Polícia Militar foi a responsável por localizar o helicópteroDivulgação/PMESP
Publicado 12/01/2024 19:29 | Atualizado 12/01/2024 22:49
O helicóptero que estava a caminho de Ilhabela e desapareceu no dia 31 foi encontrado na manhã desta sexta-feira (12) na região de Paraibuna, São Paulo. A aeronave identificada com o prefixo PRHDB, modelo Robson 44, desapareceu após ter perdido contato com a torre de controle. Desde então, as forças policiais, em conjunto com a Força Aérea Brasileira (FAB), realizavam as buscas. Em coletiva após localização dos destroços, o coronel Ronaldo Barreto de Oliveira, comandante da Aviação da Polícia Militar paulista afirmou que todos os tripulantes estavam mortos.
Os corpos das quatro vítimas — Luciana Rodzewics, de 46 anos (mãe), Letícia Rodzewics Sakumoto, de 20 anos (filha), Rafael Torres, a idade não foi revelada (amigo da família) e Cassiano Teodoro, cuja idade não foi revelada (piloto) — estavam nos arredores da aeronave, que se destroçou com a queda,  segundo a corporação. 
Após 12 dias de buscas extensivas, envolvendo a Polícia Militar e a Força Aérea Brasileira (FAB), os restos foram localizados pela equipe do Águia 24. A operação de busca enfrentou dificuldades devido ao relevo montanhoso da região e às condições meteorológicas adversas. Familiares das vítimas também se envolveram nas buscas, contratando mateiros e utilizando drones para ajudar na operação.
Busca utilizou tecnologia

De acordo com Barreto, houve uma alteração de tática a partir do momento em que se descobriu a provável área de queda do helicóptero. Informações da Polícia Civil, baseadas em sinais telefônicos, deram conta de que a aeronave estava em uma área de 12 quilômetros quadrados, delimitada pela corporação. A partir daí, os sobrevoos de helicóptero tiveram uma grande redução de altitude e velocidade do voo, possibilitando buscas mais detalhadas na região. 
Segundo a Polícia Militar, a aeronave foi localizada pelo Águia 24 em uma área de mata na região em Paraibuna. Em uma imagem divulgada pela corporação, é possível ver uma clareira na vegetação. Entre as árvores, podem ser vistos alguns destroços. Segundo a PM, foi necessária a ajuda de outra aeronave para acessar o local.

"É fechada, densa, úmida. Ela é quente durante o dia e fria à noite. E é muito difícil de se locomover dentro dela. Há ainda muitos animais e insetos", disse o tenente da Defesa Civil Estadual Ramatuel Diego Dantas Silvino sobre a região de Mata Atlântica.

A FAB e a Polícia Militar procuravam pela aeronave com foco na região da Serra do Mar. Após mais de 60 horas de voo por uma área de milhares de quilômetros quadrados que cobriu as regiões de Paraibuna, Natividade da Serra, Redenção da Serra, Serra do Mar de Caraguatatuba e São Luiz do Paraitinga, as autoridades mudaram a estratégia nessa quinta-feira 11.

Sinal de celular auxiliou nas buscas
Na quinta-feira (11), após autorização da Justiça, policiais da Unidade de Inteligência do Departamento de Operações Policiais Estratégicas (DOPE) da Polícia Civil obtiveram acesso à localização de antenas (ERBs) dos celulares, com o objetivo de localizar a aeronave e seus tripulantes. Com base na triangulação do sinal de antenas de celulares dos tripulantes, foi definida nova abordagem. Em vez de fazer voos mais rápidos, para cobrir uma área maior, as equipes passaram a fazer voos em velocidade e altura menores, em área delimitada, segundo a PM. Isso permitiu a localização dos destroços da aeronave.
Milton Clemente, delegado do Departamento de Operações Policiais Estratégicas da Polícia Civil, relatou inicialmente que a missão de localizar o helicóptero desaparecido era quase impossível, mas que, com o avanço das informações, tornou-se apenas difícil.

Segundo ele, a falta de dados precisos inicialmente dificultou a delimitação da área de busca. A operação dependia de um georreferenciamento baseado em sinais de uma antena, mas não havia pontos suficientes para definir um perímetro exato. A situação melhorou com voos específicos que ajudaram a determinar o alcance e dividir a área em quadrantes, refinando a busca.

Clemente também ressaltou a necessidade de aeronaves de pequeno porte, incluindo helicópteros, estarem equipadas com localizadores ou caixas-pretas. Esses dispositivos poderiam significativamente facilitar as operações de busca e resgate em casos de acidentes ou desaparecimentos.
Investigação por conta da FAB
A FAB deve auxiliar nas investigações a respeito das condições da queda da aeronave e morte dos passageiros. Os trabalhos vão ficar por conta do Serviço Regional de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Seripa), que é responsável por esclarecer acidentes aéreos.
Em nota, a corporação detalhou os trabalhos. 
''Investigadores do Quarto Serviço Regional de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (SERIPA IV), localizado em São Paulo (SP), órgão regional do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (CENIPA), foram acionados, nesta sexta-feira (12/01), para realizar a Ação Inicial da ocorrência envolvendo a aeronave de matrícula PR-HDB, na região de Paraibuna (SP).

Na Ação Inicial são utilizadas técnicas específicas, conduzidas por pessoal qualificado e credenciado que realiza a coleta e confirmação de dados, a preservação de indícios, a verificação inicial de danos causados à aeronave, ou pela aeronave, e o levantamento de outras informações necessárias ao processo de investigação.

A conclusão das investigações terá o menor prazo possível, dependendo sempre da complexidade de cada ocorrência e, ainda, da necessidade de descobrir os possíveis fatores contribuintes''
Viagem foi "de última hora"

De acordo com familiares de Luciana e Letícia, vítimas do acidente, o convite para a viagem de helicóptero ocorreu de última hora. A hipótese é de que a ideia partiu do amigo da família Rafael. "A Letícia tomou café com a minha mãe no domingo, dia 31, e falou que previa voltar para almoçar. O convite deve ter surgido no meio disso. Era para ser bate a volta", disse a vendedora Silvia Santos, de 43 anos, na quarta-feira, 3. Moradora do bairro do Limão, na zona norte paulistana, ela é irmã de Luciana e tia de Letícia.

Ela afirmou que a irmã e a sobrinha, ambas moradoras da Zona Norte de São Paulo, nunca tinham feito um passeio de helicóptero antes. "Mas elas gostam de adrenalina, por isso devem ter se animado com o convite", afirmou a irmã na semana passada. Segundo ela, Letícia já saltou de bungee jump e tinha planos de andar de balão no futuro.

Silvia tinha combinado de passar o réveillon com a irmã na casa da sogra. No domingo (31), no entanto, Luciana disse que havia desistido de ir, e partiu com a filha para o passeio de helicóptero com destino a Ilhabela. Ela chegou a postar um vídeo nas redes sociais do momento da decolagem da aeronave.

"Todo sábado e domingo encontrávamos", disse Silvia. Assim como a irmã, Luciana também trabalhava com vendas, enquanto Letícia estava começando a empreender como designer de unhas na casa da avó, com quem morava desde a infância no bairro do Limão. "Ela tinha recém-montado um salão, estava progredindo", disse a tia.

Durante os dias de buscas pelo helicóptero e vítimas, os parentes relataram angústia diante da situação.
Piloto do helicóptero não tinha licença

A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) afirmou que o piloto Cassiano teve sua licença e todas as habilitações sumariamente cassadas pela agência em 15 de setembro de 2021 por condutas infracionais graves à segurança da aviação civil.

De acordo com a agência, ele foi cassado em decorrência, entre outros motivos, de evasão de fiscalização, fraudes em planos de voos e práticas envolvendo transporte aéreo clandestino.

Em outubro de 2023, após observar prazo máximo legal para a penalidade administrativa de cassação, que é de dois anos, o piloto retornou ao sistema de aviação civil ao obter nova licença com habilitação para Piloto Privado de Helicóptero (PPH). Essa licença não dá autorização para realização de voos comerciais de passageiros. A reportagem não conseguiu localizar a defesa de Cassiano Teodoro.

De acordo com a Polícia Militar, foi gerado um alerta, por volta das 22h40 do próprio dia 31, para o Comando de Aviação e para o Corpo de Bombeiros para possível queda de helicóptero. A aeronave desapareceu no caminho para Ilhabela.
Mensagem após pouso de emergência
O helicóptero chegou a fazer um pouso de emergência durante a tarde do mesmo dia em uma área de mata, segundo imagens enviadas por Letícia ao namorado. "Pousamos", enviou depois em mensagem de WhatsApp. "Tempo ruim", "não dá para passar" e "medo" foram algumas das atualizações da jovem sobre a viagem.

Antes de deixar de responder, ela também mandou um vídeo da neblina na região e relatou ainda que a aeronave iria voltar para a capital, por conta da dificuldade de chegar até Ilhabela. Ao ser perguntada onde era o local, ela não soube dizer. "Estamos voltando", escreveu em seguida.
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