
"Este ato é justamente um modo de reiterar o descompromisso do presidente da República com a pandemia, que agora está chegando ao pico. Ou seja, ele mais uma vez demonstra desprezo pelas pessoas que estão morrendo", afirma Manoel Peixinho, advogado e professor da PUC-RJ.
"A Procuradoria-Geral da República deveria determinar a abertura de um inquérito para investigar a conduta do presidente. E mais: deveria entrar com uma medida preventiva para que esse churrasco não ocorra. Ele está ultrapassando mais uma vez os limites e tem plena consciência que está praticando um crime", diz Peixinho.
"Um churrasco hoje com todos os complicadores e riscos que todos sabem que tem, das duas uma: é uma total falta de amor à vida, descaso com o que se preconiza no mundo inteiro, é uma posição bastante de bastante risco. Ou é um jogo de futebol entre pessoas que já positivaram para a Covid-19", dispara Edimilson Migowski, infectologista.
O infectologista lembra que várias pessoas no Palácio do Planalto já tiveram a doença. "Com isso as pessoas se confraternizam de uma forma mais fácil", diz. Vale lembrar que mais de 23 pessoas que acompanharam o presidente Bolsonaro em viagem aos Estados Unidos testaram positivo para a covid-19. Inclusive o porta-voz da Presidência, Rêgo Barros, está afastado das suas funções porque foi infectado esta semana.
Para Clarisse Gurgel, cientista política e professora da Faculdade de Ciências Sociais, da Unirio, a atitude do presidente é o gesto de um insano e ele precisa ser contido antes de causar mais danos à sociedade. "Mas do insano a gente tem piedade, tem dó e procura cuidar, e pela ausência completa de empatia do presidente da República, é difícil que se desperte na sociedade mais lúcida o desejo por amparar uma pessoa como se tratasse de uma pessoa apenas doente", diz Clarisse.
"A ação do presidente demonstra seu desprezo pelo conhecimento científico que é o que embasa as medidas sanitárias que podem salvar vidas, recomendadas a OMS", adverte a advogada Izabel Nuñez, que é doutora em Antropologia e pesquisadora do Instituto Nacional de Estudos Comparados em Administração Institucional de Conflitos (INCT-InEAC).
"O desprezo do presidente pelo coletivo é chocante, ele faz uso de uma ética individualista que ecoa muito no Brasil, que é essa ideia de não ter responsabilidade com a saúde do outro. Ele não tem a ideia da saúde do coletivo", complementa Izabel.
Izabel adverte sobre a precariedade do sistema de saúde: "O presidente tem acesso a tratamentos, a hospitais e, obviamente, se ficar doente vai conseguir um leito de hospital e ignora que o país que ele governa é composto de pessoas que não têm direito a essa oportunidade. Os leitos já estão acabando em São Paulo e no Rio de Janeiro e os médicos já estão tendo que escolher quem vai ser internado ou não. E o presidente age desse jeito. tem esse aspecto desigual, que despreza o fato de que a população não tem
acesso à saúde pública de qualidade", lamenta Izabel.