Julgamento de quatro acusados do incêndio na Boate Kiss começou na última quarta-feiraLeandro LV/ Wikimedia Commons

O julgamento do caso da Boate Kiss chega ao 4º dia neste sábado, quando devem ser ouvidos o empresário e organizador de eventos Alexandre Marques e o sobrevivente Maike Ariel dos Santos. Ao todo, quatro réus respondem por 242 homicídios com dolo eventual, quando se assume o risco de matar, e 636 tentativas de homicídio, em referência à quantidade de feridos após o incêndio que atingiu a casa de shows em janeiro de 2013, em Santa Maria, no Rio Grande do Sul.
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Nesta sexta-feira, 3, Vanessa Gonzaga Noronha, irmã de uma das vítimas da tragédia prestou depoimento ao júri e relatou os momentos de angústia vividos pela família. "Queremos um pouco de paz, foram oito anos de luta e de perda", desabafou a irmã. Ela reforçou, ainda, que foram anos de impotência à espera de uma resposta. "Precisamos disso para acalentar nossos corações, para não deixar que isso torne a acontecer. Podemos ter esperado todo esse tempo, foi doloroso, mas chegamos até aqui", disse.
Uma ex-funcionária da boate, que foi a primeira testemunha a prestar depoimento, na quarta-feira, 1, mostrou o ponto de vista de quem estava no local no momento do incêndio e contou que sobreviveu por muito pouco. "A Kiss era um labirinto, eu mesmo trabalhava lá e quase não consegui sair", afirmou. Quando se iniciou o incêndio ela estava na cozinha, preparando lanches para os clientes, junto à colega Janaína, jovem que morreu na tragédia. Ao perceber que havia algo errado, Kátia teve dificuldade de deixar o espaço, que ficava relativamente próximo à saída.

"Escutava gente gritando que era fogo e gente gritando que era briga. Não sabia o que estava acontecendo. Quando senti que era fogo mesmo, respirei fundo e tentei sair. Mas tinha gente empurrando porque a porta da cozinha era perto dos banheiros, e tinha gente imaginando que o banheiro era a saída", acrescentou. Relatos da época indicam que diversos corpos foram encontrados no banheiro após o incêndio.
Ainda na quarta-feira, um dos quatro réus do caso passou mal antes do início do julgamento no Foro Central de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. O produtor musical Luciano Bonilha Leão, de 44 anos, precisou ser atendido no ambulatório do local. Ao chegar no julgamento, ele não falou com a imprensa, porém deu a seguinte declaração: "Eu não sou assassino".
Segundo a denúncia do Ministério Público, Luciano foi a pessoa que comprou e ativou o fogo de artifício e que deu início ao incêndio e provocou a morte de 242 pessoas. Além dele, também são acusados os empresários e sócios da boate, Elissandro Spohr e Mauro Hoffmann, e o músico Marcelo de Jesus dos Santos, que além das mortes também são investigados pela tentativa de homicídio de outras 636 que tiveram ferimentos com o incêndio.