Publicado 10/08/2021 17:08 | Atualizado 10/08/2021 17:13
Brasília - Com o avanço do aquecimento global, o Brasil deve sofrer com eventos climáticos extremos mais frequentes, como estiagens no Nordeste e no Centro-Oeste e enchentes em cidades do Sudeste. São possíveis ainda efeitos negativos na economia, como forte queda da produção agrícola. É o que indica o novo relatório do Painel Intergovernamental sobre o Clima da ONU (IPCC), apresentado na segunda-feira (10), na análise para as Américas do Sul e Central.
Conforme o IPCC, os efeitos para o Sudeste, onde os aumentos nas precipitações média e extrema são observados desde a década de 1960, virão com ainda mais tempestades. Na região mais populosa do Brasil, cidades já castigadas todos os anos pelas chuvas, como São Paulo, Rio e Belo Horizonte, devem enfrentar o problema com mais intensidade e frequência, e haverá crescimento de inundações.
Com grandes porcentuais de impermeabilização de seus solos, as cidades são consideradas "hotspots" do aquecimento global, normalmente mais quentes que as áreas em redor. Essas mudanças, projetadas para um aumento médio de 2ºC, serão acompanhadas das elevações de emissões de gases de efeito estufa, aerossóis e destruição da camada de ozônio.
O mesmo processo deverá ocorrer no Nordeste, com um agravante: a região terá aumento das inundações causadas por tempestades, mas também sofrerá com secas mais longas. Entre 2012 e 2017, a mais longa estiagem já registrada afetou os Estados nordestinos. Foram seis anos com chuvas abaixo da média, já a mais baixa do País.
E os problemas apontados pelo IPCC não param por ai. Na região central do continente, sob influência climática da chamada Monção Sul-americana, que sofrerá forte alteração em seu comportamento, as projeções apontam para o aumento das secas em meados do século 21, o que afeta a Região Centro-Oeste do Brasil Essa mudança atingirá também a produção agrícola, um dos principais motores da economia brasileira. Cenários com a maior frequência de incêndios e desertificação são também considerados de alta probabilidade.
Vale ressaltar que o Cerrado desempenha papel essencial no apoio ao ciclo da água no Brasil, uma vez que é fonte de 8 das 12 bacias hidrográficas do País. O desmatamento contínuo reduz as chuvas e aumenta as temperaturas locais, colocando também em risco a vegetação remanescente e a produção de alimentos. Em 2020, por exemplo, a estiagem atrapalhou o início do plantio de soja. Neste ano, o País vive estiagem histórica, que põe no horizonte o risco de racionamento energético.
O aumento do nível do oceano ameaça a costa brasileira. De acordo com o IPCC, em comparação com o nível médio global do mar, nas últimas três décadas o nível relativo aumentou mais no Atlântico Sul e no Atlântico Norte.
O relatório considera ser "extremamente provável que o aumento do nível do mar relativo continue nos oceanos ao redor da América Central e do Sul, contribuindo para o aumento das inundações costeiras em áreas baixas e recuo da costa ao longo da maioria costas arenosas.
Ministérios têm visão distinta; Biden e Johnson cobram ação
O Ministério do Meio Ambiente disse que "o compromisso brasileiro é uma meta porcentual de redução de emissões frente ao ano base de 2005 e, por ser de longo prazo, não foi e não deve ser alterada". "Ela é uma das mais ambiciosas entre os países em desenvolvimento." Já o Ministério da Agricultura considerou que "o documento traz cenários preocupantes de mudanças do clima, evidenciando ainda mais a vulnerabilidade do setor" e falou em "prejuízos incalculáveis".
Outras autoridades mundiais mostraram preocupação. O presidente dos EUA, Joe Biden, afirmou que o mundo não pode mais esperar para enfrentar a crise climática. "Os sinais são inconfundíveis. A ciência é inegável. E o custo da inação continua escalando." Comentário semelhante foi feito pelo enviado especial do país para questões relacionadas ao clima, John Kerry. "O que o mundo exige agora é uma ação real. Todas as grandes economias devem se comprometer com ações climáticas agressivas nesta década crítica " O primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, afirmou que o IPCC faz uma "chamada de atenção".
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