Rio - Familiares e amigos de Maria Eduarda Alves da Conceição, de 13 anos, morta dentro de uma escola em Acari, na Zona Norte do Rio, se despediram da menina na manhã deste sábado, no cemitério Jardim da Saudade, em Edson Passos, no município de Mesquita, na Baixada Fluminense.
O velório foi marcado por muita tristeza e revolta. Com camisas e faixas, a família manifestou indignação e pedia justiça pelo assassinato da jovem. Duda, como era chamada pelos amigos, foi morta enquanto fazia uma aula de educação física, na tarde da última quinta-feira.
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"Minha irmã foi vítima da violência. A sociedade é vítima de um governo que não se preocupa em investir em educação", disse o irmão, Uidson Alves Ferreira, de 32 anos, que é professor de artes marciais, e era uma dos maiores incentivadores da irmã, que era praticante de basquete.
Desolada, a mãe dizia a todo momento: "Mataram o meu bebê. Ela foi embora" chorava Rosilene Alves Ferreira, de 53 anos, que durante o velório passou mal e precisou ser amparada.
No cemitério, muitos amigos da estudante homenageavam a menina com uma camisa com a frase "Saudades Eternas". A irmã, Daniela Alves Conceição, questionou ainda o posicionamento da polícia ao dizer que a menina foi atingida por uma bala perdida. "Não foi uma bala perdida, foram três. Quatro perfurações. Que bala perdida é essa? Pelo amor de Deus. Brasil e Rio de Janeiro, acorda! Meu Deus, isso não pode acontecer, façam alguma coisa. Pais e mães estão sofrendo por causa de despreparo de policiais. Se por acaso alguém não está preparado para treinar esses policiais, que chame alguém de fora. Quem paga é o pobre. Eu nunca vi um governador, ou filho de autoridades ficarem nessas condições", desabafou.
Carta pede punição
Além de parentes, acompanharam a cerimônia professores e colegas da escola e pais de alunos que estudavam com Duda. Vários vestiam uma camisa com trechos da letra "Gostava tanto de você", de Tim Maia, com a foto de Maria Eduarda.
Durante o enterro, a família também distribuiu uma carta pedindo punição para os culpados."São muitas perguntas. De onde partiram os tiros ? O tiro parte quando ignoramos os mais humildes. O tiro parte quando o Estado não preparou a polícia. O tiro parte quando ignoramos a dor alheia e achamos que nunca acontecerá com um de nós. O tiro parte quando o Estado é corrupto e desvia um dinheiro que seria empregado para melhorar segurança e educação", diz um trecho do texto.
Prefeito acompanha a cerimônia
O prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella, esteve no cemitério para prestar solidariedade à família de Maria Eduarda. Para ele, esta situação de insegurança é inadmissível, principalmente nas escolas e que o município vai prestar todo apoio ao estado para conter a violência. "A escola precisa ser um local seguro. Vamos pensar em mudar a estrutura das unidades escolares para que os alunos fiquem mais protegidos. O que aconteceu foi uma tragedia e não pode se repetir. A polícia não pode agir desta maneira nas comunidades, principalmente assim tão próximo a uma escola. Isso precisa acabar, todos os dias recebo fotos de crianças deitadas no chão nas escolas para se protegerem dos constantes tiroteios. Não podemos aceitar isso", disse o prefeito, que chegou a se emocionar ao falar do caso.
Na sexta-feira, ele declarou que pretende blindar as escolas municipais que estão em linhas de tiro, como a Escola Municipal Jornalista e Escritor Daniel Piza, onde Maria Eduarda foi morta.