Lula (PT) voltará a comandar o país a partir de 1º de janeiro. Em uma vitória por uma diferença de pouco mais de 2 milhões de votos, o primeiro presidente eleito para um terceiro mandato terá a missão de unificar um país dividido, ainda sofrendo os efeitos da pandemia, e com um congresso empoderado.NELSON ALMEIDA / AFP

O ano de 2022 foi marcado por eleições disputadas voto a voto. No fim, Lula (PT) foi consagrado para um terceiro mandato, por uma diferença de apenas 1,8%, a menor desde a redemocratização. No Rio de Janeiro, o pleito foi encerrado ainda no primeiro turno, com a recondução do governador Cláudio Castro (PL) por 58,69% dos votos válidos. A primeira derrota de um presidente no cargo desde o advento da reeleição trouxe ainda inéditos protestos de apoiadores de Jair Bolsonaro (PL), que passaram a acampar em frente a quartéis pedindo intervenção. Relembre outros fatos que se sobressaíram neste ano.


Não se reelegeu
Diferentemente de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), Lula (PT) e Dilma Rousseff (PT), Jair Bolsonaro (PL) entra para a história como o primeiro presidente que não conseguiu se reeleger, estando no cargo. Com 49,10% dos votos válidos no segundo turno, ele foi derrotado por Lula.

Terceiro mandato
Depois de deixar o Palácio do Planalto com uma aprovação de 87% e eleger sua sucessora, Dilma Rousseff (PT), Lula (PT) voltará a comandar o país a partir de 1º de janeiro. Desta vez, no entanto, os desafios são maiores. Em uma vitória por uma diferença de pouco mais de 2 milhões de votos, o primeiro presidente eleito para um terceiro mandato terá a missão de unificar um país dividido, ainda sofrendo os efeitos da pandemia, e com um congresso empoderado.

Titular absoluto
Cláudio Castro (PL) foi reeleito governador do Rio de Janeiro, com 58,69% dos votos. O índice se aproxima do conquistado por Leonel Brizola em 1990, que foi escolhido por 60,88% dos fluminenses em 1990. A consagração pelas urnas dá peso político a Castro, que chegou ao poder após o processo de impeachment de Wilson Witzel.

Frente ampla
A união de Lula (PT) com Geraldo Alckmin (PSB) desagradou setores da esquerda à centro-direita, mas botou em prática uma inédita frente ampla. Mais do que um aceno ao centro ideológico, a aliança é também uma forma de garantir governabilidade à próxima gestão. Ex-governador de São Paulo, o vice-presidente eleito é o coordenador da transição.

Fora da política
Depois de uma campanha acirrada nas prévias tucanas para se tornar o nome do PSDB à presidência, João Doria desistiu. Ele havia renunciado ao governo de São Paulo para poder concorrer, mas a candidatura não decolou, e o partido seguiu com Simone Tebet. Em outubro, Doria anunciou sua desfiliação.

Da Presidência para o Senado
O ex-juiz Sérgio Moro (União/PR) lançou-se formalmente na política com a filiação ao Podemos. Ele se apresentou como pré-candidato a presidente, mas, embora tenha atraído para o partido quadros como o ex-procurador da Lava-Jato Deltan Dallagnol, a postulação não se consolidou. Foi para o União Brasil, e elegeu-se senador pelo Paraná, apoiando Jair Bolsonaro (PL).

Desidratado
O ex-governador do Ceará Ciro Gomes (PDT) concorreu em 2022 pela quarta vez à Presidência — a segunda consecutiva. A aposta em novamente se colocar como uma alternativa ao PT e a Bolsonaro, no entanto, não foi bem recebida pelo eleitorado. Ele perdeu 10 milhões de eleitores de uma eleição para a outra, e terminou o primeiro turno com 3,04% do votos válidos, atrás de Simone Tebet (MDB).

Mais um cassado
Visto como um potencial puxador de votos para a legenda do PL, Gabriel Monteiro foi alvo de uma série de denúncias de abuso. Ele acabou sendo o segundo vereador do Rio cassado por seus colegas, com apenas dois votos a seu favor. Em decorrência das investigações, o ex-PM foi preso preventivamente, acusado de estupro.

Tiros em Comendador Levy Gasparian 
Preso preventivamente em setembro de 2021, acusado de atentar contra a democracia, Roberto Jefferson (PTB) protagonizou momentos de muita tensão em sua casa no interior do Rio, depois de descumprir medidas cautelares. Recebeu a bala os agentes da Polícia Federal convocados para conduzi-lo novamente ao presídio, e agora é réu por tentativa de homicídio.

Violência política
Os primeiros sinais de ânimos extremamente acirrados vieram do Paraná, quando o dirigente petista Marcelo Arruda foi assassinado em sua festa de aniversário. Ao crime, seguiram-se mais exemplos em que a divergência ganhou contornos violentos. Após a eleição, eleitores inconformados com o resultado bloquearam estradas pelo país, algo inédito na história.

O dono do martelo 
O ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes começou a ganhar protagonismo no mundo político ao ser designado para relatar o inquérito das fake news. Neste ano, no entanto, ele esteve no centro dos acontecimentos ao passar a presidir o Tribunal Superior Eleitoral. Entre as decisões tomadas pelo ministro, estão o bloqueio de perfis nas redes sociais e a aplicação de multa ao PL, em ação na qual o partido pedia a invalidação dos votos de 279 mil urnas.

Crime no Vale do Javari
Em junho, o mundo ficou de olho no Brasil por causa de uma tragédia: o desaparecimento — e assassinato, como foi descoberto depois — do indigenista Bruno Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips. O crime causou comoção internacional e expôs o país, novamente, a críticas pelo enfraquecimento das políticas de preservação ambiental.

Benesses em ano eleitoral 
Aumento temporário do Auxílio Brasil, Bolsa-caminhoneiro, e Auxílio-táxi: embora o aumento de despesas em ano eleitoral seja proibido, em 2022 eles saíram do papel graças à Emenda Constitucional 123/2022. O pacote de bondades, que estabeleceu estado de calamidade, ganhou o apelido de PEC Kamikaze.

De secreto a inconstitucional
Na teoria, um mecanismo para pequenos ajustes no orçamento federal. Na prática, um montante bilionário reservado para parlamentares da base levarem recursos a seus redutos eleitorais. As emendas de relator — ou orçamento secreto, por causa da falta de transparência — dominaram a relação entre o Congresso e o Poder Executivo. Mas no fim do ano, o STF, por maioria, decidiu que o dispositivo é inconstitucional.

Condenada
Dois anos após o assassinato do pastos Anderson do Carmo, a sua mulher, a ex-deputada federal Flordelis, foi condenada a 50 anos de prisão. A cantora gospel foi denunciada como mandante do crime, ocorrido na casa onde o casal vivia com a extensa família, em Niterói.