Pernambuco - A mãe do menino Miguel, morto em 2020 ao cair do 9º andar de um prédio de luxo em Recife, tirou nota máxima em seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), apresentado nesta terça-feira (10). Mirtes Renata Santana, de 38 anos, passou a estudar Direito após a morte de seu filho. Atualmente, ela trabalha como assessora parlamentar na Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe).
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O tema do trabalho da ex-doméstica foi "Trabalho Escravo Contemporâneo e Direitos Fundamentais: uma análise da proteção constitucional com foco nas trabalhadoras domésticas".
"Essa escrita não foi fácil. Finalizei esse trabalho às vésperas de completar cinco anos sem meu filho, com as emoções à flor da pele, cada linha escrita carregava uma lágrima de dor, de raiva, de revolta e do cansaço de tantas noites mal dormidas", escreveu no Instagram.
Em sua pesquisa, Mirtes se aprofundou nas histórias de Madalena Gordiano, viveu em situação análoga à escravidão por 40 anos, e de Sônia Maria de Jesus, que foi escravizada por 37 anos, em Santa Catarina.
Depois da apresentação do TCC, outra data importante para Mirtes é dia 16. O Ministério Público de Pernambuco tem até essa data para se pronunciar sobre as responsabilidades penais da ex-patroa dela, Sari Corte Real, em relação à morte do garoto.
Abandono e morte
O caso chocou o país. Naquele 2 de junho de 2020, em plena pandemia, a creche de Miguel estava fechada. Por isso, ele teve que ir com a mãe para o trabalho dela, no apartamento de Sari, em uma torre de luxo no centro do Recife.
A patroa ficou incomodada com os pedidos do menino para ficar com a mãe, que tinha recebido ordem para passear com o cachorro da casa. Segundo as imagens do circuito interno do prédio, o garoto foi deixado sozinho por Sari dentro do elevador.
Ele subiu para a área da cobertura, e foi de lá que ele caiu. Miguel chegou a ser atendido, mas não resistiu aos ferimentos. Durante a última semana, foi feito um ato em frente ao local da morte.
'Racismo'
Mirtes também não descola o olhar sobre o andamento do processo, o qual considera "moroso" e "racista". Ela acredita, inclusive, que o caso só terá uma conclusão depois que chegar ao Superior Tribunal de Justiça, em Brasília.
"O que vem acontecendo hoje é um absurdo. O Tribunal de Justiça de Pernambuco está beneficiando a Sari. Está dando a ela o privilégio de seguir a vida como se nada tivesse ocorrido", lamentou, em entrevista à "Agência Brasil".
Entre as queixas, Mirtes cita que a ex-patroa, mesmo condenada, conta com privilégios de não ter o passaporte apreendido e não atualizar informações sobre o endereço de residência. Mirtes ficou inconformada ao saber que, inclusive, Sari está cursando medicina.
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