Uruguaiana - O testemunho de funcionários dos órgãos de fiscalização que participaram da operação de resgate de 56 pessoas resgatadas em condição de trabalho análogo à escravidão, entre elas, dez adolescentes, em Uruguaiana, Rio Grande do Sul, choca a todos que leem os relatórios. Além da carga horária excessiva e racionamento de água durante a jornada nas duas propriedades rurais fiscalizadas, os trabalhadores dividiam até comida azeda.
"'Nós próprios nos assustamos com a degradação do trabalho. Não é só um trabalho braçal ao sol, é esse trabalho sem fornecimento de água, sem local para guardar alimento e fazer a refeição. A comida deles azedava e eles tinham que repartir o que não azedava entre eles. Sem local de descanso, então muitas vezes tinham que dormir embaixo do ônibus, que era onde tinha sombra", disse, ao 'g1', o auditor-fiscal do trabalho Vítor Siqueira Ferreira.
Na operação, que contou com o apoio da Polícia Federal (PF), Ferreira relatou que as equipes chegaram ao local na horário do intervalo. Durante a vistoria, o auditor revelou que alguns trabalhadores dormiam em espumas e improvisavam até camisas como colchão. A comida, além azeda, estava infestada de formigas.
"As pessoas estão sendo obrigadas a vender sua dignidade como trabalhador em troca de um valor para a sua subsistência. Elas deveriam vender sua força de trabalho por condições dignas, o que não acontecia", disse Vitor.
Durante a finalização, foi constatado que os trabalhadores não usavam qualquer tipo de proteção na aplicação de agrotóxicos na plantação de arroz e improvisavam equipamento, como uma faca de uso doméstico, na colheita. O Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) informou que eles recebiam diária de R$ 100.
De acordo com a Polícia Federal, entre os resgatados há dez adolescentes, com idade entre 14 e 17 anos. O MPT confirmou que os trabalhadores eram da própria região, vindos de Itaqui, São Borja, Alegrete e de Uruguaiana. O responsável pela contratação da mão de obra foi preso em flagrante.
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