Empresário e cantor Almir MattiasReprodução: redes sociais

São Paulo - O empresário e cantor sertanejo Almir Mattias, investigado por fraudar compras de respiradores para o tratamento da Covid-19, foi preso na manhã desta quarta-feira, 31, durante uma operação da Polícia Federal (PF) de Santos, no litoral de São Paulo. Segundo a PF, uma parte do dinheiro desviado teria sido usado para tentar impulsionar a carreira musical do suspeito. 
A prisão ocorreu durante a Operação Ar Puro, que investiga a aquisição de respiradores com dinheiro da União. De acordo com a PF, os equipamentos eram proibidos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), "por sua comprovada ineficiência no tratamento da doença respiratória causada pelo coronavírus".
Foram cumpridos mandados de busca e apreensão e prisão na cidade de São Paulo. Mattias foi levado para a sede da Polícia Federal em Santos. Ele foi indiciado pelos crimes de corrupção ativa, lavagem de dinheiro e organização criminosa. 
Em nota enviada para o jornal O Dia, a defesa do cantor diz que "foi decretada a prisão preventiva do Almir, em relação a um inquérito que trata da compra de respiradores na cidade de Guarujá. Ele já passou pelo exame de corpo e delito e irá passar pela audiência de custódia, ainda hoje".
A PF não divulgou quem são os outros alvos da Operação Ar Puro. Se condenados, os investigados devem cumprir penas que variam de 11 a 18 anos de reclusão e multa.
Outras investigações
O cantor Almir Matias é suspeito de envolvimento em um esquema de corrupção que teria desviado 70% do valor recebido para gerenciar os serviços públicos de saúde da Prefeitura de Guarujá. Entre os R$ 153 milhões pagos, ele teria ficado com R$ 109 milhões.
Ao portal G1, a Polícia Federal afirma que uma parte da fortuna desviada foi usada para tentar impulsionar a carreira musical dele. Almir Mattias, que é cantor de sertanejo, produziu videoclipe, fez shows e tem fã-clube nas redes sociais. Outra parte do dinheiro teria ido para empresas ligadas ao cantor — até mesmo um salão de beleza, que recebeu R$ 12 milhões durante a pandemia.
A PF suspeita que organização criminosa era liderada pelo prefeito Valter Suman e a primeira-dama Edna Suman. As investigações apontam o secretário de Educação do Guarujá, Marcelo Nicolau, como operador do esquema. 
Em entrevista ao 'Fantástico', o prefeito negou ter proximidade com Almir Mattias. No entanto, há registros de mensagens trocadas com a primeira-dama Edna Suman, pedindo para ela buscar R$ 50 mil com o cantor. De acordo com as investigações, essa ação é propina. O prefeito Valter Suman chegou a ser preso. No momento, ele responde em liberdade.
Almir Mattias

Segundo a Polícia Federal, além de cantor Mattias é empresário, controla Organizações Sociais. Uma delas foi contratada, entre os anos de 2018 a 2021, para gerenciar o atendimento nas principais unidades de saúde do Guarujá.

As Organizações Sociais do cantor firmavam contrato de gestão com as prefeituras para atuar na administração da saúde, realizar contratações públicas de modo simplificado e firmar contratações superfaturadas. Os recursos por serviços não prestados eram repassados para empresas fantasmas.

De acordo com a PF, a esposa de Almir, Cleide Rosa da Silva, é coparticipante na organização criminosa, sendo a controladora da movimentação bancária da empresa para onde eram desviados os recursos públicos e feita a lavagem do dinheiro.
Posicionamento da Prefeitura do Guarujá
A Prefeitura do Guarujá se manifestou sobre a operação da Polícia Federal e as investigações sobre as denúncias de fraude. Por meio de nota oficial, a administração municipal reconhece as irregularidades e diz que tomou providências para impedir a continuidade da ação criminosa:
"A Prefeitura de Guarujá informa que investigou irregularidades cometidas pela Organização Social (OS) Pró Vida em 2021, que culminaram com a desqualificação da mesma no dia 9 julho, após uma intervenção realizada pelo Município nos contratos mantidos pela organização, que administrava a UPA Dr. Matheus Santamaria (Rodoviária) e 15 Unidades de Saúde da Família (Usafas). A desqualificação impede que a organização volte a contratar com qualquer esfera do poder público", destaca a nota.
A Secretaria de Saúde do município ressalta que os equipamentos adquiridos de forma fraudulenta não chegaram a ser utilizados nas unidades médicas. Segundo a Prefeitura, logo que identificado o problema, a Polícia Civil foi acionada.

A nota destaca ainda que as irregularidades "culminaram com a apresentação de uma Ação Civil Pública pela Advocacia Geral do Município contra a OS Pró Vida, com mais de 35 mil páginas, pedindo o ressarcimento de R$ 105 milhões aos cofres públicos municipais, os quais foram repassados pela Prefeitura".
A ação tramita na Justiça desde julho de 2021.