Comunidades do Rio divulgam mapa do coronavírus nas favelas do Rio - Daniel Castelo Branco
Comunidades do Rio divulgam mapa do coronavírus nas favelas do RioDaniel Castelo Branco
Por O Dia

A pandemia de covid-19 agravou as desigualdades socioeconômicas e raciais na Educação. Foi o que revelou pesquisa do Data Favela, divulgada ontem pela Central Única das Favelas (Cufa), em parceria com o Instituto Locomotiva e a Unesco. Segundo o levantamento, a suspensão das aulas presenciais afetou 47,9 milhões de estudantes, mas o acesso ao método remoto de ensino prejudicou principalmente os estudantes das periferias e da rede pública.

Entre os motivos, a falta de experiência anterior de 89% dos professores da rede pública com aulas remotas. Além disso, 30% dos alunos das escolas públicas precisaram cuidar de algum parente idoso durante a pandemia. Conforme a pesquisa, apenas 21% dos estudantes das classes D e E (3/4 compostas por negros) têm acesso a computadores para acessar as aulas.

O levantamento revelou que só 39% dos alunos da classe C (metade formada por negros) têm computadores. Já 75% dos estudantes das classes A e B acessam o conteúdo. Nestas duas últimas classes, a presença de brancos é de 2/3.

Nas classes D e E, 73% dos estudantes só têm o celular para estudar a distância e 59% na classe C. Já na A e B, o número cai para 25%. Mesmo com smartphones, 26% dos alunos negros do Ensino Médio não participam das aulas.

Desigualdade é problema recorrente
As desigualdades sociais e raciais estão presentes na educação brasileira com ou sem pandemia. O estudo do Data Favela mostrou que negros são 6 a cada 10 alunos no ensino básico público, e quadro se inverte no ensino básico privado, 6 a cada dez alunos são não negros. No ensino médio público, para cada 10 alunos negros, existem 6 brancos. Já no particular, para cada 10 negros, há 17 brancos. Nas escolas de elite, para cada 10 estudantes negros, têm 24 brancos.

Ainda que 56% da população brasileira seja formada por negros, o ensino superior é composto por 54% de estudantes não negros. Somente 8% dos negros têm ensino superior completo, contra 19% dos não negros. Entre os que possuem graduação completa, 32% são das classes A e B, 6% da classe C e apenas 1% das classes D e E.

Entre as pessoas que não tiveram acesso a nenhum nível de ensino, 9% fazem parte da população negra e 6% da não negra. As classes mais afetadas pelo analfabetismo são as classes D e E, representado 11%, seguida da C, com 9% e apenas 3% das classes A e B.

Ainda que tenham concluído o ensino superior, os homens negros têm remuneração 32% menor que a de não negros. Já mulheres não negras têm salários 33% maior que as negras, mesmo com graduação completa. “É muito difícil resolver o racismo estrutural do Brasil, sem que se gere oportunidades de inclusão para a população negra”, afirmou Meirelles.

“A gente aprende a olhar para frente, porque a gente chama de progresso, desenvolvimento. Antes disso, a gente tem que olhar para trás, nos reconciliar com o passado, olhar de uma forma mais construtiva e, a partir disso, ser empurrado para frente”, ressaltou o professor, escritor e doutor em educação, Daniel Munduruku.
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Cultura sofre impactos das desigualdades
Ainda que a recreação e a cultura movimentem R$87,3 bilhões por ano, o acesso aos dispositivos de lazer é limitado. Enquanto 60% dos integrantes das classes A e B frequentam mensalmente shows, museus, exposições, teatros ou cinemas, apenas 34% das classes C, D e E fazem o mesmo.

Entre os não negros, 45% procuram essas modalidades de recreação por mês, contra 40% dos negros. Mesmo sendo ¾ da população, classes C, D e E respondem a apenas 43% das despesas com recreação e cultura, enquanto as classes A e B, a 57%. Brasileiros mais riscos gastam 3 vezes mais com essas áreas do que pobres.

A justificativa para a procura menor por lazer de classes mais pobres, é que este grupo pode dedicar uma parte menor do orçamento com cultura. Assim, famílias com renda de até R$1.908 gastam, em média, R$87,48, enquanto as que tem renda de até R$23.851, desembolsam uma média de R$5.687,28 com lazer.

"O principal obstáculo para o acesso à escola é a pobreza, que se conecta de forma muito estreita com o racismo. Na cultura, não é diferente. O acesso à cultura ainda é privilégio de alguns. Precisamos trabalhar juntos para que o direito à educação e à cultura sejam de fato de todos, sem exceção”, reforçou a diretora e representante da Unesco no Brasil, Marlova Noleto.
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