Em um vídeo publicado em sua rede social, o delegado chamou o parlamentar de "mentiroso" e "corrupto", alegando que Daniel tem o "mau hábito" de gravar conversas de políticos "dentro do ambiente da Câmara, se valendo disso para se autopromover". Durante uma entrevista ao O DIA, Laterça esclareceu o que quis dizer ao chamar Silveira de corrupto.
"Em uma conversa comigo ele falou 'tenho uma parada boa com empresa pra gente ganhar dinheiro', não sei se ele estava sugerindo ter alguma vantagem, fazer superfaturamento ou pra levar vantagem de empresas para ter determinada postura apresentar projetos, mas eu encurtei à conversa com ele dizendo que o dinheiro que não fosse depositado na minha conta legalmente não me interessava", explicou.
Quanto às gravações inadequadas, o deputado afirma que o fato é de conhecimento dos parlamentares que já conviveram com Daniel.
"Há anos atrás ele falou pra mim que grava conversas para ter garantia, chegou a ameaçar o deputado Rodrigo Maia, gravou nossa reunião dentro do PSL e divulgou isso. Ele disse para mim que também havia gravado o presidente da República. Daniel realmente faz o que ele fala e demonstra do que é capaz, se ele grava os parlamentares, o que mais ele pode gravar?", complementou o delegado.
A conduta e a prisão de Daniel Silveira
Além dos vídeos ameaçando ministros do STF e fazendo apologia ao AI-5, que o levaram à prisão em flagrante, o deputado Daniel Silveira tem deixado questionamentos abertos sobre sua conduta tanto como parlamentar, quanto Policial Militar. Prisões, faltas e mau comportamento marcaram o tempo de Silveira na PM. Somente entre 2013 e 2017, foram 26 dias de prisão, 54 dias de detenção, 14 repreensões e duas advertências.
No vídeo divulgado em suas redes, o delegado Felício Laterça chega a comentar o assunto: "Ele se intitula policial, mas não é, senhores. Eu acho que ele envergonha você, policial militar. Ele foi expulso da PM, um homem que se regozija de ser preso inúmeras vezes. Ele acha bonito ser feio e assim que ele agia como parlamentar".
Ao O DIA, Laterça reforçou que considera a conduta de Daniel inaceitável como deputado.
"Ele extrapolou e muito. No meu vídeo eu disse isso, como você se sentiria se ele ameaçasse à sua família? ele foi muito além, falou como se fosse um caçador, um vingador caçando ministro. Tudo bem você falar da instituição, que ela não está prestando papel, mas você tocar diretamente e nominalmente as pessoas em várias situações? ele realmente ofende e liberdade de expressão, imunidade parlamentar têm que ter os seus limites, não te dá o direito de xingar ofender e matar", complementou".
Climão no partido
Após a prisão do parlamentar, o clima pesou no PSL, fontes de O DIA informaram que um trabalho está sendo feito internamente para "limpar o partido de deputados com falta de ética".
Apesar de não comentar a informação, o vice-presidente do PSL no Rio afirmou que existe uma rachadura interna do partido e não é algo recente. "Na verdade o partido teve um racha em 2019, racha esse que ainda não foi consolidado, então pessoas que se chamam bolsonaristas se acham melhores que outros, mas na verdade toda a nossa votação é apoiando o governo do presidente. Esse problema vem se arrastando dentro do partido, está na hora do partido fazer uma depuração. Eu mesmo não falo com Daniel desde outubro de 2019", comentou Felício.
Próximos passos
Por fim, o deputado espera que a Câmara estabeleça o Conselho de Ética prometido pelo presidente Arthur Lira, durante a sessão que votou a manutenção da prisão de Daniel.
"A câmara dos deputados está letárgica, agora o deputado Arthur Lira promete mudar isso, inclusive. Acho que a partir de agora vamos ter andamento do próprio Conselho de Ética e espero que de fato isso aconteça, para que a Câmara funcione em sua plenitude, com aprovação de processos e reformas que o Brasil necessita e punição de parlamentares, seja ele qual for. Precisamos limpar a casa, é isso que a sociedade espera e nós precisamos mostrar o que nós queremos dela também".