Pedro Duarte afirma que, com a recente revisão do Plano Diretor, o foco agora é garantir que suas diretrizes saiam do papelFoto Divulgação
Os cariocas têm enfrentado ondas de calor extremo este ano, com temperaturas acima de 40°C e sensação térmica superior a 50°C. Esse fenômeno serve de alerta para a necessária adaptação da cidade ao clima cada vez mais quente. Projeções indicam que, até 2050, as temperaturas seguirão subindo, agravando problemas de saúde pública e aumentando o consumo de energia.
As internações por desidratação e doenças cardiovasculares aumentam durante as ondas de calor, afetando principalmente idosos, crianças e trabalhadores ao ar livre. Sem medidas urgentes, o calor excessivo comprometerá ainda mais a qualidade de vida da população no Rio de Janeiro.
Vejam só: um estudo da Fundação Parques e Jardins aponta déficit de 800 mil árvores na cidade do Rio, afetando bairros como Bangu e Irajá, que sofrem com a escassez de vegetação. O Plano Diretor de Arborização Urbana, aprovado em 2015, estabeleceu metas para plantio e manutenção, mas, desde então, sua implementação tem sido feita numa velocidade insuficiente.
Para mitigar esse cenário, é necessário desburocratizar o plantio de árvores e incentivar a participação popular. A criação de corredores verdes e a arborização de praças podem reduzir a média da temperatura em até 5°C, melhorando o conforto térmico urbano. Essas ações devem incluir também as favelas, onde a falta de vegetação agrava os efeitos do calor extremo.
Uma solução eficaz, já aplicada na Índia, é a pintura de lajes com tintas refletivas. Em Nova Délhi, essa técnica reduziu a temperatura interna das moradias em até 3°C. No Rio, isso seria crucial para as favelas, onde milhares de casas com lajes expostas ao sol se tornam fornos no verão. Com um programa público acessível, essa tecnologia poderia aliviar as famílias que mais sofrem com o calor intenso.
A cidade também pode investir em telhados verdes e fachadas sombreadas, soluções já bem-sucedidas na Alemanha e França. Tetos cobertos por plantas reduzem a temperatura interna das construções e melhoram a umidade do ar, enquanto fachadas com vegetação ajudam a bloquear a radiação solar, tornando os ambientes mais frescos. Essas medidas seriam úteis em prédios públicos, escolas e hospitais, além de serem incentivadas em novas construções e reformas.
É fundamental também reforçar a fiscalização contra o desmatamento urbano. O avanço das construções irregulares e obras sem planejamento resultam na derrubada de árvores sem a compensação adequada. Sem proteção, a cidade continuará perdendo áreas verdes, agravando as ilhas de calor.
Projetos de parques urbanos e reflorestamento massivo são essenciais para amenizar o calor e melhorar a qualidade ambiental. No entanto, até em novos parques, a falta de plantio adequado compromete seus benefícios. O Rio de Janeiro precisa transformar seus espaços públicos em aliados no combate às altas temperaturas.
Diante disso, é urgente agir para evitar que a cidade se torne inabitável nos períodos mais quentes. As soluções existem e são acessíveis ao Poder Público. Mas é necessário que o planejamento urbano priorize sempre o bem-estar dos cariocas. Precisamos de uma cidade mais verde e menos sufocante. Precisamos de sombra, árvores e, principalmente, de ação!
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