Desta forma, se um adolescente de 14 anos for aprovado em uma universidade através do Enem por exemplo, ele terá a chance de cursar a faculdade Pixabay
Com mais de 3,9 milhões de pessoas inscritas para a edição de 2023, a prova também virou sinônimo de resiliência. São dois dias de teste e mais de 180 questões objetivas, divididas em quatro áreas de conhecimento, para serem resolvidas em até cinco horas. Para completar, ainda há a redação.
Principais competências da redação
O professor Rodrigo Teixeira Siqueira, do Colégio e Curso ZeroHum, traz algumas dicas importantes para aqueles que almejam tirar uma nota máxima na hora de escrever o texto e conseguir boa posição na hora de disputar uma das vagas.
Ele explica que, atualmente, o Enem avalia as redações em cinco competências. Conformidade do texto com a norma culta da língua escrita (escrita e pontuação correta, concordância verbal), estruturação adequada do tema, coerência das ideias no texto, uso dos elementos de coesão (os conectivos do texto, a velha dúvida entre “mas” e “mais”) e a proposta de intervenção (uma sugestão de solução dividida entre ação, agente, modo/meio, efeito e detalhamento de um desses elementos anteriores).
“Com bastante treino, mantendo o ritmo de escrita, buscando tirar todo tipo de dúvida com os seus professores, o candidato vai assimilando uma técnica que faz ele estar dentro de tudo aquilo que é esperado na prova de redação do Enem. O essencial é não desistir diante das dificuldades e conseguir aliar uma boa técnica de escrita dentro do que é pedido a um conhecimento de mundo antenado dentro das questões da atualidade”, esclarece.
Siqueira também relata que, apesar de ser muita informação para assimilar, há algumas técnicas capazes de ajudar o estudante a alcançar a almejada nota 1.000. Aa mais comum é focar na produção escrita, com produções semanais e correções junto aos professores. Isso permite ter avaliações e melhorar passo a passo com os feedbacks.
Mas o professor vai além e propõe um outro exercício. Siqueira tem testado o seguinte método: os alunos recebem um texto pronto (produzido por ele mesmo) e passam a ser questionados sobre o repertório sociocultural utilizado e instigados a identificar a estrutura da redação. O objetivo é que os estudantes sejam capazes de reconhecer por meio de um exemplo os principais pontos que devem ser abordados na hora da prova.
“Os resultados estão sendo positivamente surpreendentes e a assimilação do conteúdo bem mais tranquila do que seria se eu simplesmente os pressionar a escrever apenas. Quando parte de mim a ação de escrever, eles ficam mais relaxados. O professor deve manter uma conexão de igualdade e cumplicidade entre os alunos”, frisa.
Sabendo da importância de estruturar de forma adequada o texto produzido, o aluno também deve ficar atento a qual assunto pode ser apresentado pela banca examinadora do Enem. Segundo o Ministério da Educação, a escolha do tema é feita por especialistas do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), responsáveis pela composição dos instrumentos avaliativos, que consideram a atualidade dos assuntos para definição da temática.
Em outras palavras, o Inep costuma a procurar por temas atuais para a prova. Por isso, Siqueira propõe a ideia de ficar “antenado” ao que acontece à nossa volta, sobretudo na realidade nacional, e evitar imaginar construções de textos com focados em questões internacionais ou gerais do mundo.
Ele usa como exemplo os temas utilizados nas edições anteriores: “democratização do acesso ao cinema no Brasil”; “o estigma associado às doenças mentais na sociedade brasileira”; “invisibilidade e registro civil: garantia de acesso à cidadania no Brasil”; “desafios para a valorização de comunidades e povos tradicionais no Brasil". Todos eles se relacionam com a realidade nacional.
“O Enem está preocupado em tratar de problemas estruturais da nossa realidade, que infelizmente acompanham a história brasileira. Então, manter-se focado nos debates nacionais é muito mais relevante para o Enem do que treinar uma redação sobre a guerra travada entre Rússia e Ucrânia, por exemplo”, explica.
Entendendo que o foco deve ser no que se passa no Brasil, o aluno deve ficar de olho em quais assuntos estão em maior evidência. De acordo com Thiago Braga, gestor da área de linguagens e professor do Colégio pH, ainda há formas de elencar temas e sugerir quais os candidatos devem criar maior interesse para não serem pegos totalmente de surpresa na hora da prova.
“Como conseguimos destacar alguns problemas sociais brasileiros, antever algumas questões que são bastante relevantes e que ainda não foram discutidas no Enem, é possível direcionar o estudo dos alunos para a leitura e aprofundamentos em determinadas áreas. Um exemplo é o problema da obesidade dentro da saúde pública brasileira. Podemos indicar textos que falem sobre obesidade na infância, as consequências físicas ou mentais”, pontua.
Prova de Humanas ou Exatas?
Uma narrativa criada sobre a redação do Enem é que por envolver argumentação e necessidade de leitura, os estudantes com maior facilidade em matérias de Humanas (História, Geografia, Filosofia) teriam mais tranquilidade em lidar com as temáticas do que os alunos voltados a questões de Exatas.
Segundo Braga, esta não é uma realidade dentro da sala de aula. De acordo com o professor, os candidatos que seguirem, no geral, toda a estruturação proposta, entenderem o formato do Enem e que praticarem a escrita conseguem atingir altas notas na prova.
“É muito difícil fazer qualquer mensuração dessa dificuldade maior. Há um estereótipo de que o aluno de Exatas tem mais dificuldade, mas isso varia bastante. Então não é possível responder com precisão. Basta que eles sejam bem orientados e sejam interessados em entender o modelo dissertativo da prova, independente da área da carreira”, alerta.
Algo que não é mito é o peso da redação no resultado daqueles que pretendem disputar os cursos mais concorridos. De acordo com Thiago Braga, um estudante que quer uma vaga em Medicina deve almejar uma nota de 960 para não correr o risco de ficar de fora,
“Não que com 920 não vá conseguir, porque depende muito do desempenho que ele vai ter nas questões objetivas. Mas é bom para garantir, para ficar seguro, que esse candidato ou candidata tenha uma nova acima de 960”.
Já o professor Rodrigo Siqueira garante que teve “alunos excelentes” deixados de fora por terem conseguido “apenas” os 920 pontos. “Infelizmente, essa é uma realidade com a qual os candidatos precisam lidar. A concorrência alta é diretamente proporcional à nota que se deve tirar”, garante.
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