Ao deixar o governo Bolsonaro, Moro afirmou que o chefe do Executivo tentou interferir em investigações da PF, o que desencadeou o inquérito AFP
"Que confirma que em meados de 2019 solicitou ao ex-ministro Sergio Moro a troca do Diretor Geral da Polícia Federal DPF Valeixo, em razão da falta de interlocução que havia entre o presidente da República e o diretor da Polícia Federal. Que não havia qualquer insatisfação ou falta de confiança com o trabalho realizado pelo DPF Valeixo, apenas uma falta de interlocução", registrou a PF no depoimento de Bolsonaro.
A oitiva ocorreu na noite desta quarta-feira, 3. Segundo determinação feita no dia 7 de setembro pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, o depoimento deveria ser tomado presencialmente em um prazo de até 30 dias.
Bolsonaro também afirmou que não tentou obter informações privilegiadas ao trocar o comando da corporação, segundo trecho exposto na transcrição do depoimento. “Que nunca teve como intenção, com a alteração da Direção Geral, obter informações privilegiadas de investigações sigilosas ou de interferir no trabalho de Polícia Judiciária ou obtenção diretamente de relatórios produzidos pela Polícia Federal”.
O presidente repetiu a acusação de que o ex-juiz da Lava Jato teria concordado em colocar o delegado Alexandre Ramagem na chefia da PF "desde que ocorresse após a indicação do ex-Ministro da Justiça à vaga no Supremo Tribunal Federal". Além disso, afirmou que o ex-ministro estava "administrando a pasta sem pensar no todo, sem alinhamento com os demais ministérios e o Gabinete da Presidência".
Em nota, a defesa do ex-ministro Sérgio Moro reagiu ao fato de que não foi comunicada do depoimento, "impedindo seu comparecimento a fim de formular questionamentos pertinentes" (leia a íntegra da nota ao fim da matéria).
O ex-decano Celso de Mello, ao determinar que Bolsonaro prestasse o depoimento presencialmente, havia autorizado os advogados do ex-juiz a formularem perguntas a serem feitas ao chefe do Executivo.
O inquérito foi aberto pelo STF em abril do ano passado, a pedido da Procuradoria Geral da República (PGR), após acusações feitas pelo ex-ministro da Justiça Sergio Moro. Ao deixar o governo Bolsonaro, Moro afirmou que o chefe do Executivo tentou interferir em investigações da PF ao cobrar a troca do chefe da Polícia Federal no Rio de Janeiro e ao exonerar o então diretor-geral da corporação Maurício Valeixo, indicado por Moro. Bolsonaro negou ter tentado interferir na corporação.
"A Defesa do ex-ministro Sérgio Moro foi surpreendida pela notícia de que o presidente da República, investigado no Inquérito 4831, prestou depoimento à autoridade policial sem que a defesa do ex-ministro fosse intimada e comunicada previamente, impedindo seu comparecimento a fim de formular questionamentos pertinentes, nos moldes do que ocorreu por ocasião do depoimento prestado pelo ex-ministro em maio do ano passado. A adoção de procedimento diverso para os dois coinvestigados não se justifica, tendo em vista a necessária isonomia entre os depoentes.
Rodrigo Sánchez Rios. Advogado do ex-ministro Sergio Moro"
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