Segundo fontes, que pediram para não se identificar, "preços praticados pela empresa estão abaixo do custo de mercado com margem negativa"
Segundo fontes, que pediram para não se identificar, "preços praticados pela empresa estão abaixo do custo de mercado com margem negativa"AGÊNCIA BRASIL
Por O Dia
Conhecidas por driblar a fiscalização de órgãos reguladores, sonegar milhões em impostos no mercado de combustíveis e pela proximidade com a principal facção criminosa de São Paulo, o PCC, a distribuidora Aster e a formuladora Copape estão prontas para invadir o mercado de combustíveis do Rio de Janeiro. A jogada passa pela aquisição da distribuidora fluminense Terrana, uma das maiores da região Sudeste e controlada pelo grupo norte americano World Fuel Services (WFS). As negociações, que estão avançadas, chamaram a atenção de autoridades, preocupadas com o modo fraudulento de operação das duas empresas e pelo impacto que pode trazer sobre os cofres do estado do Rio de Janeiro.

Segundo fontes do mercado, a Copape e a Aster montaram um esquema engenhoso de importação e distribuição de produtos que garante vantagem indevida frente a outros competidores. Tudo começa pela importação, organizada por outra empresa ligada ao grupo. A Terra Nova Trading traz a gasolina A importada dos Estados Unidos, por meio de sua filial no estado do Tocantins (TO). Lá paga alíquota reduzida de ICMS de 1% graças a uma lei estadual.

Em seguida, o produto é formulado pela Copape e segue para a Aster, que realiza a distribuição para outras distribuidoras ou diretamente para postos revendedores de varejo. Nos estados onde o produto é consumido, como São Paulo, Paraná e Santa Catarina, ocorre a perda de arrecadação do ICMS.

Reportagens publicadas por O DIA nos últimos meses destrincharam como as empresas sonegavam impostos e até a descoberta da instauração de inquérito pela Polícia Civil de São Paulo por adulteração de etanol anidro encontrado em tanque da Copape em Guarulhos.

Desde meados de 2020, a Copape é administrada por Renato Steinle de Camargo e Luiz Ernesto Franco Monegatto. Steinle também aparece como administrador da Aster Petróleo, que figura como a quarta maior distribuidora de combustível do país. Os números operacionais da Copape também chamam a atenção do mercado. Segundo dados da Agência Nacional do Petróleo (ANP), entre agosto e dezembro de 2020, a Copape vendeu cerca de 536 milhões de litros de gasolina C, o que representa 9% do mercado de gasolina do país, número que coloca a empresa como segunda maior fornecedora desse combustível no período.

De acordo com fontes do mercado, que pediram para não se identificar, “os preços praticados pela empresa estão abaixo do custo de mercado com margem negativa que pode chegar a R$ 0,20 por litro”. Ainda conforme essas fontes, somando-se a isso, “constata-se uma potencial evasão de tributos federais, com base nos volumes comercializados em dezembro, que variam entre R$ 1,1 e 1,5 bilhão por ano. As notas fiscais de novembro de 2020 já indicam potencial lavagem e evasão, pois evidenciam que, embora os preços médios praticados na venda do produto formulado da Copape para a Aster tenham sido de R$ 5,50, os preços praticados pela Aster na venda do produto recebido para outras distribuidoras teria sido de apenas R$ 4,20”.

Em dezembro do ano passado, a ANP autorizou a Terra Nova importar 1,5 bilhão de litros para os meses de janeiro e fevereiro de 2021. Este volume corresponde a quase totalidade da demanda brasileira de abastecimento em gasolina A do país por um mês inteiro. “É importante ressaltar que, caso a importação tenha sido de fato realizada, a operação deveria gerar cerca de R$ 1,3 bilhão em tributos. Será que esse dinheiro chegou mesmo aos cofres públicos?”, provoca uma das fontes.

Segundo relatos, o procurador dessas empresas, que consta em alguns processos por elas enfrentados, é também o advogado da rede de postos Mohamed, suspeita de ter dentre seus sócios integrantes da facção criminosa. Outra ligação com a facção é o mentor intelectual da operação das empresas Aster e Copape, conhecido como “Beto Louco”.
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