Publicado 03/04/2023 17:55
São Paulo - Medo, frustração e sensação de impotência. A semana que começou com a morte de uma professora por um aluno de 13 anos terminou para os docentes das escolas estaduais de São Paulo sem caminhos claros para evitar que a tragédia se repita. "A gente se sente de mãos atadas", diz uma professora de Biologia, que trabalha na zona norte e pediu para não ser identificada. "Tenho muita frustração por não conseguir educar, ensinar nossos alunos a serem pessoas melhores, a viver em sociedade."
Outra coordenadora de uma escola na zona leste fala da dificuldade para tratar o tema. "Falta alguém para direcionar o que temos que fazer, que tipo de dinâmica? E se eu abro uma roda de conversa e isso vira um gatilho?" Com medo, depois do ataque à Escola Thomazia Montoro, a profissional que trabalha há mais de 20 anos com adolescentes, diz que gostaria de voltar a ensinar apenas crianças. Colegas falam em adiantar a aposentadoria.
"Desde a pandemia, os problemas de saúde mental só pioram, todo dia tenho um aluno em crise, menino tremendo, taquicardia, aí você fala para procurar o SUS, não tem vaga" completa ela, que também pediu anonimato. Estudos do Instituto Ayrton Senna mostraram em 2022 que 69% dos alunos tinham sintomas de ansiedade ou depressão na rede estadual. Pesquisas internacionais indicam alto índice de doenças psiquiátricas entre estudantes.
Outra coordenadora de uma escola na zona leste fala da dificuldade para tratar o tema. "Falta alguém para direcionar o que temos que fazer, que tipo de dinâmica? E se eu abro uma roda de conversa e isso vira um gatilho?" Com medo, depois do ataque à Escola Thomazia Montoro, a profissional que trabalha há mais de 20 anos com adolescentes, diz que gostaria de voltar a ensinar apenas crianças. Colegas falam em adiantar a aposentadoria.
"Desde a pandemia, os problemas de saúde mental só pioram, todo dia tenho um aluno em crise, menino tremendo, taquicardia, aí você fala para procurar o SUS, não tem vaga" completa ela, que também pediu anonimato. Estudos do Instituto Ayrton Senna mostraram em 2022 que 69% dos alunos tinham sintomas de ansiedade ou depressão na rede estadual. Pesquisas internacionais indicam alto índice de doenças psiquiátricas entre estudantes.
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Na semana passada, após o caso da escola na Vila Sônia, muitas escolas ouvidas pelo Estadão disseram que passaram a mapear alunos com perfil agressivo ou isolado, numa tentativa de prevenção. "A gente levantou o nome de crianças que se isolam, que ficam no canto, com blusa no calor, criou um olhar para detectar problemas", conta a professora de História Janaína de Paula, que dá aulas em São Mateus, zona leste. "Em reunião, eu falei para focar nesses alunos mais apáticos, que se excluem de tudo e todos. Fica esse clima de medo, como se todo mundo fosse suspeito", completa a coordenadora.
Em outra escola, pais foram chamados com urgência para discutir a situação do filho. Mas profissionais relatam que muitas vezes têm dificuldades com famílias que não levam crianças e adolescentes para tratamento e, quando o fazem, o sistema é lento. "O professor virou psicólogo, psiquiatra, conselheiro tutelar", diz o coordenador de uma escola de Mauá, na Grande São Paulo, André Sapanos. "É muita apreensão, você sente que cada vez chega mais perto", diz, sobre o ataque à escola.
Atenção
Segundo a polícia, o adolescente que matou a professora Elisabeth Tenreiro, de 71 anos, havia sido encaminhado para um Centro de Atenção Psicossocial (Caps), mas não houve continuidade do tratamento. Procurada, a secretaria municipal de Saúde disse que o "tempo e a proposta de atendimento podem variar de acordo com a especificidade do caso". E que "as equipes fazem busca ativa dos pacientes faltosos".
Durante a pandemia, o governo estadual contratou uma empresa que fornecia sessões com psicólogos online. Professores reclamam que os atendimentos eram feitos com a sala toda, sem frequência definida e pouco efetivos. A gestão atual encerrou o serviço em fevereiro e iniciou o processo para contratar 150 mil horas de psicólogos que atenderão de forma presencial. A previsão é para início em maio. Em nota, também afirmou que vai aumentar de 500 para 5 mil educadores no programa Conviva, de convivência escolar, com "formação para identificar vulnerabilidades".
A gerente de projetos do Edulab 21, do Instituto Ayrton Senna, Ana Carla Crispim, diz que a situação requer trabalho intersetorial. "Não existe uma solução única, é preciso ter ações preventivas, remediativas, na saúde e na educação."
"O professor é quem mais entende da pessoa daquela idade, estão muito perto. Ao dar informações corretas para que ele possa agir, você o empodera", diz o psiquiatra e presidente do Instituto Ame a Sua Mente, Rodrigo Bressan. A ONG faz formação com professores de escolas públicas sobre saúde mental.
A diretora da Escola Estadual Olga Benatti, na Vila Prudente, Marcia Guerrise, também viu pais e professores apreensivos nesta semana. Mas a experiência que equipe já tinha em lidar com saúde mental, adquirida em formações feitas por parceiros desde 2018, deu mais segurança. "Paramos a primeira aula, os professores se reuniram com grupos de alunos e discutimos a importância de falar, de ver o adulto e o colega como seu apoio."
Na semana passada, após o caso da escola na Vila Sônia, muitas escolas ouvidas pelo Estadão disseram que passaram a mapear alunos com perfil agressivo ou isolado, numa tentativa de prevenção. "A gente levantou o nome de crianças que se isolam, que ficam no canto, com blusa no calor, criou um olhar para detectar problemas", conta a professora de História Janaína de Paula, que dá aulas em São Mateus, zona leste. "Em reunião, eu falei para focar nesses alunos mais apáticos, que se excluem de tudo e todos. Fica esse clima de medo, como se todo mundo fosse suspeito", completa a coordenadora.
Em outra escola, pais foram chamados com urgência para discutir a situação do filho. Mas profissionais relatam que muitas vezes têm dificuldades com famílias que não levam crianças e adolescentes para tratamento e, quando o fazem, o sistema é lento. "O professor virou psicólogo, psiquiatra, conselheiro tutelar", diz o coordenador de uma escola de Mauá, na Grande São Paulo, André Sapanos. "É muita apreensão, você sente que cada vez chega mais perto", diz, sobre o ataque à escola.
Atenção
Segundo a polícia, o adolescente que matou a professora Elisabeth Tenreiro, de 71 anos, havia sido encaminhado para um Centro de Atenção Psicossocial (Caps), mas não houve continuidade do tratamento. Procurada, a secretaria municipal de Saúde disse que o "tempo e a proposta de atendimento podem variar de acordo com a especificidade do caso". E que "as equipes fazem busca ativa dos pacientes faltosos".
Durante a pandemia, o governo estadual contratou uma empresa que fornecia sessões com psicólogos online. Professores reclamam que os atendimentos eram feitos com a sala toda, sem frequência definida e pouco efetivos. A gestão atual encerrou o serviço em fevereiro e iniciou o processo para contratar 150 mil horas de psicólogos que atenderão de forma presencial. A previsão é para início em maio. Em nota, também afirmou que vai aumentar de 500 para 5 mil educadores no programa Conviva, de convivência escolar, com "formação para identificar vulnerabilidades".
A gerente de projetos do Edulab 21, do Instituto Ayrton Senna, Ana Carla Crispim, diz que a situação requer trabalho intersetorial. "Não existe uma solução única, é preciso ter ações preventivas, remediativas, na saúde e na educação."
"O professor é quem mais entende da pessoa daquela idade, estão muito perto. Ao dar informações corretas para que ele possa agir, você o empodera", diz o psiquiatra e presidente do Instituto Ame a Sua Mente, Rodrigo Bressan. A ONG faz formação com professores de escolas públicas sobre saúde mental.
A diretora da Escola Estadual Olga Benatti, na Vila Prudente, Marcia Guerrise, também viu pais e professores apreensivos nesta semana. Mas a experiência que equipe já tinha em lidar com saúde mental, adquirida em formações feitas por parceiros desde 2018, deu mais segurança. "Paramos a primeira aula, os professores se reuniram com grupos de alunos e discutimos a importância de falar, de ver o adulto e o colega como seu apoio."
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