Vereador Pedro DuarteDivulgação

A operação dos trens mudará de mãos mais uma vez, mas antes haverá um período de transição, em que o Governo do Estado vai supervisionar a gestão, a cargo atualmente da Supervia. O discurso oficial diz que, através desse acordo, será garantida a continuidade do sistema, enquanto se elabora um novo processo de concessão que vise “melhorar o serviço”. Será? Levando em conta o modo como o desafio foi enfrentado até hoje, corremos o risco de uma nova gambiarra para sanar um problema que se estende pelos longos trilhos da ineficiência do governo.
Senão, vejamos: a SuperVia transporta, em média, 306 mil passageiros por dia, operando 270 quilômetros de trilhos e 104 estações. Os problemas, contudo, acompanham o tamanho desse sistema: vagões lotados, atrasos frequentes, furtos de cabos e metais, além de tarifas elevadas. Com a passagem a R$ 7,10, o custo pesa no bolso do trabalhador, enquanto o serviço continua precário.
Diante desse cenário, o governo promete um período de transição de até nove meses, com supervisão direta por meio de observador nomeado para monitorar decisões operacionais e financeiras. Serão investidos R$ 300 milhões para manter o funcionamento do sistema enquanto isso. Acontece que permanecem sem solução clara as questões estruturais do transporte ferroviário.
A decisão do governo de assumir diretamente o controle da operação só reforça o cenário de desorganização que impera há anos. Desde 2023, quando a controladora da SuperVia, a japonesa Mitsui, desistiu da concessão, ficou claro que as ineficiências não se restringem à concessionária. A pandemia, os prejuízos financeiros e o aumento de furtos de cabos e trilhos foram fatores apontados pela Mitsui, mas é impossível ignorar que grande parte dessas dificuldades reflete a incapacidade do governo em garantir a segurança para que a empresa opere adequadamente.
O governo critica o modelo vigente e transfere o ônus à concessionária, mas cabe perguntar: onde estava o Poder Público para fiscalizar, apoiar e atuar preventivamente? O papel do Estado não é gerir diretamente os trens — tarefa que exige expertise e recursos que o governo não possui —, mas, sim, elaborar um edital robusto, que priorize a modernização, garantindo que a próxima concessionária tenha condições reais de oferecer serviço de qualidade.
A contratação da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) para estudos técnicos pode ser um passo na direção certa, mas preocupa a falta de transparência sobre como essas informações serão incorporadas ao novo edital. É preciso mais do que promessas genéricas: o governo deve assumir suas responsabilidades como regulador, assegurando que a próxima concessão seja bem estruturada.
Não podemos repetir os erros do passado. A nova concessão deve ser planejada com um edital robusto, metas claras de qualidade e fiscalização eficaz, além de um processo de escolha transparente, garantindo transporte digno e eficiente para os milhares de cariocas que dependem desse modal. Essa transição precisa ser a oportunidade de transformar o caos em eficiência, com integração real entre os poderes municipal e estadual. Do contrário, quem continuará pagando a conta será o cidadão.