Relógio de R$ 30 mil ostentado por Gian Tancredo, de 12 anos - Reprodução Vídeo
Relógio de R$ 30 mil ostentado por Gian Tancredo, de 12 anosReprodução Vídeo
Por LUANA BENEDITO

Rio - A Web foi bombardeada nos últimos dias com memes, paródias, textões problematizadores e até mesmo campanhas publicitárias sobre o viral do momento, “Quanto Custa o Outfit”, postado pelo canal Hyped Content BR, do carioca Fellipe Escudero e do paulista Caio Kokubo. A dupla de youtubers tem mostrado nos vídeos uma galera que não poupa dinheiro na hora de se vestir e ostenta sem cerimônia peças exclusivas, que chegam até R$ 40 mil, de grifes de moda urbana como: Supreme, Bape, Nike, Yeezy, Off-White, Gucci e Balenciaga.

O carioca conta que a ideia foi inspirada no quadro "How Much Is Your Outfit", do canal britânico The Unknown Vlogs. No entanto, o advogado se diz surpreso com a repercussão dos dois únicos vídeos compartilhados por eles, que já bateu a casa dos milhões de visualizações. "Somos um canal de street wear, a gente não imaginava que se tornaria um viral. A gente imaginava que teria alguma repercussão entre pessoas que se interessam por este cenário da moda”, comenta o advogado.

Sobre os valores altíssimos em peças como tênis, moletons, jaquetas e acessórios, Fellipe descarta o rótulo de consumista e se define como um colecionador de roupas. “Meu objetivo é aumentar o meu acervo pessoal. É muito bom abrir o meu armário e ver as peças que eu sonho lá dentro”, revela.

As inspirações para a galera do street wear, segundo Fellipe, vem do hip-hop. “O Kanye West é um dos rappers que mais ditam tendência”, acredita o advogado. Porém para conseguir um ‘outfit’ legal e exclusivo, o morador da Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio, conta que está sempre nas buscas dos lançamentos nacionais e mundiais das marcas, além de participar de eventos de compra, venda e revenda de roupas.

“As lojas recebem o lançamento e as pessoas compram em grandes quantidades para revender, porque tem desconto. Então, as peças acabam muito rápido. Uma camisa de R$ 2, 5 mil, eu já consegui pagar R$ 700”, comemora o jovem, que também revende as marcas queridinhas da galera.

Regata Supreme por R$ 1.035 em uma loja virtual - Reprodução

Mas no mundo das peças exclusivas como o pagamento é feito? “Eu pago a vista e no cartão, às vezes parcelo também, porque eu ganho tempo e posso comprar outras roupas”, diz. “Eu não sou um playboy. Morei em Vicente de Carvalho, Zona Norte do Rio, até os meus 13 anos. Muitas pessoas que estão no vídeo também não nada no dinheiro.Trabalho como advogado, com revenda e também com produção de conteúdo. Deixo de fazer coisas para comprar minhas roupas”, completa.

Fellipe diz se incomodar somente com os comentários de ódio que ele e outras pessoas do vídeo têm recebido na Web. “A desigualdade do Brasil não é culpa minha. Para algumas pessoas pode soar absurdo, eu gastar meu dinheiro com isso, mas é o que eu gosto, assim como tem gente que gasta com carro ou viagens”, dispara.

Para a antropóloga Carolina Delgado, o estranhamento do vídeo é causado porque os jovens vão no sentido oposto do discurso atual no mundo da moda, o consumo consciente. “Existem milhões de modas, mas no discurso, no valor simbólico, a moda ainda é singular. Enquanto estão vendendo a sustentabilidade, as pessoas estão falando outra coisa nas ruas. Não é todo mundo que está falando de consumo consciente”, afirma.

E porque esses jovens estariam tão empenhados em ter peças tão caras? "É uma juventude que chegou neste lugar agora e que diz ‘não vou sair daqui, vou me entupir de logo e vou ressignificar os símbolos'”, completa a antropóloga.

 

No outfit: bolsa de R$ 12 mil - Reprodução vídeo

"Quando a gente fala do preço, esse jovem poderia  comprar um videogame, mas ele quer entrar no universo do Kanye West."

Sobre as críticas ao consumismo, Carolina  acredita que o momento deveria ser de diálogo. "Tenho ouvido coisas do tipo 'a ostentação é lastro do capitalismo tardio', mas se a gente começa a ir para esse discurso, para o julgamento, a gente perde a oportunidade de debater e entender o que essa juventude está buscando." 

"Mas quando falamos em poder de compra e tem um estranhamento na sociedade, quase sempre isto está relacionado ao julgamento baseado no estereótipo racial e de gênero", conclui.

 

 

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