Ministro da Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes - Wilson Dias/Agência Brasil
Ministro da Ciência e Tecnologia, Marcos PontesWilson Dias/Agência Brasil
Por Juliana Mentzingen*
Rio - Em meio às comemorações pelos 50 anos da chegada do homem à Lua, o ministro Marcos Pontes concedeu uma entrevista exclusiva ao jornal O DIA para falar sobre a data histórica. O primeiro astronauta do Hemisfério Sul que viu a Terra de cima criticou a crescente corrente de terraplanistas no país. Ele também descreveu a sua experiência no espaço: "O nosso planeta é muito bonito. À distância, parece uma joia azul e branca. É como se fosse uma espaçonave que nos sustenta, com 7 bilhões de tripulantes". Pontes também falou sobre os desafios do governo, como interligar o país com internet 5G e intensificar as relações com órgãos internacionais, como a ONU e a Nasa. E ainda fez uma confissão: quer voltar ao espaço. Confira os principais trechos de um bate-papo de cerca de 30 minutos.
O DIA: Há uma corrente de pessoas que defendem a tese de que a Terra é plana. Como o senhor avalia isso?
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MARCOS PONTES: Falar em Terra plana é bobagem. Basta ver a História e a Ciência. É igual falar que água não é água. Existem muitas provas necessárias sobre a forma da Terra e de outros planetas. Isso, nos dias de hoje, não tem nem cabimento. Isso já está comprovado. Eu já vi do espaço, inclusive (risos). Não vale perder tempo com isso. Temos outras coisas mais relevantes para nos preocuparmos.
O DIA: O homem pisou na Lua há 50 anos. O que isso representa para quem já viu a Terra de cima?
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MARCOS PONTES: É um marco na história da Humanidade, da Ciência, da Tecnologia. Naquela época da década de 1960, com a tecnologia existente, você falar "nós vamos chegar à Lua. Vamos levar e trazer um homem com segurança", era preciso levar em consideração o tamanho do foguete, providenciar todos os equipamentos necessários, inclusive comida e alimentação dos astronautas. A meta era providenciar tudo isso em menos de dez anos. E eles conseguiram. Uma das coisas mais importantes foi essa atitude. É falar assim: "Sou capaz de vencer o desafio". Escolhemos desafios difíceis, porque são esses que valem a pena. Acho que esse é o aprendizado para toda a Humanidade.
O DIA: O senhor gostaria de voltar ao espaço?
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MARCOS PONTES: Sem dúvida. Hoje, é mais complicado por causa das minhas atividades e responsabilidades. Espero terminar essa missão como ministro. Até o ano passado, estava planejando retornar ao espaço. John Glenn, o primeiro americano a orbitar o planeta e o segundo a ir ao espaço, fez o seu segundo voo quando cheguei na Nasa, em 1998. Ele estava com 77 anos. Então, ainda tenho um caminho aí pela frente (o ministro tem 56 anos).
O DIA: Por que o senhor acha que foi escolhido como ministro pelo presidente?
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MARCOS PONTES: Tenho as capacidades técnicas para o cargo. Não fui escolhido antes porque, provavelmente, as opções eram políticas. Jair Bolsonaro teve a coragem de fazer escolhas técnicas. Então, escolheu uma pessoa com conhecimento e influência na área como astronauta e embaixador da ONU. Tenho experiência para estabelecer cooperações internacionais, trazer prestígio para o Brasil junto aos órgãos de ciência e tecnologia em organizações como a ONU, a Nasa. Tenho uma carreira de mais 30 anos trabalhando com Ciência e Tecnologia no país e no Exterior.
O DIA: Quais os principais desafios do governo?
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MARCOS PONTES: Quando fizemos a análise do ministério, na transição do ano passado, estabelecemos 12 prioridades com estratégias, programas e projetos. Isso inclui interligar o país com internet de banda larga, preparação para 5G, modernização da estrutura, ajudar na qualidade de vida, melhorar o ranking do país em inovações. Então, também temos desafios. Da mesma forma que os Estados Unidos, quando decidiram levar o homem à Lua.
O DIA: Quais são os planos para o setor espacial?
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MARCOS PONTES: O espaço está dentro da área de tecnologias estratégicas do ministério. Nós temos um programa espacial completo, mas ainda precisa ser desenvolvido. O centro espacial de Alcântara, no Maranhão, vai se tornar um centro comercial de uso civil, que vai gerar recursos para o programa espacial e para quem mora na região. Também vai ser positivo para o desenvolvimento de satélites e do nosso programa espacial.
O DIA: O Brasil ainda precisa avançar nesse setor?
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MARCOS PONTES: Não só o Brasil. O mundo todo. O espaço é um ambiente hostil para a saúde do ser humano e para o trabalho de máquinas. Mas a tecnologia está avançando continuamente. O Brasil não está no ponto que eu gostaria em termos de programa espacial. Mas vamos chegar lá. Não é um trabalho de quatro anos. Vou deixar bem encaminhado para o sucessor.
O DIA: O senhor segue uma linha ideológica?
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MARCOS PONTES: Sou um profissional de Ciência e Tecnologia. Não me preocupo com esses aspectos. Eu me alinho com o presidente Jair Bolsonaro para fazer o necessário pelo desenvolvimento do país.
O DIA: Como é ver o Planeta Terra do espaço?
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MARCOS PONTES: O nosso planeta é muito bonito. À distância, parece uma joia, uma pérola. Só para ressaltar a forma esférica do planeta, como se fosse uma joia azul e branca, com nuances assim. Da distância da estação espacial, ter a condição de ver detalhes na superfície é algo maravilhoso, difícil de descrever. É como se o planeta fosse uma espaçonave que nos sustenta, com 7 bilhões de tripulantes. Menos de 600 pessoas na história da Humanidade estiveram no espaço. E, se você conversar com todas elas, vão dizer a mesma coisa, que a sensação é que você se sente muito pequenininho perante o planeta. Mas, ao mesmo tempo, é parte de uma coisa muito grande, que é esse universo todo. É uma sensação estranha, que nos conecta mais com as pessoas.
O DIA: Como essa experiência mudou a sua vida?
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MARCOS PONTES: Eu me importo em cuidar da qualidade de vida das pessoas. Tudo o que eu faço é pensando nas pessoas. Isso vem dessa visão. Se a gente consegue ajudar outra pessoa, a nossa vida vale a pena. É como se fosse uma missão de vida, que hoje estendo para o ministério.
*estagiária sob supervisão de Herculano Barreto Filho