A dor funciona como advertência. A dor nos obriga a refletir, forçando-nos a controlar nossas paixões. A dor, contudo, é o caminho do aperfeiçoamento. Tanto a dor física quanto a dor moral são meios poderosos de evolução espiritual, fazendo-nos aprender a ser pacientes e resignados. A dor age como fogo, fundindo o egoísmo onde se dissolve o orgulho.
Por que animais – já que não têm consciência como nós, humanos -, também sofrem? Castrar animais transgride alguma Lei Divina? É condenável praticar a eutanásia no animal sofrendo dores, tendo mal sem cura?
Vamos lá. Em primeiro lugar, plantas e animais também são atingidos por enfermidades. As plantas têm sensibilidade. Uma árvore cortada perde seiva e morre, galhos queimados, definham rapidamente e à aproximação do fogo, retraem-se. Muitas são as pragas que atacam culturas, além de parasitas que lhes causam danos, resultando que as plantas murchem e morram.
No caso dos animais, não há a menor dúvida de que sofrem dor, tanto quanto a do ser humano. Ora, se o homem resgata débitos contraídos por ações equivocadas, como justificar que animais e plantas também sofram? Que culpa lhes pode ser atribuída, se não têm, como nós, inteligência, livre-arbítrio e consciência?
Doenças fazem parte da evolução de planetas atrasados, como a Terra. Doenças, acompanhadas de algum tipo de dor, acabaram ajudando o ser humano a desenvolver a inteligência que, por sua vez, faz com que encontre medicamentos para debelá-las, através dos progressos da Medicina. A dor age como poderoso alerta de que algo não vai bem, espiritual ou fisicamente, lembra nosso irmão Eurípedes Kühl.
E a dor nos animais? Não tendo inteligência, livre-arbítrio ou consciência, suas ações, necessariamente instintivas, apenas visam a sobrevivência. E, portanto, como imputar culpa e o respectivo para os animais, se Deus é Perfeição e Amor? A verdadeira vida, tanto do animal como a do homem, não está no corpo, muito menos no vestuário. A vida está no princípio inteligente que preexiste e sobrevive ao corpo, destaca nosso irmão Eurípedes.
Danos físicos que destruam a matéria, isto é, dos quais resultem em morte, não destroem o espírito. Nos animais, nos quais a inteligência ainda não substituiu o instinto, a luta é pela satisfação da imperiosa necessidade: a alimentação. Animais lutam unicamente para viver. E é nesse primeiro período que a alma se elabora e ensaia para a vida.
Emmanuel lembra que ninguém sofre para resgatar o preço de alguma coisa. O animal atravessa longas eras de prova a fim de domesticar-se, tanto quanto o homem atravessa outras tantas longas eras para instruir-se. Espíritos evoluem através de trabalhos pacientes e intransferíveis.
Diz Eurípedes Kühl que os animais sofrem para que registrem em sua memória espiritual que a dor dói, que é ruim. Assim, ao evoluírem, alcançando a inteligência, já trarão na bagagem cognitiva que a dor deve ser evitada - a própria, por autopreservação. E também deve ser evitada a dor do próximo, dentro dos postulados de Jesus que aconselhou que não fizéssemos a outrem aquilo mesmo que não desejamos para nós mesmos.
Um cavalo pode recuar, temeroso, ante a ameaça de um cão ou um touro enfurecido, com receio do sofrimento que teriam se fossem por eles atingidos. Os seres irracionais, ao sentirem a dor, podem defender a própria vida, procurar repouso e alimento, tornarem-se menos perigosos ao homem, mantendo o instinto de conservação, que não teriam, se os seus corpos fossem desprovidos de sensibilidade.
O homem progride mais pelos padecimentos morais do que pelos físicos. Nos animais, predominam os físicos sobre os morais. A dor é útil aos animais para que os fracos e pequenos se defendam dos fortes e cruéis, procurando esconderijos inacessíveis a seus adversários.