Ex-presidente, Jair Bolsonaro Filipe ARAUJO / AFP
Publicado 02/02/2024 13:13
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) está mais uma vez no olho do furacão, com a eclosão de um escândalo sobre uma suposta conspiração para espionar adversários durante seu mandato. A família Bolsonaro foi alvo direto nesta semana, com buscas na casa de seu filho, o vereador do Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro (Republicanos).
O Ex-chefe do Executivo se diz "perseguido" pelo governo de seu sucessor, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Como começou o escândalo?
Uma primeira operação policial em outubro resultou na prisão de dois servidores da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), suspeitos de terem utilizado ilegalmente o software espião israelense FirstMile, que permite rastrear a geolocalização de celulares, durante o governo de Jair Bolsonaro (2019-2022).

No dia 25 de janeiro, a Polícia Federal (PF) cumpriu mandado de busca e apreensão contra o ex-chefe da Abin no governo Bolsonaro, Alexandre Ramagem, homem de confiança do ex-presidente.

Na última segunda-feira, 29, os agentes revistaram uma casa de praia em Angra dos Reis, onde estava a família Bolsonaro, assim como a casa e o escritório de seu filho Carlos, vereador do Rio.

O nome de Carlos Bolsonaro já havia sido citado em 2020, quando um ex-ministro do gabinete de seu pai, Gustavo Bebianno, disse em entrevista que o vereador havia sugerido o surgimento de uma Abin "paralela", em entrevista ao programa "Roda Viva". Bebianno morreu pouco depois de infarto.

Em outras investigações, Carlos Bolsonaro é suspeito de ter coordenado um "gabinete do ódio" sob a presidência do pai, uma "milícia digital" contra opositores nas redes sociais e de divulgar informações falsas.

Quais são as acusações? 
A PF afirma que uma "organização criminosa" constituiu uma "estrutura paralela" dentro da Abin para "monitorar ilegalmente pessoas e autoridades públicas".

Os investigadores afirmam que os suspeitos usaram o programa FirstMile sem autorização para obter informações ilegalmente em benefício de Jair Bolsonaro e pessoas próximas.

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, que autorizou as operações, disse que a polícia identificou Carlos Bolsonaro como parte do "núcleo político" da conspiração criminosa.

"Os elementos de prova colhidos até o momento indicam, de maneira significativa, que a organização criminosa infiltrada na Abin também se valeu de métodos ilegais para a realização de ações clandestinas direcionadas contra pessoas ideologicamente qualificadas como opositoras", indica um dos documentos judiciais.

Quem foi espionado
Segundo a imprensa, a polícia suspeita que a Abin espionou ilegalmente centenas de políticos, juízes e jornalistas. Entre eles estaria o próprio Moraes, alvo frequente da ira de Bolsonaro por ter ordenado diversas investigações contra ele e seu entorno.

Moraes também preside o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que em junho declarou Jair Bolsonaro inelegível por oito anos, por abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação.

O ministro do STF, Gilmar Mendes, também estaria na mira, assim como o ex-presidente da Câmara dos Deputados Rodrigo Maia e o ex-governador do Ceará Camilo Santana, atual ministro da Educação de Lula.

O que diz Bolsonaro
"Querem a minha cabeça", disse o ex-presidente na quinta-feira, 31. Bolsonaro disse à "CNN Brasil" na segunda que "nunca" recebeu "informação, localização geográfica de quem quer que seja" da Abin. Ele afirma que é "perseguido" pelo atual governo. "É um absurdo", respondeu Lula.

Em nota, Carlos Bolsonaro reiterou que não possui "nenhuma ligação com a Abin" e que "tampouco solicitava e/ou recebia de pessoas vinculadas à agência qualquer tipo de informação e dados de terceiras pessoas".

Qual o impacto? 
O episódio abala a confiança do governo Lula nos atuais serviços de inteligência. Cabeças começaram a rolar na Abin: na terça-feira, 30, o número dois da agência, Alessandro Moretti, alvo da investigação policial, foi demitido, assim como outros quatro funcionários de alto escalão.

O número três da Abin, Paulo Mauricio Fortunato, foi demitido logo após ser identificado na operação policial de outubro.

Do lado político, as suspeitas de espionagem ilegal "desacreditam as práticas do governo Bolsonaro para grande parte da população", disse à AFP o cientista político Paulo Baia, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

As eleições municipais de outubro darão indícios se tudo isso se traduzirá em um enfraquecimento para os Bolsonaro.
Publicidade
Leia mais