Padre José Eduardo de Oliveira e Silva é um dos 37 indiciadosReprodução/redes sociais

O Pároco em Osasco, na Grande São Paulo, o padre José Eduardo de Oliveira e Silva, de 43 anos, foi uma das 37 pessoas incluídas pela Polícia Federal (PF) no inquérito que apura uma tentativa de golpe de Estado para evitar a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Em fevereiro deste ano, o religioso foi alvo da PF em busca e apreensão. O religioso é suspeito de integrar o núcleo jurídico que formatou decretos e minuta que serviriam para um golpe de estado no Brasil após as eleições presidenciais de 2022.

De acordo com a decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), o padre é citado como integrante do núcleo jurídico do esquema golpista. O papel do grupo seria o "assessoramento e elaboração de minutas de decretos com fundamentação jurídica e doutrinária que atendessem aos interesses golpistas do grupo investigado".
Os agentes da PF apreenderam equipamentos e documentos do clérigo. A investigação indicou que o padre participou de reunião com Filipi Martins e Amauri Feres Saad no dia 19 de novembro de 2022 em Brasília (DF). Ambos também foram indiciados nesta quinta-feira (21). Os controles de entrada e saída do Palácio do Planalto registraram a entrada e a saída do religioso da sede do governo federal naquela data.

A decisão do ministro Alexandre de Moraes descreve que "como apontado pela autoridade policial, 'José Eduardo possui um site com seu nome no qual foi possível verificar diversos vínculos com pessoas e empresas já investigados em inquéritos correlacionados à produção e divulgação de notícias falsas'".
Em nota, a defesa do padre criticou o fato de a PF ter divulgado o nome dos indiciados.
"Quem deu autorização à Polícia Federal de romper o sigilo das investigações? Até onde eu sei o Ministro Alexandre de Moraes decretou sigilo absoluto. Não há qualquer decisão do magistrado até o momento rompendo tal determinação", diz um trecho da nota.
"A nota da Polícia Federal com a lista de indiciados é mais um abuso realizado pelos responsáveis da investigação e, tendo publicado no site oficial do órgão policial, contamina toda instituição e a torna responsável pela quebra da determinação do Ministro de sigilo absoluto", concluiu.
Quem é José Eduardo de Oliveira e Silva
O sacerdote nasceu em Piracicaba (SP) e ainda criança se mudou para Carapicuíba (SP), onde descobriu a vocação sacerdotal. José Eduardo foi ordenado sacerdote da Diocese de Osasco (SP) em 2006 e é atualmente é Pároco da Paróquia São Domingos na cidade.
O padre dá palestras de temas como gênero, aborto, defesa da família e educação. Em 2017, ele ganhou atenção o nas redes sociais ao postar frases polêmicas em relação à ideologia de gênero e chegou a sugerir que a indústria farmacêutica deveria criar "um calmante em forma de supositório".

José Eduardo também escreveu que tinha saudades "dos tempos em que o banheiro servia só para necessidades fisiológicas e não para exibicionismos de autoafirmação sexual".
Nas redes sociais, o sacerdote acumula mais de 420 mil seguidores e produz conteúdos religiosos e de ensino da teologia. O homem é doutor em Teologia Moral pela Universidade da Santa Cruz, em Roma. No Youtube, plataforma onde o padre publica aulas, concentra 136 mil seguidores.

Como professor, o padre oferece cursos religiosos com valores que ultrapassam R$ 800,00 por ano.
Quem são os indiciados
1- Ailton Gonçalves Moraes Barros, oficial reformado do Exército, acusado de facilitar a inserção indevida de informações em registros de vacinação contra Covid-19.
2 - Alexandre Castilho Bitencourt da Silva, coronel do Exército e um dos responsáveis pela elaboração do manifesto de cunho golpista intitulado "Carta ao Comandante do Exército de Oficiais Superiores da Ativa e Exército Brasileiro".
3 - Alexandre Rodrigues Ramagem, parlamentar federal, ex-diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e delegado da Polícia Federal.
4 - Almir Garnier Santos, ex-líder da Marinha.
5- Amauri Feres Saad, advogado mencionado na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Atos Golpistas como "arquitetor intelectual" do rascunho golpista encontrado com Anderson Torres.
6 - Anderson Torres, ex-chefe do Ministério da Justiça.
7 - Anderson Lima de Moura, coronel do Exército e um dos autores do manifesto de teor golpista "Carta ao Comandante do Exército de Oficiais Superiores da Ativa e Exército Brasileiro".
8 - Angelo Martins Denicoli, major reformado do Exército que ocupou posição de liderança no Ministério da Saúde sob a gestão de Eduardo Pazuello.
9 - Augusto Heleno Ribeiro Pereira, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional e general reformado do Exército.
10 - Bernardo Romão Correa Netto, acusado de compor um núcleo que incentivava militares a apoiar uma intervenção militar para evitar a posse de Lula.
11 - Carlos Cesar Moretzsohn Rocha, engenheiro contratado pelo Partido Liberal (PL) para questionar possíveis vulnerabilidades nas urnas eletrônicas durante o pleito de 2022.
12 - Carlos Giovani Delevati Pasini, coronel do Exército, adido militar na embaixada brasileira em Tel Aviv, suspeito de ter colaborado na redação da "Carta ao Comandante do Exército de Oficiais Superiores da Ativa e Exército Brasileiro".
13 - Cleverson Ney Magalhães, coronel do Exército e ex-membro do Comando de Operações Terrestres.
14 - Estevam Cals Theophilo Gaspar de Oliveira, ex-comandante do Comando de Operações Terrestres do Exército.
15 - Fabrício Moreira de Bastos.
16 - Filipe Garcia Martins, ex-assessor presidencial que participou de reunião sobre o rascunho do golpe.
17 - Fernando Cerimedo, empresário argentino que promoveu transmissão ao vivo questionando a segurança das urnas eletrônicas nas eleições de 2022.
18 - Giancarlo Gomes Rodrigues, suboficial do Exército, acusado de realizar vigilância clandestina de adversários políticos.
19 - Guilherme Marques de Almeida, tenente-coronel e ex-comandante do 1º Batalhão de Operações Psicológicas em Goiânia, que desmaiou durante abordagem da Polícia Federal.
20 - Hélio Ferreira Lima, tenente-coronel do Exército identificado em trocas de mensagens com Mauro Barbosa Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro.
21 - Jair Messias Bolsonaro, ex-presidente da República, ex-parlamentar e capitão reformado do Exército.
22 - José Eduardo de Oliveira e Silva.
23 - Laercio Vergililo.
24 - Marcelo Bormevet, agente federal suspeito de integrar o esquema de vigilância ilegal conhecido como "Abin paralela".
25 - Marcelo Costa Câmara, ex-assessor do ex-presidente Jair Bolsonaro.
26 - Mario Fernandes, ex-subchefe da Secretaria-Geral da Presidência, general reformado e homem de confiança de Bolsonaro. É suspeito de integrar grupo que planejou as mortes de Lula, Alckmin e Moraes.
27 - Mauro Cesar Barbosa Cid, ex-ajudante de ordens da Presidência, tenente-coronel do Exército afastado de suas funções.
28 - Nilton Diniz Rodrigues.
29 - Paulo Renato de Oliveira Figueiredo Filho, neto do ex-presidente militar João Figueiredo.
30 - Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, ex-comandante do Exército.
31 - Rafael Martins de Oliveira, major e integrante do grupo 'kids pretos'.
32 - Ronald Ferreira de Araujo Junior, oficial do Exército.
33 - Sergio Ricardo Cavaliere de Medeiros, major do Exército.
34 - Tércio Arnaud Tomaz, ex-assessor de Bolsonaro e apontado como um dos alicerces do chamado "gabinete do ódio".
35 - Valdemar Costa Neto, líder do Partido Liberal (PL), legenda pela qual Jair Bolsonaro e Braga Netto concorreram nas eleições de 2022.
36 - Walter Souza Braga Netto, ex-ministro da Defesa e candidato a vice-presidente na chapa de Bolsonaro em 2022, general reformado do Exército.
37 - Wladimir Matos Soares, policial federal que atuou na segurança do hotel onde Lula ficou hospedado durante a transição. Ele é suspeito de integrar grupo que planejou as mortes de Lula, Moraes e Alckmin.