Presidente Jair BolsonaroDIDA SAMPAIO/ESTADÃO

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) afirmou, nesta quinta-feira, que o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, deve publicar um parecer para desobrigar o uso de máscara por parte de quem já foi vacinado ou contraiu a covid-19 e se recuperou, contrariando as recomendações de autoridades sanitárias do mundo todo.
"Acabei de conversar com um tal de Queiroga, não sei se vocês sabem quem é, e ele vai ultimar um parecer visando a desobrigar o uso de máscara por parte daqueles que foram vacinados ou que já foram contaminados. Para tirar esse símbolo, que obviamente tem a sua utilidade para quem está infectado", disse Bolsonaro durante um evento em Brasília.
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Mesmo com o desenvolvimento de anticorpos, quem contraiu covid-19 não está definitivamente protegido do risco de reinfecção e das variantes do novo coronavírus. A orientação dos órgãos de saúde é que a vacinação seja aplicada também a quem teve a doença.
Segundo especialistas ouvidos pelo DIA, o Brasil não tem um índice de vacinados o suficiente para tomar uma medida tão radical em relação ao uso das máscaras.
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"Vacinamos menos de 15% da população alvo, e estar vacinado significa ter feito as duas doses das vacinas, já que não temos, até o momento, vacinas de dose única no nosso país. Estar vacinado não significa não ter risco de adquirir a infecção e sim de reduzir o risco de adoecer de forma grave e óbitos. Se uma pessoa se infecta, ela poderá transmitir o vírus, seja ela vacinada ou não. É absolutamente inconcebível pensar em abandonar o uso de máscara num país com 2.484 mortes no dia de ontem (quarta-feira)", afirmou Tânia Vergara, presidente da Sociedade de Infectologia do Rio de Janeiro.
Ainda de acordo com a infectologista, liberar do uso de máscara para quem já se vacinou causaria somente uma maior propagação do vírus. "Comparo essa atitude a jogar uma ponta de cigarro acesa pela janela do carro numa estrada ladeada por mato seco", completou.
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Vale destacar que a não utilização das máscaras é uma das causas para o surgimento de novas variantes e de possíveis novas ondas, como afirmou a pneumologista e pesquisadora da Fiocruz, Margareth Dalcolmo, que ressaltou ainda que a declaração de Bolsonaro é prejudicial.
"As pessoas não deixam de usar máscaras de qualidade porque querem. Elas não usam por não terem condições de adquirí-las, por isso é importante que as pessoas recebam doações, assim como a Fiocruz está fazendo. O que favorece o surgimento de novas variantes é a taxa de transmissão da comunidade e a nossa está muito alta. Podemos ter novas variantes e novas ondas. Esse tipo de declaração [como a do presidente] não ajuda, atrapalha", lembrou Margareth.
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Para o infectologista e diretor médico na Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, Alberto Chebabo,  não existe a possibilidade da população brasileira abandonar o uso das mascaras no momento, tendo em vista a baixa taxa de vacinação no país. 
"Não consideramos isso uma possibilidade, estamos em um momento em que não há justificativa para liberar a população do uso de máscaras, mesmo entre vacinados. A vacina não diminui o risco de transmissão, ela diminui o risco de a pessoa ficar doente, e principalmente de doenças graves. Mesmo entre vacinados existe o risco de se infectar e a máscara é a nossa melhor barreira. Não há motivos para as pessoas pararem de usar máscara. Acredito que o problema maior é que o Brasil tem uma cobertura vacinal muito baixa e uma situação viral muito alta. Os países que aboliram o uso de máscara, vivem outra situação, com menos de 10 casos por dia e, às vezes, zero mortes", declarou Chebabo.
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Depois que os primeiros países optaram por autorizar a dispensa do uso de máscaras por pessoas vacinadas, a Organização Mundial da Saúde (OMS) pediu cautela aos governos. Segundo a OMS, a dispensa desses cuidados pode acontecer quando não há mais transmissão comunitária da doença e não depende apenas da vacinação contra a covid-19.
"A pandemia não terminou, há muita incerteza com as novas variantes e precisamos manter os cuidados básicos para salvar vidas", afirmou Maria van Kerkhove, líder técnica para a covid-19 da OMS.
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*Estagiários sob supervisão de Thiago Antunes