'É possível sonhar' oferece cursos de capacitação profissional das mulheres e libertá-las de relacionamentos tóxicos - Arquivo Pessoal
'É possível sonhar' oferece cursos de capacitação profissional das mulheres e libertá-las de relacionamentos tóxicosArquivo Pessoal
Por Maria Clara Matturo*

Com muita força e uma história de superação, a psicóloga Daniela Generoso, de 39 anos, fundou uma ONG para ajudar vítimas de abuso sexual e violência doméstica. Como consequência do isolamento social, ela relatou que os casos que chegam para ela cresceram em 160%. O grupo, que costumava atender de três a cinco crianças por dia, agora assiste de dez a 13 menores diariamente.

O instituto 'É possível sonhar' nasceu da vontade de Daniela em ajudar mulheres que tivessem histórias como a dela. "Eu fui abusada sexualmente, torturada psicologicamente e decidi morar na rua. Da mesma forma que fui resgatada e cuidada, queria poder retribuir o que fizeram por mim. Então, há dois anos e meio o instituto oferece acompanhamento psicológico para mulheres e crianças vítimas de violência e abuso". Além do acompanhamento, o grupo formado por Daniela ajuda as mulheres a saírem do ciclo da violência oferecendo cursos de capacitação profissional e auxiliando na recolocação delas no mercado de trabalho.

Uma das mulheres apoiadas pela ONG é Tamires Isquierdo, de 29 anos, que conseguiu se libertar do abuso doméstico que durou 12 anos. "Eu não conseguia sair de jeito nenhum. Agora, tem sete meses que me separei, estou bem, e a ONG foi essencial nesse processo. Nós, que já vivemos isso, somos muito manipuladas. A gente vive na esperança de que o homem vai mudar, mas nunca muda. Ele bate a primeira vez, a segunda, e a gente fica perdoando, achando que vai mudar. Encontrar um lugar para mim e para os meus filhos foi fundamental para que eu conseguisse dar o primeiro passo, que era sair e me desvencilhar, com o tratamento eu tive forças pra continuar", desabafou.

Infelizmente, a história da Tamires é a mesma de muitas outras mulheres. Um estudo do Datafolha, de 2019, mostrou que aproximadamente uma a cada quatro mulheres sofre com a violência doméstica no Brasil. Destas, 42% foram agredidas dentro da própria casa. Segundo a psicóloga e professora do IBMR Melissa Oliveira, as condições de violência estrutural são o que mais mantêm essas mulheres presas a esse tipo de relacionamento. "Existe uma naturalização da violência de gênero, quando elas procuram instituições que são voltadas para denunciar esse tipo de coisa, elas sofrem novas violências que envolvem a dúvida daquilo que elas estão contando e uma dificuldade de denúncia. Os familiares e amigos têm muita dificuldade de oferecer suporte, muitas mulheres narram que antes da denúncia já tentaram apoio da família e de que casamento é assim mesmo", explicou.

"Não é o homem que é nervoso, isso é violência. Oferecer um ombro amigo é também oferecer uma compreensão ampla dessas dificuldades", reforçou Melissa.

Se você está passando por essa situação, ligue para o 180 e denuncie!

O amor nunca será violento
O acompanhamento psicológico e estrutural é fundamental para o recomeço
O acompanhamento psicológico e estrutural é fundamental para o recomeçoArquivo Pessoal
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Para apoiar uma mulher que foi vítima de abuso, é preciso cuidado. "O primeiro de tudo é entender que essa violência existe. Se a gente não entende que as mulheres estão expostas a violências físicas e emocionais, porque são mulheres, nós não conseguimos ajudar", explicou a psicóloga Melissa Oliveira.
Dentro do amor, não existe espaço para violência. "Não podemos naturalizar estupro dentro do casamento, empurrão, nada disso é normal".
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Também é preciso mostrar que existe saída. "Precisamos ajudá-las a conhecer uma delegacia, uma ONG, um serviço de referência. É preciso conhecer essa rede de suporte e mostrar pra ela que existe saída, com estrutura financeira e afetiva", concluiu.
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