Paulo Gustavo morreu aos 42 anosReprodução
Por Thiago Gomide
Publicado 04/05/2021 23:50 | Atualizado 05/05/2021 00:00
Em Ipanema, um teatrinho era considerado o pé de coelho da classe artística, em especial a emergente. Se fizesse uma boa temporada no Candido Mendes, ligado à centenária universidade, a chance de estouro era multiplicada. Foi assim com Mônica Martelli. Foi assim com “O Surto”, de Wendell Bendelack, Rodrigo Fagundes e Samantha Schmutz ( depois ela sairia). Foi assim com Paulo Gustavo.
2005 foi inspirador para quem é rato de tablado. Além dos festivais de esquetes ( Viva Laura Alvim!), peças e talentos ocupavam uma cidade que, inversamente ao esperado, se reergue contra tudo e todos. Naquele ano era estagiário da RedeTV!, cuidando de toda área cultural da emissora. Desta forma, era por prazer e por ofício que rodava das badaladas às improvisadas peças. Os convites não paravam de chegar à redação.
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No Candido Mendes, fui à várias montagens, mas não à de Paulo Gustavo. Sempre muito cheia, “Minha mãe é uma peça” foi ficando para depois. E o depois nunca chegava - e nunca chegou. Na agenda cultural do “Notícias RJ”, indiquei inúmeras vezes o sucesso da temporada, escrevendo sobre as filas e o público jovem, como eu, se misturando às tradicionais “senhoras da van”.
Seguindo a lógica, o pedaço ficou pequeno e a engraçada mãe ganhou novos ares e novos fãs. O que prosperou em Ipanema parou na telona e na telinha. Paulo Gustavo ultrapassou o papel. Se tornou grife. Mostrou aos críticos que era mais que um só excelente personagem.
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Com o tempo, o Candido Mendes foi perdendo força e a fama de talismã, mas a geração dele ( que é a mesma que a minha) eternizou aquele cantinho, reforçando mesmo sem querer a importância do espaço universitário para os múltiplos desenvolvimentos. Desenvolvimentos dos estudantes aos espectadores de uma inesquecível peça, dos professores à quem testemunhou estrelas nascerem e mudarem de lugar.
Além do evidente reforço do perigo da Covid-19, a morte de Paulo Gustavo aponta os holofotes para diversas realidades, entre elas a que o Rio de Janeiro dos últimos anos está se distanciando daquele que era o celeiro dos encontros inusitados, das peças que nos tiravam do eixo, dos teatros que uniam os diferentes. Que seja o símbolo de uma retomada. Ele merece nos ver rir novamente.

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