bandido morto", e 73% dos cariocas consideram que os "direitos humanos atrapalham o combate ao crime". É o que aponta pesquisa realizada pela Universidade Candido Mendes (Ucam) no ano passado e cujos dados foram divulgados nesta quarta-feira.
O porcentual dos cariocas a favor da máxima que "bandido bom é bandido morto" é inferior ao observado em pesquisas semelhantes realizadas pelo País em cidades com mais de 100 mil habitantes, como a do Fórum Brasileiro de Segurança Pública 2016 (57%) e o da Secretaria Especial dos Direitos Humanos de 2010 (43%). Mas, mesmo que 60% sejam contra essa sentença, os dados são considerados altos pelos responsáveis pela pesquisa.
"Trinta e sete por cento é um número muito alto, mas comparado a outras pesquisas pelo Brasil, nos pega de surpresa. Quando a gente olha para casos específicos, como na possibilidade de a polícia ter carta branca para matar, 70% são contra isso", explicou Julita Lemgruber, uma das coordenadoras do estudo.
Entre os que acham que bandidos devem ser mortos, a maioria (38%) considera que isso deve ser feito por vias judiciais, por meio da pena de morte. Outros 31% são a favor que a morte de bandidos seja feita durante ações da própria polícia.
Direitos humanos
No geral, a população carioca vê com ressalvas os que se apresentam como defensores dos direitos humanos. No total, 73% dos cariocas consideram que "direitos humanos atrapalham o combate ao crime", e 56% da população da cidade entendem que "quem defende direitos humanos só está defendendo bandidos".
Para Lemgruber, isso prova que o assunto é "mal trabalhado" no Brasil. "Esse termo 'direitos humanos' foi mal compreendido nas últimas décadas. Estamos tentando buscar caminhos para retomar essa discussão com a sociedade", comentou.
Sistema judicial
O estudo também mostra que os cariocas não confiam no sistema judicial como um todo. A nota média atribuída à Justiça ficou apenas em 3,5, sendo que 28,2% dos entrevistados deu nota zero. A avaliação do público à Justiça é inferior até mesmo à dada à Polícia Civil (5,8) e à Polícia Militar (4,9).
"Frequentemente a gente ouve entrevistas dizendo que a polícia faz a sua parte, mas a Justiça solta. Mas o importante é que a pesquisa mostra que a população de fato não confia no sistema judicial como todo", avaliou Lemgruber.
Coordenado pelos pesquisadores Julita Lemgruber, Leonarda Musumeci e Ignacio Cano, do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CESeC) da Ucam, o estudo ouviu 2.353 pessoas no município do Rio, entre os meses de março e abril do ano passado
Os dados apontaram que, em geral, homens apoiam mais a máxima do "bandido bom é bandido morto" do que mulheres, assim como pessoas de baixa renda são mais propensas a concordar com a frase do que pessoas mais abastadas. Evangélicos, na maioria, também são contra.
"Isso mostra que os evangélicos, que frequentam cultos, não apoiam essas coisas que a bancada evangélica no Congresso apoia", disse Julita Lemgruber, lembrando que "frequentemente alguns ilustres deputados defendem" a morte de criminosos.