Presença de agentes de segurança em episódios de violência armada teve aumento de 25%, chegando a 1.144 casos relatados este ano - Fernando Frazão/Arquivo Agência Brasil
Presença de agentes de segurança em episódios de violência armada teve aumento de 25%, chegando a 1.144 casos relatados este anoFernando Frazão/Arquivo Agência Brasil
Por Agência Brasil
Rio - A taxa de homicídios no Brasil aumentou 4,2% de 2016 para 2017, chegando ao recorde de 31,6 mortes para cada 100 mil habitantes. Segundo o Atlas da Violência 2019, divulgado hoje (5) pelo Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea) e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o Brasil teve 65.602 homicídios em 2017, um número absoluto 4,9% maior de que em 2016.

O indicador aumentou puxado pelo crescimento dos crimes cometidos nas regiões Norte e Nordeste, onde a taxa passou de 45 homicídios por 100 mil habitantes.
O Atlas da Violência mostra em sua mais nova edição que 75,5% das vítimas de homicídio no país são negras, maior proporção da última década. O crescimento nos registros de assassinatos no Brasil, que alcançou patamar recorde em 2017, atinge principalmente essa parcela da população, para quem a taxa de mortes chega a 43,1 por 100 mil habitantes - para não negros, a taxa é de 16. 

Para o presidente do Ipea, Carlos Von Doellinger, o estudo traz tendências preocupantes sobre a violência no país. Como economista, ele destacou que a violência também eleva os custos de se produzir no país, exigindo gastos públicos e privados que representam 5,9% do Produto Interno Bruto de 2016.

"Isso é uma coisa impressionante e mostra o peso que temos que carregar" disse Doellinger, que sublinhou que além de se discutir o custo tributário e burocrático de se produzir no país, é preciso levar em conta esse peso da violência. "É a face mais cruel", lamentou.

Norte e Nordeste
O Ipea aponta a disputa de facções sediadas no Sudeste como um dos possíveis fatores que explicam o crescimento da violência no Norte e Nordeste. Duas grandes facções do Rio e de São Paulo buscam o controle dos mercados varejistas locais de substâncias ilícitas no Norte e no Nordeste, assim como o controle das rotas para o transporte das drogas.

A diretora executiva do Fórum Brasileiro de Segurança, Samira Bueno, destacou que o Brasil ocupa uma posição geográfica que o coloca entre os países produtores de cocaína – Colômbia, Peru e Bolívia – e os mercados da África e Europa. Para controlar essa rota, as facções do Sudeste criam laços com fações regionais do Norte e Nordeste.

"Isso também se dá no contexto de fortalecimento das facções locais. Eles vão se associando às facções locais porque são elas que conhecem as rotas."

De 2016 para 2017, 15 unidades da Federação tiveram queda na taxa de homicídios e 12 tiveram aumento – em sete delas, a alta foi maior que 10%. O Ipea destaca que o país vive dois movimentos diferentes, com uma redução da taxa em estados como São Paulo, Paraná e Minas Gerais, e um aumento no Norte e no Nordeste, com destaque para o Ceará, onde a taxa cresceu 48,2% no período analisado.

O aumento do número de homicídios fez o Ceará superar São Paulo em números absolutos, apesar de o estado do Sudeste ter uma população cinco vezes maior. No estado nordestino, 5.433 pessoas foram mortas em 2017, enquanto, em São Paulo, o número caiu para 4.631.

Jovens
Publicidade
A população jovem (15 a 29 anos) foi a principal vítima de homicídios no Brasil, com 35.783 mortos em 2017, sendo 94,4% do sexo masculino. Enquanto a taxa de homicídios geral está em 31,6 por 100 mil habitantes, a de jovens chega a 69,9 assassinatos para cada 100 mil habitantes.

Em nove unidades da Federação, essa taxa passa de 100 mortes por 100 mil habitantes: Rio Grande do Norte (152,3), Ceará (140,2), Pernambuco (133), Alagoas (128,6), Acre (126,3), Sergipe (125,5), Bahia (119,8), Pará (105,3) e Amapá (100,2).

O Ceará também tem o maior crescimento da letalidade entre os jovens, com um aumento de 60% na taxa de homicídios.

Os assassinatos foram a causa de 51,8% das mortes na faixa etária de 15 a 19 anos. Entre 20 e 24 anos, o percentual chega a 49,4%, e, entre 25 e 29 anos, a 38,6%.