Caso Daniel Silveira: especialistas acreditam em cassação
Deputado segue preso após decisão da Câmara dos Deputados
Em maus lençóis após publicar nas redes sociais um vídeo com ataques diretos ao Supremo Tribunal Federal (STF) e pedir a volta do AI-5, maior instrumento de repressão do período da ditadura militar (1964-1985), o deputado Daniel Silveira (PSL-RJ) começará a ter o seu futuro político definido na próxima terça-feira, quando o Conselho de Ética da Câmara vai avaliar se o ex-policial militar praticou quebra de decoro parlamentar. Especialistas ouvidos pelo O DIA entendem que a situação do político é muito delicada e, ao que tudo indicia, ele deverá perder seu mandato.
Na opinião de Luiz Paulo Viveiros de Castro, advogado e professor da Escola da Magistratura do Estado do Rio de Janeiro (Emerj), o resultado da manutenção da prisão de Daniel Silveira na votação na Câmara dos Deputados, na última sexta-feira, por 364 votos a favor, 130 contra e três abstenções, é um dos sinais de que a cassação deverá acontecer. "A partir do momento que a Câmara, por uma maioria muito expressiva, foi pela manutenção da prisão, não tenho muita dúvida que no julgamento na Comissão de Ética irá propor a perda de mandato. Ele está isolado e não interessa a ninguém uma situação como essa", destacou.
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Segundo Taiguara Libano Soares e Souza, professor de Direito Penal da UFF e do Ibmec, resta ao parlamentar aguardar os trâmites burocráticos que deverão seguir a seguinte ordem. "Será feito um sorteio, onde uma lista tríplice será formada, e o presidente do Conselho de Ética escolhe um dos deputados dessa lista para ser o relator do processo. Feito isso, o deputado acusado é notificado para apresentar a sua defesa preliminar em um prazo de dez dias. Depois a defesa entra numa fase chamada instrução processual, que segundo o regimento interno do Conselho de Ética, deve perdurar por 40 dias úteis, podendo ser prorrogado por mais dez dias úteis, até que o relator do processo apresente o seu parecer, que será levado ao Conselho para votação. Tendo maioria, o processo será levado à deliberação no Plenário da Câmara dos Deputados", explicou.
Igor de Carvalho, advogado criminalista, mestre e professor de Direito Penal, explicou em qual cenário Daniel Silveira pode deixar a prisão. "A Procuradoria Geral da República, ao denunciar o deputado, não requereu a imposição de prisão preventiva. Portanto, legalmente falando, se a PGR continuar com esse mesmo entendimento, não há possibilidade de se manter a prisão. Ele deve ser solto, mas com aplicação de medidas cautelares, pois o código de processo penal é claro ao proibir a prisão decretada de ofício (sem pedido da outra parte, nesse caso do Ministério Público). Contudo, se ele vier a perder o mandato antes da análise dessa situação, a competência do STF se esgota, de forma que provavelmente o processo será enviado à primeira instância (provavelmente porque a jurisprudência quanto ao foro por prerrogativa de função se tornou bastante confusa, sobretudo porque o STF tem tomado decisões antagônicas e de acordo com o momento vivido — o que, além de tornar a jurisprudência confusa, macula a constituição federal). É um momento de muitos ineditismos, cujas consequências fazem com que os juristas fiquem num verdadeiro limbo, sem saber ao certo qual será a atitude que o STF tomará", destacou.