Por marlos.mendes

Rio - Dezenas de manifestantes interromperam o trânsito na Rua Leopoldo Bulhões, em Manguinhos, na manhã deste domingo para protestar contra a onda de violência nas comunidades da região do Jacarezinho, que convive há 11 dias com operações da polícia e confrontos. A iniciativa faz parte da quinta edição do Caminhada da Paz, e contou com cartazes pedindo paz, desenhos no chão, carro de som e atividades para crianças. “A gente não quer viver na violência. Queremos vive de paz e não de guerra”, diz Jane Camilo, de 57 anos, moradora de Manguinhos há 20 anos. Um grupo de manifestantes seguiu a Avenida Dom Hélder Câmara em direção ao Jacaré para prestar solidaridade aos moradores de lá.

Quinta 'Caminhada pela Paz' em ManguinhosSandro Vox / Agência O Dia

Na opinião da auxiliar administrativa Patrícia Evangelista, de 44 anos, que nasceu e foi criada em Manguinhos, os confrontos impedem os moradores de terem acesso aos serviços básicos, como escolas e postos de saúde, e de se locomover. “As escolas não funcionam, não acessa os serviços de saúde, as linhas de ônibus param de funcionar, o Uber não está disponível na área. Você pode perder o seu emprego porque não consegue sair para trabalhar”, lamenta.

Quinta 'Caminhada pela Paz' em ManguinhosSandro Vox / Agência O Dia

Patrícia conta que o serviço de coleta de lixo funciona diariamente. Mas não se pode dizer o mesmo sobre o serviço de telefonia ou luz. “Chegamos a ficar sem luz dois ou três dias. Estou há três meses sem telefone porque estourou algum fio por aí durante um tiroteio e até a empresa diz que está providenciando o reparo. E assim você vai. Essa é a vida do morador de favela”, lamenta.

A dona de casa Telma Assis, de 39 anos, diz que a cada tiroteio, a dor dela aumenta ainda mais. Ela perdeu o pai aos 11 anos e a irmã, há seis anos. “Em cada tiroteio que acontece se torna recente a morte deles. Dói sempre mais. A autoestima, o direito de ir e vir, tudo acaba quando começam os confrontos”. Dona Telma, contudo, não pretende sair da comunidade. “ Não penso em sair porque não tenho condições e é a comunidade onde nasci e moro, a comunidade pela qual quero lutar. Nós temos o direito de sobreviver na nossa comunidade”.

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