Pedro Duarte afirma que, com a recente revisão do Plano Diretor, o foco agora é garantir que suas diretrizes saiam do papelFoto Divulgação
A fusão do Estado da Guanabara com o Estado do Rio de Janeiro foi oficialmente realizada em 15 de março de 1975, e, exatamente 50 anos depois, ainda nos perguntamos se a promessa de maior desenvolvimento político-econômico para a região se concretizou de fato. Na ocasião, o Rio era uma cidade-estado independente, mas, com a mudança, foi reintegrado ao território fluminense, do qual havia se separado ainda no século XIX. Não é simples a análise sobre os efeitos dessa “integração”...
Em primeiro lugar, sabemos que a fusão foi motivada principalmente por objetivos econômicos e políticos. À época, a Guanabara era uma cidade predominantemente urbana, com forte presença da administração pública federal e economia voltada para comércio e serviços. Já o Estado do Rio possuía realidade mais rural e industrial, com destaque para regiões como Volta Redonda. O objetivo oficial era unir essas realidades distintas em busca de desenvolvimento mais uniforme, embora houvesse interesse político em reduzir o peso da oposição concentrada na capital.
Passados 50 anos, muitos problemas persistem, e, em alguns casos, eles se agravaram. A integração econômica prometida não aconteceu como esperado: relegado a um papel de coadjuvante, o interior foi deixado à própria sorte muitas vezes; e a cidade do Rio de Janeiro perdeu autonomia financeira e política, sem ao menos ter recebido uma justa compensação pela perda do status de capital federal. Em vez de impulsionar o desenvolvimento, a fusão resultou em dificuldades financeiras, crises frequentes e sérios desafios de governança.
Um exemplo claro desses problemas é a gestão do transporte público. Apesar de ser concessão estadual, o metrô tem linhas restritas à cidade do Rio de Janeiro, e, sem integração tarifária entre esse modal, os trens e os ônibus municipais, o transporte fica caro e pouco eficiente para o cidadão que se locomove entre um município e outro da Região Metropolitana. Nesse ponto, está mais do que claro que o desafio da mobilidade precisa ser pensado sob uma perspectiva metropolitana.
Tais conclusões não significam que a fusão tenha sido totalmente negativa, mas revelam a necessidade urgente de repensar o modelo de governança do Rio. Em vários países, grandes cidades têm um status especial, como Buenos Aires na Argentina, ou as diferentes capitais administrativas na Alemanha e África do Sul. Essa autonomia maior permite gerenciar melhor os recursos e resolver problemas locais mais rapidamente.
Mas essa discussão precisa envolver também todo o estado. Não basta apenas recuperar a autonomia do Rio; é fundamental garantir uma verdadeira integração metropolitana e promover o desenvolvimento equilibrado de todo o território fluminense. Políticas públicas conjuntas entre os municípios da Região Metropolitana do Rio e o interior são essenciais para enfrentar os desafios econômicos e sociais.
Cinquenta anos depois, é necessário discutir abertamente o futuro do Rio. Recuperar parte da autonomia perdida é importante. Garantir um desenvolvimento equilibrado para todo o estado é essencial. Este é o debate que precisa ser feito hoje, pensando na qualidade de vida e no futuro de todos que vivem aqui.
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