São Paulo - As cotações do petróleo foram o fiel da balança para determinar as perdas na sessão de negócios desta quarta-feira, 7, quando o Ibovespa recuou 1,34%, aos 82.766,73 pontos. Na primeira parte do pregão, o índice à vista chegou a firmar alta, mas, após divulgação de dados sobre os maiores estoques da commodity pelo Departamento de Energia dos Estados Unidos, os preços apresentaram forte queda levando à reboque as ações da Petrobras e, logo depois, das outras blue chips.
Por trás dessa movimentação, segundo analistas, está o receio dos investidores com a possibilidade de ajustes mais fortes das bolsas americanas, que já devem estar no último ciclo de alta. "O medo de um ajuste mais forte do mercado americano é latente. A falta de apetite pelo risco tem como consequência a queda nas cotações das commodities e nos mercados de economias ligadas a elas", disse Rafael Figueredo, Eleven Financial.
Para Pedro Galdi, analista da Magliano Corretora, a percepção de risco com a cena externa está ligada aos possíveis ajustes da política monetária do Federal Reserve (Fed). "O investidor ainda está atordoado e os mesmos fatores sobre a expansão da economia mundial continuam valendo. Não há nada novo, só que as bolsas subiram muito e agora os mercados estão tomados por um sentimento de cautela", disse.
Nesse sentido, contaminou os negócios com os investidores se concentrando na ponta vendedora. O giro financeiro chegou a R$ 11,9 bilhões. A B3 informou que, em fevereiro, o fluxo estrangeiro passou a ser negativo em R$ 585,315 milhões. O valor é resultado de compras de R$ 14,757 bilhões e vendas de R$ 15,342 bilhões. No entanto, em 2018, o saldo segue positivo e está em R$ 8,964 bilhões.
Shin Lai, analista da Upside Investor Research, afirma que, além do exterior, há um fator doméstico que ainda conta para a tomada de decisão. Nesta quarta, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, disse que as discussões para a reforma da Previdência devem se estender até dia 28, e, não até dia 20, quando estava prevista anteriormente a votação do texto.
Muito embora boa parte dos analistas do mercado acionário diga que a não aprovação desta reforma já está precificada, Lai ressalta que a sinalização de dúvida que o governo e parlamentares dão traz incerteza não apenas sobre a votação, mas em como o Brasil ficará em um cenário sem ajuste fiscal.
Dólar - O fortalecimento do dólar no mercado internacional manteve a moeda americana em alta ante o real durante a maior parte desta quarta-feira, 7. A divisa terminou a sessão de negócios cotada a R$ 3,2747 no mercado à vista, em alta de 0,98%, em sintonia com a valorização observada ante moedas fortes e emergentes. Pela manhã, a cotação chegou a cair pontualmente, atingindo a mínima de R$ 3,2383 (-0,14%). Na máxima, à tarde, bateu os R$ 3,2841 (+1,27%).
No período vespertino, o principal destaque foi o acordo bipartidário nos Estados Unidos em torno do orçamento do país, que evita a paralisação da administração Donald Trump. Houve ainda fatores secundários que contribuíram para impulsionar a alta do dólar, como a queda expressiva dos preços do petróleo e a forte desvalorização do euro, que teve forte influência no desempenho do Dollar Index (DXY), que mede o desempenho do dólar ante uma cesta de moedas fortes.
Pouco depois das 16h (horário de Brasília), os líderes no Senado dos partidos Republicano, Mitch McConnell, e Democrata, Chuck Schumer, anunciaram um acordo orçamentário de dois anos, de cerca de US$ 400 bilhões, que vai destinar recursos para o Pentágono e programas sociais do governo. A notícia teve efeito direto sobre a moeda norte-americana e sobre os juros dos Treasuries, apesar de o entendimento ainda necessitar ser votado pelos legisladores, em meio ao desconforto pela ausência de uma definição sobre a política de imigração. Com isso, o dólar acelerou o ritmo de alta com o qual já vinha operando ante o real.
"A valorização do dólar diante do acordo é algo natural e esperado, apesar de a questão da imigração não ter sido votada. Mas é um evento que não altera a tendência do dólar lá fora, que ainda é de volatilidade forte", disse José Faria Júnior, diretor da Wagner Investimentos. Para ele, os mercados ainda tendem à instabilidade devido às perdas da última segunda-feira, que ainda estão em "processo de cicatrização".
Pela manhã, o dólar chegou a cair pontualmente, influenciado pelo fluxo cambial positivo e pelo leilão de contratos de swap cambial do Banco Central, que contribuiu para absorver a demanda O BC vendeu o lote integral de 9.500 contratos, com valor total de US$ 475 milhões, em leilão de rolagem integral dos contratos que vencem em 1º de março. A consolidação do viés positivo veio à tarde e ganhou força com a queda do petróleo e o acordo no Congresso dos EUA.