Brasília - O trabalho do vice-presidente, Michel Temer, em recuperar a economia, no caso de impeachment da presidente Dilma Rousseff, não será fácil, afirmou Gustavo Loyola, ex-presidente do Banco Central. Mesmo que Temer consiga ter apoio de uma base parlamentar "razoável", as medidas que o peemedebista deve tomar são impopulares. Em entrevista à Rádio Estadão, Loyola disse que o sistema político brasileiro pode não estar preparado para exigir mais sacrifícios da sociedade. O ex-ministro da Fazenda Joaquim Levy encaminhou uma agenda de ajuste e quem assumirá o poder terá de adotar a mesma agenda, acrescentou o ex-presidente do BC.
O economista afirmou ainda que o programa "Ponte para o Futuro", do PMDB, é uma agenda "muito boa", mas tem implementação complexa. Entre os aspectos que podem encontrar resistência está a reforma previdenciária, que também chegou a ser defendida por Dilma. Na avaliação de Loyola, Temer deve estar trabalhando para viabilizar uma equipe econômica capaz de implementar a agenda apresentada pelo partido, mas a costura política será "muito difícil e complexa". "Não é uma agenda simples, trivial, do ponto de vista político".
Nesta segunda-feira, 18, os mercados financeiros devem iniciar o pregão de maneira positiva, caso o resultado na votação na Câmara dos Deputados seja a favor da abertura do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, segundo o ex-presidente do BC. "Principalmente a bolsa de valores e o câmbio", disse. O executivo ponderou que esforços do BC podem segurar um pouco movimento do câmbio, mas há percepção mais otimista entre agentes do mercado para a economia sobre a possibilidade de troca do governo, em comparação ao futuro da política econômica no caso de manutenção de Dilma. À Rádio Estadão, Gustavo Loyola fez a ressalva de que o processo de impeachment não se conclui neste domingo, uma vez que ainda deve passar pela análise do Senado.
Permanência de Dilma
Caso a presidente Dilma Rousseff e a base do governo sejam capazes de barrar o impeachment já na votação na Câmara dos Deputados, o cenário que se coloca é "bastante complicado", segundo o ex-presidente do BC, uma vez que a presidente Dilma tem enfrentado problemas de governabilidade desde 2014. "Ela ficando na Presidência, daqui para frente, a situação fica pior", pois alguns partidos como o PSD e o PP, além do próprio PMDB, já se colocaram do "outro lado".
O economista não descartou ainda outras tentativas de impeachment e desdobramentos da operação Lava Jato como entraves à governabilidade, além de apontar que a presidente Dilma "não é muito afeita do diálogo político". Para ele, as dificuldades de política econômica serão ainda maiores. O ex-presidente do BC lembrou recentes acenos do PT a movimentos sociais, o que desagradou setores da economia, como o agronegócio. "A permanência de Dilma vai gerar uma expectativa negativa", disse, sobre a restauração da governabilidade.
Para Loyola, Dilma perdeu até o apoio do empresariado, como da Fiesp, que havia sido beneficiado com a política econômica de Guido Mantega. Segundo o ex-presidente do BC, a recomposição da governabilidade com a presidente Dilma no poder é difícil e a petista deveria ter feito um pacto antes. "O momento passou", afirmou.