Ex-governador do Rio, Wilson Witzel, presta depoimento na CPI da Covid nesta quarta-feiraEdilson Rodrigues/Agência Senado

Por ESTADÃO CONTEÚDO
Em depoimento à CPI da Covid, o governador cassado do Rio Wilson Witzel disse que foi alvo de retaliações por parte do governo federal, em razão de críticas que dirigiu ao presidente Jair Bolsonaro e sua administração. "Governo e o presidente começaram a me retaliar. Tínhamos dificuldade de falar com ministros para sermos atendidos. Vi (Paulo) Guedes em avião e ele virou a cara e saiu correndo dizendo 'não posso falar com você'", relatou o ex-governador, que afirmou ter havido contingenciamento de verbas durante processo de impeachment no Rio.
Ele contou ainda sobre um episódio com ex-ministro da Justiça Sergio Moro no qual o ex-juiz federal teria passado um "recado" de Bolsonaro a Witzel. Segundo o relato do ex-governador, Moro disse a ele para "parar de falar que quer ser presidente", a pedido de Bolsonaro. "Acho que papel de menino de recado não se espera de você que, como eu, é magistrado de carreira", afirmou Witzel sobre o que teria dito ao ex-ministro. Segundo o governador cassado, Moro relatou a ele que a reunião entre os dois não poderia se tornar pública.
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"Há indícios de intervenção no RJ no caso Marielle e atos de perseguição contra mim", disse o ex-governador, segundo quem Bolsonaro o chamou de "estrume, ditador e leviano".
Segundo ele, o governo federal criou uma narrativa para colocar os chefes dos Executivos dos estados em uma situação de fragilidade porque eles tomaram as medidas necessárias de isolamento social para o combate à pandemia. 

'Limpando a barra'

O membro bolsonarista da CPI da Covid, senador Jorginho Mello (PL-SC), criticou, em publicação no Twitter, a oitiva do governador cassado. "O depoente Witzel veio à CPI pra responder os questionamentos ou fazer discurso barato pra ver se limpa a sua barra e joga a culpa da sua gestão vexaminosa no colo do Governo Federal? Francamente. Ainda temos que ouvir que ele e Lula são vítimas de 'pau de arara moderno'", escreveu.
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Acompanhe a sessão ao vivo:
Witzel disse que a demora na criação do auxílio emergencial dificultou o combate à pandemia nos estados, como foi o caso do Rio. "São várias declarações minhas em que afirmei que assim nós poderíamos fazer com que o governo federal rapidamente aprovasse o auxílio emergencial, para que a população se sentisse acolhida".
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Carreatas promovidas por deputados 
Witzel também afirmou que deputados estaduais e federais do Rio organizaram e participaram de carreatas que desobedeciam o decreto que determinava o isolamento social no estado. "As carreatas eram organizadas contra as medidas de isolamento. [Deputados estaduais e federais] organizavam as carreatas. Como um Governador do Estado decreta e, ao invés de se ir ao Judiciário para questionar a decisão, faz-se um movimento de desobediência civil, motivando carreatas contra a decisão", disse.
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Entre os deputados que Witzel cita como promotores desses movimentos contra o isolamento estão os deputados estaduais Filippe Poubel (PSL), Anderson Moraes (PSL -RJ), Alana Passos (PSL-RJ), e o deputado federal Otoni de Paula (PSC-RJ). 
Em nota, Poubel afirmou que não tratará bem Witzel, pois, segundo o deputado, o ex-governador do Rio é corrupto e "tem sangue nas mãos". "Tenho sangue nos olhos para fiscalizar enquanto o ex-governador tem sangue nas mãos. Seguiremos fiscalizando e denunciando à polícia e aos órgãos fiscalizadores", diz trecho do comunicado enviado à imprensa.