Qual é o perfil do professor do século XXI? Essa pergunta abre uma série de debates que a coluna irá promover sobre Educação pós-Covid-19
Por Thiago Gomide
De tempos em tempos, surgem cursinhos pré-vestibulares badalados. E caros, evidentemente.
Um público de ávidos estudantes - e orgulhosos pais - promove uma verdadeira fila indiana por uma cadeira ao sol. Interpretam que essa é a forma mais fácil de encontrar o Olimpo, ou seja, a Universidade dos sonhos.
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Alguns cursinhos morreram. Alguns cursinhos mudaram de nome. Alguns cursinhos continuam aí, vendo a concorrência dar um “alô, a mãe tá on”.
Com o universo digital, a competição ganhou novas cores. Novos pensamentos. Novas propostas. E, o mais delicado, novos preços.
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A escalabilidade promove um arrasa quarteirão. Em um ambiente pode-se ter cem, duzentos, trezentos alunos on-line. O céu é o limite.
Em 2011, o portal Descomplica foi um dos pioneiros em mapear um fenômeno que hoje é fácil de perceber: existe uma massa de estudantes que aproveita a web para se dedicar às aflitivas provas.
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Mais: essa turma ama um vídeo bem feito, uma aula ao vivo onde tudo pode acontecer e um professor aloprado para chamar de seu. A qualidade e os resultados, óbvio, não podem estar desassociados.
O ensino a distância tem suas características e vai muito além do, parafraseando o Cinema Novo, “um pilot na mão e uma decoreba na cabeça”.
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Muito comum perguntarem se é igual aos cursos premiums.
Evidente que a proposta e o público são diferentes. Em um olhar mais amplo nem se cruzam. Só que tem aquela máxima: o que só se deseja uma parcela considerável é a aprovação e, acontecendo isso, pode ser até por meio da pedra lascada.
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Cria do pH, Rafael Cunha já defendeu o contracheque sendo professor dessa instituição, diretor do Colégio Pensi e atualmente pagas as contas como “Presidente [General Manager] da Business Unit de Preparação para Exames Vestibulares do Descomplica”.
É assim que ele se descreve no Linkedin, famosa rede de trocas de contatos e exposição da carreira e pensamentos.
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Vou traduzir, caro leitor e cara leitora: ele apita nas quatro linhas do Descomplica, que conta com cerca de 300 mil estudantes que desembolsam nem vintão reais para ter o sagrado contato aos conteúdos. São mais de 3 milhões de acessos por mês.
O historiador inglês Eric Hobsbawm disse que o século passado começou a partir da Primeira Guerra Mundial, em 1914. Há quem defenda que o século XXI só está começando agora, com a virada da Covid-19.
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Certos ou não, concorde ou não, o que está riscado na mesa é que o digital, antes visto como já um processo sem volta, agora foi turbinado com um motor de Mercedes. E não falo do busão, falo da velocidade do carro de corrida do Lewis Hamilton.
De olho no alto ( alerta de piada,ok?) salário de professor e na empregabilidade (alerta de contas que não param,ok?), este colunista fez quatro perguntas para Rafael Cunha sobre o perfil do professor do século XXI.
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Rafael está estudando e debatendo a pedagogia digital. Vale a pena acompanhar o que o rapaz anda fazendo.
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Coisas do Rio – Qual é o perfil do professor do século XXI?
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Rafael Cunha – Sem querer entrar nos clichês que o professor não é mais um detentor do conhecimento e que o aluno deve estar no centro da aprendizagem, o professor precisa, na prática, ser um sedutor. O que é seduzir? E vamos tomar cuidado com essa palavra, porque dependendo do contexto pode soar mal. O professor precisa ter conteúdo muito apurado, um domínio do conteúdo, mas conteúdo não é necessariamente mais importante do que forma.
Coisas do Rio – Qual forma?
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Rafael Cunha – Quando falo de forma tem a ver com didática, comunicação, engajamento. Essa é a palavra máster. O professor do século XXI é um professor que, além de dominar o conteúdo, consegue engajar. O que faz com que uma instituição de ensino seja vitoriosa nesse cenário digital é o tempo daquele aluno, que aquele aluno, que tem um milhão de séries para assistir no NetFlix, prefira ficar uma, duas, três, dez horas assistindo aulas e consumindo conteúdos do que fazendo outras coisas que seriam mais prazerosas e menos construtivas. A palavra chave é engajar.
Coisas do Rio – E como o professor pode engajar?
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Rafael Cunha – Um professor pode engajar de várias formas. Existe professor que engaja porque sabe brincar de modo inteligente. O professor que usa a diversão como forma de engajamento. Isso é ótimo. Têm professores que engajam pela forma com que eles conseguem mostrar o conteúdo interessante. Existem professores que conseguem engajar porque usam técnicas de storytelling sensacionais. Eles conseguem contar histórias do que está acontecendo na humanidade, em especial das ciências humanas, e associar aquilo na disciplina. As pessoas se conectam por histórias. Seja pelas brincadeiras, seja pela capacidade de associar ao cotidiano, seja pelo uso de storytelling, e eu estou dando três exemplos entre inúmeros...Professores que engajam são considerados bons no século XXI.
Fizemos uma quarta pergunta sobre a empregabilidade. O quanto se aprofundar nos recursos e pedagogias digitais vão ser importantes para se estabelecer na carreira.
Algum leitor pode estar refletindo: "bem, vou tirar meu filho do colégio e inscreve-lo em algum cursinho pré-vestibular online, pagando infinitamente menos. Me dei bem. Obrigado, Coisas do Rio".
Calma. Esses cursos são ofertados para quem já se formou ou está fazendo uma preparação paralela.
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Não oferecem um diploma de terceiro ano, por exemplo.
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Essa coluna é dedicada ao professor Rubens Oda, craque da biologia e da conversa.