declaração de Lula foi dada durante discurso após visitar as instalações da fábrica da Renault, em São José dos Pinhais (PR)Marcelo Camargo/Agência Brasil

Brasília - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva sugeriu, nesta quinta-feira (15), que o seu homólogo venezuelano, Nicolás Maduro, convoque novas eleições no seu país para esclarecer as dúvidas sobre os resultados contestados que lhe deram a reeleição para um terceiro mandato no pleito de julho.
Maduro "poderia tentar fazer uma conclamação ao povo da Venezuela, quem sabe até convocar um programa de eleições, estabelecer um critério de participação de todos os candidatos (…) e deixar que entre, sabe, olheiros do mundo inteiro para ver as eleições", disse Lula em entrevista à "Rádio T" do Paraná.
Lula acrescentou que "ainda não" reconhece os resultados apresentados pelo Conselho Nacional Eleitoral da Venezuela, que proclamou Maduro reeleito com 52% dos votos, sem apresentar publicamente as atas de votos.
A oposição denunciou este processo como uma fraude e divulgou registros eleitorais que mostram o seu candidato, Edmundo González Urrutia, como vencedor incontestável.
Maduro "sabe que ele está devendo uma explicação para a sociedade brasileira e para o mundo. Ele sabe disso", disse Lula.
"Tem que apresentar os dados", mas por um organismo "que seja confiável", destacou Lula.
"O Conselho Nacional Eleitoral, que tem gente da oposição, poderia ser, mas (Maduro) não mandou para o Conselho, ele mandou para a Justiça, para a Suprema Corte dele", afirmou Lula.
Durante uma audiência no Senado nesta quinta-feira, o assessor especial da Presidência, Celso Amorim, enviado por Lula à Venezuela para acompanhar o processo eleitoral, ressaltou que uma forte presença de observadores internacionais seria crucial para validar eventuais novas eleições.
"Teriam que ser com uma verificação importante, sólida e robusta, mas isso também implicaria o levantamento das sanções" da União Europeia, para que seus observadores fossem assim convidados ao processo, disse Amorim.
Lula também sugeriu a possibilidade de Maduro convocar um "governo de coalizão com a oposição".
No entanto, Maduro descartou a possibilidade de qualquer tipo de negociação com a líder da oposição María Corina Machado, que se encontra na clandestinidade por temer pela própria segurança.
Os governos de esquerda de Brasil, Colômbia e México realizaram nas últimas semanas esforços diplomáticos em busca de uma solução para a crise desencadeada após as eleições presidenciais de 28 de julho.
O ministro das Relações Exteriores brasileiro, Mauro Vieira, será recebido nesta quinta-feira em Bogotá por seu homólogo colombiano uma visita oficial na qual abordarão o assunto.
Por sua vez, o presidente mexicano em fim de mandato, Andrés Manuel López Obrador, anunciou na terça-feira que preferia pausar esses esforços até que a Justiça venezuelana decida sobre os resultados.
Amorim admitiu que o México havia se "retraído" e estimou que talvez López Obrador "não quer se pronunciar no sentido que possa parecer uma pressão às vésperas dele deixar o poder".