
Uma pesquisa conduzida pela Associação Americana de Medicina, de proporções inéditas e publicada há dez dias, revelou o tamanho de uma tragédia brasileira. Somos o país onde, em números absolutos, mais se morre por arma de fogo em todo o planeta. Em 2016, foram 43,2 mil mortes.
"São resultados que confirmam a gravidade do quadro brasileiro. São 63 mil pessoas vítimas de homicídio por ano", diz Silvia Ramos, coordenadora do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (Cesec) da Universidade Cândido Mendes.
O estudo, de responsabilidade de um painel de cientistas e especialistas em métrica abrangeu dados de 195 países e concluiu que as mortes por arma de fogo se transformaram em um problema de saúde pública de ordem global, atingindo um total de 251 mil mortes anuais, contra 209 mil em 1990. Dois terços dessas mortes são por homicídios; um quarto,suicídios, e um número nada desprezível - 22,5 mil -, acidentais.
O estudo mostra também o avanço dos países em relação ao combate aos homicídios, revelando casos de sucesso como o da Colômbia. O país reduziu sua taxa de mortes por armas de fogo dos 57,2 por cem mil habitantes de 1990 - próxima à de municípios fluminenses como Itaguaí e Nilópolis, mas bem inferior à de Queimados - para os atuais 26,1, ainda altíssimo, mas descrescente. O Brasil mantém, desde 1990, uma vexaminosa estabilidade na taxa de mortandade, que nos coloca 'à frente' de países como Iraque e Afeganistão. "Desde que ficou evidente que temos um caso grave em relação aos homicídios (70% deles são por arma de fogo), nenhum governo federal assumiu responsabilidades de reconhecer que, sim, o problema é grave, e o governo federal tem que coordenar os esforços de estados e cidades para enfrentar o problema", diz Silvia.
Na busca por culpados, o estudo lista um "candidato óbvio". "Facilidade de acesso é um fator reconhecido de risco relacionado às mortes por arma de fogo", diz o estudo, que ressalta a possibilidade de diferenças culturais e religiosas também exercerem papel importante.
"É óbvio que o maior controle do armamento em circulação, com foco na redução de armas de guerra em alguns territórios, com o aumento do controle da fabricação e distribuição de munições, terá que ser uma das frentes de um programa de redução de homicídios, que é urgente se quisermos responder a esse flagelo nacional", diz Silvia.
Diretor da Associação Brasileira de Profissionais de Segurança, Vinicius Domingues Cavalcante, diretor da Associação Brasileira dos Profissionais de Segurança, tem visão diversa. "Tentam nos convencer de que a quantidade de armas é o problema. Mas não é o armamento do cidadão que mata. O grande problema é o arsenal que está nas mãos dos criminosos".
"Muitas armas 'legais' são roubadas e passam a 'ilegais' nas mãos de assaltantes", lembra Silvia. "Desarmar unilateralmente o cidadão é a saída?", questiona Cavalcante.
O próximo presidente terá que encarar uma epidemia - e com urgência.

