Redação tem um grande peso na prova por ser a única parte possível de gabaritar Freepik
O tema sobre o qual o estudante deve escrever é revelado apenas no momento de abertura do caderno de questões. O aluno deve encontrar tempo, em meio a prova de Linguagens e Ciências Humanas, para redigir um texto com introdução, desenvolvimento e conclusão. Em 5 horas e meia, é esperado que o candidato responda 90 questões objetivas e elabore uma prosa de no máximo 30 linhas.
Uma nota boa nessa parte do exame pode aumentar a média geral do candidato. Os pontos obtidos na redação podem ser um diferencial no desempenho final do estudante e garantir a vaga na tão sonhada federal.
Por esse motivo, O DIA conversou com três professores de Língua Portuguesa e redação, que têm décadas de experiência, para entender quais táticas podem ser usadas para tirar a nota máxima.
Dicas
1. Estude os eixos temáticos
Para Vinícius Oliveira de Lima, conhecido como "profinho" e autor do livro “Guia da redação nota 1000”, as minorias, a coletividade e o meio ambiente são assuntos que englobam boa parte dos temas que apareceram nos últimos anos. O professor dá alguns exemplos de como esses eixos já foram abordados na prova, como em 2018, em que a proposta foi “manipulação do comportamento do usuário pelo controle de dados na internet”, o que ressalta o aspecto da coletividade.
Segundo o influenciador digital de Educação, “se o aluno estiver preparado para esses três eixos temáticos, ele vai estar preparado para qualquer tema”. O "profinho" ainda ressalta que o estudante não pode ficar preso na tentativa de adivinhar o assunto a ser cobrado, mas deve se preparar bem para todos.
2. Escreva constantemente
De acordo com a professora Susanna Traiano, que leciona na Rede MV1, no colégio Santa Mônica e no curso pré-vestibular Gabaritô, o ideal é que o aluno esteja fazendo, desde o início do ano, pelo menos uma redação por semana. Para ela, nesta reta final, é importante que o estudante aumente a frequência da escrita.
“A redação do Enem é uma caixinha pronta. Se você entende como é o formato, consegue tirar uma boa nota”, complementa a docente.
3. Entenda o que é pedido
Para Rafael Ramos, professor da escola Tamandaré, do Instituto Marcos Freitas (IMF) e do Centro Educacional Marapendi (Cemp), é preciso que o aluno conheça a estrutura do texto. Segundo ele, entender o que é tese, embasamento e repertório sociocultural faz com que o estudante se saia melhor na produção textual.
Segundo o professor Vinícius Oliveira, alguns repertórios que podem ser interessantes são tratados internacionais, séries, filmes, livros e leis. De acordo com ele, não faz sentido o aluno decorar “coringas” (frases prontas) para usar no texto, porque a relevância da referência para a tese defendida é avaliada na correção.
Dificuldades dos alunos
Para a estudante Sofia Lancellotti, de 17 anos, a maior preocupação na hora de escrever a redação é organizar bem as ideias.
“Passar a ideia para o papel, na estrutura da redação do Enem, é muito difícil para mim. Eu tenho buscado treinar bastante para ganhar confiança e não travar no dia da prova”, afirma a aluna.
“Outra coisa que me aflige é a proposta de intervenção, no final do texto. É algo que precisa ser muito detalhado. Eu sempre exercito mais essa parte quando faço meus textos para conseguir expor meus pensamentos de forma clara”, complementa Sofia.
O tema da redação é sempre um mistério para o aluno. Por ser revelado apenas no dia da prova, estudantes e professores sempre tentam adivinhar a escolha da banca examinadora. Há quem consiga a proeza de acertar o assunto cobrado no exame, mas o Enem tende a surpreender na criatividade.
Formada em Letras pela UFRJ, com 21 anos de experiência, a educadora Susanna Traiano aposta no tema da influência da internet na formação do público infantojuvenil. Ela lembra de alguns episódios que ocorreram durante esse ano que podem ter incentivado os avaliadores a decidir por esse assunto.
“A série “Adolescência”, da Netflix, foi muito comentada no início do ano. A questão do vídeo do youtuber Felca, que denuncia a exploração e sexualização de crianças no ambiente virtual, também retoma a temática abordada no seriado”, justifica a docente.
Conhecido como “profinho” no mundo digital, Vinícius Oliveira, o primeiro professor a tirar nota 1.000 na redação do exame, diz que é muito provável que o tema envolva a inclusão de pessoas neurodivergentes na sala de aula.
“O próprio Enem, de uns anos pra cá, desenvolveu políticas públicas de inclusão para a população com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Em 2017, o Inep adaptou a prova para pessoas surdas, e esse acabou sendo o tema”, observa o mestre.
O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) é o órgão responsável pela realização do exame nacional.
Para Rafael Ramos, professor de redação que também é corretor do Enem, “os efeitos da proibição do uso de celulares na sala de aula” pode ser um forte candidato nesta edição. Ele explica que já viu reportagens que mostraram os benefícios que a não utilização dos aparelhos eletrônicos pode trazer ao ambiente de ensino, o que torna o assunto relevante para uma prova nacional.
Critérios de avaliação
Os corretores da redação do Enem avaliam o desempenho do candidato de acordo com cinco competências.
A primeira delas é a demonstração de domínio da modalidade escrita formal da Língua Portuguesa. De acordo com esse critério, o aluno precisa mostrar ao avaliador seu conhecimento acerca das questões gramaticais (concordância verbal, uso da vírgula e acentuação).
O segundo critério diz respeito à aplicação de conceitos das várias áreas de conhecimento para desenvolver o tema da redação. O estudante deve utilizar o repertório que construiu durante sua formação para desenvolver o assunto proposto pela prova.
A seleção e organização de informações, fatos, opiniões e argumentos em defesa do ponto de vista (tese central) do candidato será avaliado por meio da competência III. É esperado que o aluno tenha um projeto de texto bem estruturado e aprofundado. O corretor quer perceber que o estudante sabe do que está falando. A banca examinadora preza pela “marca de autoria” do candidato.
O conhecimento dos mecanismos linguísticos necessários para a construção da argumentação também serão considerados. Na competência IV, o examinado precisa demonstrar que consegue construir um texto coeso a partir do uso de pronomes, advérbios e outros recursos responsáveis pelo encadeamento de ideias.
O quinto critério avaliado é a proposta de intervenção. Nela, é necessário que o estudante consiga pensar em um plano de ação para mudar o problema apresentado. Nesse sentido, o Inep reforça que é indispensável que os direitos humanos sejam respeitados no projeto apresentado pelo aluno.


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