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Familiares, amigos e fãs se despedem de Rita Lee em São Paulo

Corpo da cantora é velado, nesta quarta-feira, no Planetário do Parque Ibirapuera

Rio - O corpo de Rita Lee é velado no planetário do Parque Ibirapuera, na Zona Sul de São Paulo, nesta quarta-feira. Familiares, amigos e fãs dão o último adeus à Rainha do rock brasileiro no local, que era carinhosamente chamado de "Floresta Encantada" pela artista. 
Os filhos da cantora, João Lee e Beto Lee, e a irmã dela, Virgínia, estão no local. Em conversa com a imprensa, João comentou que a mãe era sua heroína. "Ela era minha heroína pela simplicidade, dignidade, honestidade, que ela vivia dia a dia. A sensibilidade dela de lidar com as pessoas, entender as pessoas, a forma que ela tinha de se comunicar com o público, com o mundo. É uma pessoa muito única. Pra mim, ela vai ser eterna. Acho que pra todo mundo".  
Os apresentadores Astrid Fontenelle, Serginho Groismann, Xuxa Meneghel e Pedro Bial, o deputado estadual de São Paulo Eduardo Suplicy, Wanessa Camargo, Dado Dolabella, Ana Vitória e Rita Cadillac também foram ao velório se despedir da artista. 
Antes disso, os fãs de Rita, que morreu aos 75 anos na noite desta segunda-feira, vítima de câncer, já formavam fila no parque. Eles acordaram bem cedinho e não se intimidaram com a chuva fraca desta manhã. Algumas coroas de flores também são vistas no local, enviadas por emissoras de TV e amigos, como o cantor Orlando de Morais, Marina Ruy Barbosa, Boninho e Ana Furtado. 
Após o velório, o corpo da artista será cremado. A cerimônia será restrita. 
Legado
Rita Lee Jones de Carvalho nasceu em São Paulo, em 31 de dezembro de 1947. Com ascendência norte-americana e italiana, a cantora, compositora e multi-instrumentista deixa um grande legado. Ao todo foram 40 álbuns, sendo seis de "Os Mutantes" e 34 na carreira solo.
Sua carreira começou aos 16 anos quando integrou o trio "Teenage Singers", com mais duas meninas. Em 1964, elas se juntaram ao trio "Wooden Faces". O atual sexteto, então, passou a se chamar "Six Sided Rockers", que depois se tornou "Os Seis". A banda chegou a gravar um compacto com duas músicas.
Após a saída da metade dos integrantes, em 1966, Rita, Arnaldo Baptista e Sérgio Dias criaram a banda Os Mutantes. O grupo lançou os álbuns "Os Mutantes", "A Divina Comédia ou Ando Meio Desligado", "Jardim Elétrico" e "Mutantes e Seus Cometas no País dos Bauretz” ao longo de seis anos. Entre 1968 e 1972, Rita foi casada com o companheiro de banda Arnaldo. Os dois se separaram em 1977.
Acompanhada dos componentes dos Mutantes, Rita gravou dois discos solo: "Build Up" (1970) e "Hoje é o Primeiro Dia do Resto da Sua Vida (1972)", que foi lançado apenas com o seu nome pois a banda já havia lançado um álbum naquele ano.
Rita Lee acabou sendo expulsa de "Os Mutantes" após a relação atribulada com o ex-marido Arnaldo Baptista e divergências musicais com os outros integrantes do grupo. "Teve um final meio trágico, esquisito e injusto. A verdade é que éramos todos muito loucos. Muita gente pirava", declarou a cantora em entrevista à Bruna Lombardi, em 1992.
Na mesma entrevista, ela relembrou o momento da expulsão. "Chego ao ensaio e me deparo com um clima tenso/denso. Até que o Arnaldo quebra o gelo, toma a palavra e me comunica (...): ‘A gente resolveu que a partir de agora você está fora dos Mutantes porque nós resolvemos seguir na linha progressiva-virtuose e você não tem calibre como instrumentista'". A cantora disse que aceitou a decisão, embora tenha ficado triste, e foi embora.
Rita migrou para o grupo "Tutti Frutti", em 1973, onde gravou cinco álbuns, entre eles "Fruto proibido" (1975) que tinha as músicas "Agora só falta você", "Esse Tal de Roque Enrow" e "Ovelha Negra".
Em 1976, conhece Roberto de Carvalho com quem passa a se relacionar no amor e profissionalmente. Em 1979, eles começam a trabalhar de vez juntos e ela se firma na carreira solo. No mesmo ano, eles lançaram o álbum "Rita Lee", com os sucessos "Mania de Você", "Chega Mais" e "Doce Vampiro". Um ano depois, em um álbum com o mesmo nome, as músicas "Lança perfume" e "Baila comigo" estouraram no Brasil inteiro.
Outros trabalhos de destaque da roqueira foram "Saúde" (1981); "Rita e Roberto" (1985), quando eles subiram ao palco juntos na primeira edição do "Rock In Rio"; "Flerte Fatal" (1987); "Zona Zen" (1988) e "Rita Lee e Roberto de Carvalho" (1990).
Por volta de 1991, ela separou-se profissionalmente de Roberto, e deu início a turnê voz e violão "Bossa 'n' Roll". Dois anos depois, lançou o disco "Rita Lee". O casal só viria a dividir o palco novamente em 1995. Os dois se casaram no civil no ano seguinte.
Em 2001, a artista ganhou o Grammy Latino de Melhor Álbum de Rock em Língua Portuguesa com "3001". No mesmo ano, Rita lançou o álbum "Aqui, Ali, em Qualquer Lugar". Os trabalhos dos anos seguintes foram "Balacobaco" (2003) e "Reza" (2012). Rita se aposentou dos palcos em 2012, quando tinha 64 anos.
Em 2022, venceu o Prêmio Excelência Musical da Academia Latina de Gravação, na categoria Conjunto da Obra.
Além da carreira musical, a cantora tem passagens pela televisão. Ela participou do seriado "Os Trapalhões" (1977); atuou nas novelas "Top Model" (1989), "Vamp" (1991), "Sai de Baixo" (1997), "Celebridade" (2003) e integrou os programas "TVLeezão" (1991), na MTV Brasil, "Saia Justa" (2002) e Madame Lee (2005), no GNT.
No cinema, Rita brilhou em "As Amorosas" (1968), "Fogo e Paixão" (1988), "Dias Melhores Virão" (1989), "Durval Discos" (2002), "Uma Noite em 67" (2010), "Tropicália" (2012) e "A Primeira Missa ou Tristes Tropeços, Enganos e Urucum" (2014).

Relação com as drogas
Rita Lee falava abertamente sobre o uso de drogas. A cantora foi usuária de maconha e de entorpecentes sintéticos, como o LSD, durante muitos anos. Aos 28 anos, a paulista chegou a ser presa, sob a acusação de portar maconha, no auge da ditadura dos anos 70, enquanto estava grávida de seu primeiro filho do relacionamento com Roberto de Carvalho. Em entrevista para à "Folha de S. Paulo", em 1997, Rita Lee disse que foi tudo armado, pois "estava grávida e, como boa hippie, não fazia uso de qualquer droga na ocasião".
Em trecho de sua biografia, intitulada "Rita Lee – Uma Autobiografia" (2016), a artista relembrou uma situação envolvendo o LSD. "Desembarquei no aeroporto de São Paulo com um mimoso colar de muitas voltas feito com 'miçangas' de pedrinhas de LSD coladas pacientemente uma a uma num cordãozinho de algodão… A ideia da nossa 'família' era vender a muamba, dobrar o capital investido e partir em nova aventura. Aconteceu que eu, a muambeira, consumi metade do estoque, a outra foi distribuída entre os frequentadores das festinhas de arromba na casa de Guarapiranga, point da crazy people da Pauliceia, com aquela cena manjada de gente desbundada amanhecendo pelos quatro cantos da casa".
Quando os filhos eram pequenos, a Rainha do Rock no Brasil precisou passar por uma temporada internada, já que o vício em drogas estava fora de controle.
Em 2017, em entrevista ao "Conversa com Bial", Rita contou que parou de usar drogas após o nascimento da neta, Izabella Lee de Carvalho, com 18 anos, atualmente. "Estou limpa há 11 anos, desde que minha neta nasceu. Canalizei minha energia e estou achando muito louco esse negócio de ser careta", disse a cantora, na ocasião.
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