Secretário nacional de Saúde Indígena, Ricardo Weibe TapebaWalterson Rosa

Após visitar três comunidades do território Yanomami e passar quatro dias em Boa Vista, para onde centenas de adultos e crianças foram transferidos para receber atendimento médico adequado, o secretário nacional de Saúde Indígena, Ricardo Weibe Tapeba, afirmou na última segunda-feira, 23, que os cerca de 30,4 mil moradores da tribo  estão "à mercê do crime organizado". O secretário ainda defendeu a retirada dos garimpeiros do território e medidas que impeçam retorno.
Em relação a presença ilegal de aproximadamente 20 mil garimpeiros que, com sua atividade, poluem os rios da região e destroem parte da Floresta Amazônica, além de disseminar várias doenças entre os indígenas, Weibe Tapeba contou a jornalistas que os invasores da maior reserva de usufruto indígena do país não se intimidam nem mesmo com a presença de militares fortemente armados.
"Nos últimos dias, visitamos três comunidades. Em duas delas fomos entregar alimentos. Só foi possível chegarmos a essas localidades graças à presença das Forças Armadas", contou Weibe Tapeba, defendendo a importância dos órgãos públicos se unirem para retirar os não índios do interior da terra indígena e para adotar medidas que impeçam o retorno dos garimpeiros à área.
"Precisamos implementar um plano de desintrusão do território", afirmou o secretário nacional, lembrando que já há uma determinação do Supremo Tribunal Federal (STF), de 2020, para que o governo federal remova todos os invasores de sete terras indígenas do país, incluindo o território Yanomami. A medida, que o ministro Luís Roberto Barroso, do STF, chegou a classificar como "imperativa, imprescindível e um dever da União", se aplica também a madeireiros que extraem recursos florestais da reserva.
"(Ao visitar as comunidades), descemos dentro do garimpo, que praticamente invadiu as aldeias. As comunidades estão à mercê do crime organizado. E não digo garimpeiros, mas sim crime organizado, porque há muitas pessoas armadas, coagindo (os índios) e sem se intimidar com a presença das Forças Armadas", disse Weibe Tapeba.
Irregularidades
O secretário ainda comparou a "um cenário de guerra" a situação que os yanomami enfrentam em seu território. "Pudemos perceber o estado de degradação em que o povo yanomami tem vivido. O estado de calamidade no território. É um cenário de guerra. E a nossa unidade de saúde indígena, nosso polo-base de Surucucu, assim como a nossa Casa de Apoio à Saúde Indígena (Casai) aqui em Boa vista, são praticamente campos de concentração", disse.

Weibe Tapeba também revelou que as equipes que o Ministério da Saúde enviou de Brasília a Roraima estão produzindo um relatório que será entregue à ministra Nísia Trindade, com os principais problemas identificados e sugestões. Neste trabalho, os técnicos da pasta afirmam ter se deparado com indícios de possíveis irregularidades em contratos.

"Conseguimos identificar algumas fragilidades e indícios de irregularidades em alguns contratos. Pretendemos implantar uma auditoria interna para acompanhar esta questão", revelou Tapeba, enfatizando que, por ora, só há suspeitas.
"O fato é que é um absurdo pensarmos na possibilidade de desvio de recursos para medicamentos, mas também estamos acompanhando um cenário bem complicado em relação à contratação de horas/voo, que é o principal contrato, a principal ação que temos realizado no território yanomami", acrescentou o secretário, explicando que, em função da dificuldade de acesso e distância, a contratação de voos é necessária tanto para transporte de servidores e indígenas, quanto de suprimentos.

"Mas já estamos elaborando um plano estratégico que vai desde a parte da infraestrutura logística, até o aperfeiçoamento de contratos de serviços continuados. Não podemos sequer pensar em paralisar estes serviços", comentou Weibe Tapeba, criticando o que classificou como "o aparelhamento dos distritos sanitários especiais indígenas pelo militarismo" durante o governo anterior.
"O militarismo aparelhado dentro da saúde indígena representa muito atraso e precisamos resolver isso", finalizou o secretário, alegando que o governo federal está "acelerando" a exoneração de muitos dos coordenadores que permanecem em seus cargos.