Presidente LulaReprodução/redes sociais
"As pessoas são muito interessantes. Nem terminou o processo e já querem anistia. Eles não acreditam que são inocentes? Eles deveriam acreditar que são inocentes e não ficar pedindo anistia antes de o juiz determinar a punição", disse.
Lula deu entrevista às rádios Itatiaia, Mundo Melhor e BandNewsFM BH, de Minas Gerais, na manhã desta quarta.
"Quando as pessoas nem foram condenadas e pedem anistia, eles estão se condenando, eles acham que fizeram aquilo que a Justiça está dizendo que eles fizeram", afirmou.
Sobre uma possível disputa com o ex-presidente Jair Bolsonaro, Lula disse que, se a Justiça entender que ele pode ser candidato em 2026, que assim seja, mas disse que, se ele, Lula, for candidato, Bolsonaro "vai perder outra vez".
"Esperem o julgamento, se defendam, vai ter condenação ou não, haverá o direito de defesa que nunca houve para mim, se a Justiça entender que ele (Jair Bolsonaro) pode concorrer, ele pode concorrer. E se for comigo, vai perder outra vez", disse.
Lula não respondeu, porém, sobre a discussão no Congresso sobre uma alteração no prazo de inelegibilidade pela Lei da Ficha Limpa. Bolsonaro está atualmente inelegível e não pode ser candidato em 2026. Caso o prazo seja reduzido, o ex-presidente poderia ser candidato.
O petista criticou Bolsonaro e insinuou que o ex-presidente viajou aos Estados Unidos no fim de 2022 porque teria medo de ser preso. Também afirmou que "quem tentou dar um golpe, articulou inclusive a morte do presidente, vice-presidente e presidente do TSE, não merece absolvição, eu acho" e disse que, "por menos do que eles fizeram, muita gente do Partido Comunista foi morta".
"A verdade só o Bolsonaro sabe, se ele sabe que quis dar golpe, ele sabe que quis dar, por isso fugiu para Miami. Se ele fosse um homem que não tivesse preparado toda aquela podridão de comportamentos, ele teria ficado, dado posse, como qualquer ser humano civilizado faria", afirmou.
"É muito estranho que a gente faça esse acordo, Minas Gerais deixa de pagar os juros, e que 60% do que não pagar deverá ser investido na educação, saneamento, habitação. E fico sabendo que o governador de Minas Gerais tem feito críticas e disse que vai recorrer para derrubar o veto que fiz em tudo o que a AGU disse que era inconstitucional. Fiz o veto consciente de que o Congresso pode derrubar o veto, tem a soberania", afirmou.
Lula elogiou o ex-presidente do Senado Rodrigo Pacheco (PSD-MG) pela negociação sobre o projeto de lei e disse que o programa criado para renegociação das dívidas dos Estados (Propag) não beneficia o governo federal, mas, sim, os Estados endividados.
"Sou muito agradecido ao Pacheco, porque o acordo pela dívida de MG só aconteceu por causa do Pacheco, porque ele se dedicou para que a gente pudesse concluir esse acordo", declarou.
"Se a Cemig é importante para o povo mineiro, você acha que vou assumir a responsabilidade de assumir a empresa para privatizá-la? Se é para privatizá-la, que Minas Gerais a venda, pague o governo e depois privatizam. Mas eu não vou fazer isso. E tem outras empresas que podemos fazer. Mas queremos analisar cada empresa, caso a caso", declarou.
"Silveira é um ministro excepcional. Poucas vezes o Ministério de Minas e Energia teve um ministro com a competência, a vontade de brigar, como o Silveira. Ele será mantido ministro. Não há porque mexer em uma coisa que está fazendo uma revolução no setor energético e de minas do País. Ainda vou discutir muito com o PSD e os partidos, porque não tenho pressa a fazer reforma", declarou.
Lula disse, ainda, que vai depender do ex-presidente do Senado Rodrigo Pacheco (PSD-MG) decidir se quer ser ministro do governo federal e se quer ser candidato ao governo de Minas Gerais.
"Se eu falar para você que eles vão ficar, você vai dizer que Lula não faz mudança no governo. Mas posso te dizer que meu sonho com o Pacheco é mostrar a ele que ele é a figura pública mais importante de Minas Gerais e que se ele quiser ser o candidato a governador ele poderá ser o futuro governador. É só ele querer para a gente trabalhar para ele ser eleito. Ele vai ter que decidir", afirmou.
Lula disse que pretende se reunir com Pacheco e com integrantes do PSD depois das férias que o senador pretende tirar. Afirmou que não há pressa para esse encontro, mas que o PSD terá de "demonstrar o que tem". Ao citar as pastas ocupadas pela legenda, se confundiu e disse que o partido tem o Ministério do Turismo (na verdade, a sigla ocupa o Ministério da Pesca).
"Pacheco tem o direito de tirar férias e descansar. Temos todo o tempo do mundo. Quando ele voltar, quero ter uma reunião com o PSD, com os ministros e direção do PSD, e dizer o que a gente vai fazer. O PSD vai demonstrar o que tem. Mas não há pressa, Pacheco pode tirar boas férias e descansar", afirmou.
Lula completou dizendo que se o ex-presidente do Senado declinar do convite para ser candidato ao governo, o Palácio do Planalto terá de pensar em alternativas para a disputa em 2026.
Segundo ele, "não há pesquisa eleitoral que possa dar certo com dois anos de antecedência". "Estou convencido de que quando chegar lá para abril ou maio do ano que vem, as pesquisas começam a ter uma proximidade com a realidade. Mas por enquanto é muito cedo escolher quem vai ser candidato e querer medir a aprovação de um governo", afirmou.
Lula disse que pretende começar a viajar pelo País a partir da semana que vem e afirmou esperar que a "colheita" de agora até o fim do ano que vem seja produtiva e mostre os feitos do governo até as eleições.
A Margem Equatorial é uma faixa de exploração de petróleo que passa pelo litoral do Nordeste e do Norte do Brasil, além de países vizinhos. Um dos trechos com óleo possivelmente viável para exploração fica a cerca de 500 km da foz do rio Amazonas - o que especialistas apontam como uma distância pequena por causa da capacidade de correntes marítimas carregarem petróleo consigo em caso de vazamento.
Há muita pressão política em torno do tema. Um dos principais interessados é o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP). A possível exploração seria no litoral do Amapá, Estado de Alcolumbre, e faria a arrecadação local aumentar.
"Há uma confusão na imprensa, sei lá causa por quem, de tentar jogar em cima da companheira Marina a responsabilidade pela não aprovação da exploração de petróleo na Margem Equatorial do Rio Amazonas. A Marina não é a responsável", disse o presidente da República.
"Nós queremos o petróleo, porque ele ainda vai existir por muito tempo. Temos que utilizar o petróleo para fazer nossa transição energética, que vai precisar de muito dinheiro. E temos, perto de nós, Guiana e Suriname pesquisando petróleo muito próximo à nossa Margem Equatorial. Precisamos fazer um acordo. Encontrar uma solução em que a gente dê garantia ao País, ao mundo e ao povo da Margem Equatorial de que a gente não vai detonar nem uma árvore, nada do rio Amazonas, nada do oceano Atlântico", declarou Lula.
"A Petrobras é a empresa que tem mais capacidade de exploração em águas profundas. Nós temos um exemplo extraordinário de não causar problemas ao meio ambiente", afirmou o petista. "Nós, do governo, vamos ter que encontrar uma solução para que a gente explore essa riqueza, se é que ela existe, em benefício do povo brasileiro", disse ele.
"Tem um tipo de político que vive de bravata. O presidente Trump fez a campanha dele assim. Tomou posse e já anunciou ocupar a Groenlândia, anexar o Canadá, mudar o nome do Golfo do México para Golfo da América, reocupar o Canal do Panamá. Sinceramente, nenhum país, por mais importante que seja, pode brigar com todo mundo todo o tempo", disse. "Os Estados Unidos estão se isolando do mundo", afirmou.
O petista reiterou que o Brasil vai taxar os produtos dos EUA: "É lógico. É o mínimo de decência um governo utilizar a reciprocidade".
Segundo Lula, a Organização Mundial do Comércio (OMC) permite a taxação de até 35% para qualquer produto. "Para nós, o que seria importante seria os EUA baixar a taxação e nós abaixarmos a taxação, mas se ele ou qualquer país aumentar a taxação do Brasil, usaremos a reciprocidade e vamos taxar eles também", declarou.
Lula defendeu que os Brics tenham o direito de discutir uma eventual troca da moeda comum para as negociações, sem usar o dólar.
"Os Brics significa praticamente metade da população mundial, metade do comércio exterior do mundo. Nós temos o direito de discutir a criação de uma forma de comercialização que a gente não dependa só do dólar. Não foi o mundo ou a ONU que decidiu que o dólar seria a moeda, foi os EUA", afirmou.
O presidente disse que o mundo não pode ter "preocupação com as bravatas do Trump" e que os Estados Unidos precisam do mundo mais do que o mundo precisa dos Estados Unidos.
"É importante que a gente não tenha preocupação com as bravatas do Trump, que a gente discuta o que é importante para nós e para o mundo. Não é o mundo que precisa dos EUA, os EUA também precisam do mundo, precisam conviver harmonicamente com Brasil, México, China. Ninguém pode viver de bravata a vida inteira", declarou.
"Ele (EUA) não pode agora mudar do país que vendia a ideia da paz para o país que vende a ideia da provocação, da discordância", afirmou Lula.
"Não é um problema do Trump, esse é um problema que foi feito o acordo ainda na época do governo Temer, depois no governo Bolsonaro, e foi feito ainda no governo Biden. É um acordo de deportação que aqui nós tratamos como repatriação", disse o presidente brasileiro.
As deportações viraram um assunto importante na política brasileira depois de a Polícia Federal (PF) intervir contra um avião norte-americano que trazia brasileiros acorrentados de volta para o País.
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